quarta-feira, 31 de maio de 2017

A OBRA PERFEITA






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Não terminada  


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A idade do escritor







Rufino Fialho Filho



Há escritores que começam a sua produção literária aos 50, outros aos 60. E existem outros aos 70 anos. Pedro Nava é um desses escritores excepcionais, um ser de exceção. Suas produções são, na aparência, inexplicáveis.

Eles são caudalosos.

Causam admiração e os editores têm talento para explorar a imagem literária.

Se bons escritores, elas nadam de braçada, é sopa no mel, é ir para a rua e faturar.

O foco concentrar-se-á naquele velho autor, agora apontado como um fenômeno.

E a primeira abordagem do caso não é sobre seus reais valores estéticos, às vezes, marketeiramente, mantidos em segundo plano.

A primeira abordagem é em cima da idade.

Sempre se produzirá belas fotos e alguns sobreviventes deste percurso poderão ser resgatados em suas tocas, camas, hospitais, asilos e serão memoráveis em suas recordações, outros, mais atilados, já deixaram suas publicações ao longo do longo tempo e poderão ser resgatados, alguns justificando, até mesmo, belas e vantajosas reedições.


Estes fenômenos literários têm claras explicações.

Uma delas é o grande laborar, não são obras tardias ou autores tardios.

São obras que demorariam décadas sendo pensadas, pesquisadas, escritas e reescritas: Pedro Nava.

São autores sem outros interlocutores. Não há, naquele momento, quem os ouça ou que tenham interesse em perder tempo ouvindo um velho cheio de histórias e repetindo, esmerilando, lapidando suas histórias.

Muitos dos seus amigos e contemporâneos já não estão mais presentes, os que restam são limitados em seus espaços e o que lhes restam de tempo ficam presos a grupos vestidos de brancos ou que não podem acompanhá-los numa caminhada maior do que a do quarto ao banheiro, à sala de televisão ou à mesa do almoço e do jantar.

Estes autores, com suas publicações, são capazes de forjar novos interlocutores e reatam, por suas capacidades, a interlocução com a vida, com o presente, mas miraram, com toda certeza, um interlocutor futuro.


Outra explicação é a visão da atividade literária contida nesta atitude.

Eles sabem e sabiam que a relação com a produção literária numa idade muito jovem implica numa transação mais intensa, onde a interatividade implicaria uma hiperatividade, não apenas, na submissão ao tempo e às pessoas, em um julgamento das pessoas e da hora.

Mais grave, implicaria em divórcio com o escritor que se constrói, como um ser inacabado, sempre um ser inconcluso.



Há aquele momento em que tudo o que era possível fazer está feito e não há mais nada a esperar e o mais perfeccionista, quase todos o são, sabe também que o homem não, a obra, sim, esta ainda poderá ser inacabada – agora, outros que a completem.


(Setembro 2003)