Não terminada
&
A
idade do escritor
Rufino Fialho Filho
Há
escritores que começam a sua produção literária aos 50, outros aos 60. E
existem outros aos 70 anos. Pedro Nava é um desses escritores excepcionais, um
ser de exceção. Suas produções são, na aparência, inexplicáveis.
Eles
são caudalosos.
Causam
admiração e os editores têm talento para explorar a imagem literária.
Se
bons escritores, elas nadam de braçada, é sopa no mel, é ir para a rua e
faturar.
O
foco concentrar-se-á naquele velho autor, agora apontado como um fenômeno.
E
a primeira abordagem do caso não é sobre seus reais valores estéticos, às
vezes, marketeiramente, mantidos em segundo plano.
A
primeira abordagem é em cima da idade.
Sempre
se produzirá belas fotos e alguns sobreviventes deste percurso poderão ser
resgatados em suas tocas, camas, hospitais, asilos e serão memoráveis em suas
recordações, outros, mais atilados, já deixaram suas publicações ao longo do
longo tempo e poderão ser resgatados, alguns justificando, até mesmo, belas e
vantajosas reedições.
Estes
fenômenos literários têm claras explicações.
Uma
delas é o grande laborar, não são obras tardias ou autores tardios.
São
obras que demorariam décadas sendo pensadas, pesquisadas, escritas e reescritas:
Pedro Nava.
São
autores sem outros interlocutores. Não há, naquele momento, quem os ouça ou que
tenham interesse em perder tempo ouvindo um velho cheio de histórias e
repetindo, esmerilando, lapidando suas histórias.
Muitos
dos seus amigos e contemporâneos já não estão mais presentes, os que restam são
limitados em seus espaços e o que lhes restam de tempo ficam presos a grupos
vestidos de brancos ou que não podem acompanhá-los numa caminhada maior do que
a do quarto ao banheiro, à sala de televisão ou à mesa do almoço e do jantar.
Estes
autores, com suas publicações, são capazes de forjar novos interlocutores e
reatam, por suas capacidades, a interlocução com a vida, com o presente, mas
miraram, com toda certeza, um interlocutor futuro.
Outra
explicação é a visão da atividade literária contida nesta atitude.
Eles
sabem e sabiam que a relação com a produção literária numa idade muito jovem
implica numa transação mais intensa, onde a interatividade implicaria uma
hiperatividade, não apenas, na submissão ao tempo e às pessoas, em um
julgamento das pessoas e da hora.
Mais
grave, implicaria em divórcio com o escritor que se constrói, como um ser
inacabado, sempre um ser inconcluso.
Há
aquele momento em que tudo o que era possível fazer está feito e não há mais
nada a esperar e o mais perfeccionista, quase todos o são, sabe também que o
homem não, a obra, sim, esta ainda poderá ser inacabada – agora, outros que a
completem.
(Setembro 2003)