Os ausentes
Rivaldáver Peixoto
Correndo atrás de si mesmo
Atropele a ideia de um mundo
sem medo
Esbarrando nas paredes de
metal
Não se iluda com espaços
envidraçados
um susto, um pulo,
puta que pariu
Passou da hora.
Perde-se o emprego
Abrir a porta
é a descoberta de um outra
hora
Uma hora que nunca viu
Hora em que as crianças
jogam bola
Correndo atrás da imagem
perfeita
da biografia escolhida
do ideal sugerido nos livros
e gesto imitado
Correndo atrás de nada
O medo de ser
O medo do espelho
E quem vive o pensar obtuso
prisioneiros de fato
(estes sim, presos)
Ausentes do ser e da
personalidade
Glug-glug
O mergulhar na garganta
de olhos fechados
Tibum, cair em desertos
em outras vastidões isoladas
cercado de igualdades
em cima de igualdades
debaixo de igualdades
Ridícula ansiedade,
ansiedade de viver
Isto é a vida
Segredo da noite e do dia
Amigo, por que forçar os
dias?
Por que querer apressá-los?
Vamos viver
Mesmo sem bicicleta pra
passear
Mesmo sem manteiga no pão
Quando conheci meu filho
dois anos depois
quis abraçá-lo e não pude
duas paredes de grades
nos separavam
Nós dois sorríamos
Queria lhe dizer qualquer
coisa
Não soube falar
Não houve espaço para ficar
As mãos guardei-as no espaço
onde poderia abraçá-lo
Ele também me quis falar –
sei disso
Riu e passou a mão no rosto
da mãe
As pessoas falavam
Eu respondia
sem saber o que dizia
Nunca soube dizer nada