sexta-feira, 24 de novembro de 2017

TODA A ALEGRIA


Viagem ao Centro da Terra, Júlio Verne.

La Troppa, Chile







De Letícia, o último beijo




 Fabrizio de Salina




- Você ganha mais de seis mil e não tem dinheiro porque tem que dividir com cinco famílias

Letícia recebera 500 reais para viajar; mesada adiantada. Havia ainda dúvidas se ela iria para a praia de Piúma, no litoral capixaba.

Não era a primeira vez que ela agredia o pai, discutindo dinheiro. Melhor, a falta de dinheiro. O pouco dinheiro que recebia para atender suas demandas e seus interesses.

Nervosa, ansiosa, controlada, ela deixava também transparecer uma conspiração, com a participação de muita gente, para extrair de alguma forma mais dinheiro do pai, mais dinheiro.


Outra cena registrada por Bitencourt, tempos atrás:

- Um beijo de despedida?

(Ele não pedia. Provocava)

Ela recusou e atacou.

- Eu só quero dinheiro. Se tiver dinheiro eu te dou o beijo.


Voltando, não houve despedida, com as brincadeiras do pai sobre como ela gastaria o dinheiro (para que fazer pé e unha, gastando 20 reais se você vai para a praia?) ou anarquizando os gastos (para que depilação; não use nem maiô, nem biquini, use short).

Ela explodiu indignada para que o pai debochado fosse logo embora.

- Sai, sai, vai embora logo. Saia.


Ela correu para fechar a porta, o pai segurou a porta com o corpo e pediu um beijo de despedida; ela recusou mais uma vez.

Depois, beijou o braço do pai.

“Quero no rosto”.

Ela afastou-se.

Saiu, como todo pai babaca. Assegurava-se que, depois deste episódio, nunca mais pediria um beijo.




Sensações paternais

1.

Não considere isto como dito por um pai (*), até porque como pai tenho registrado mais fracassos e derrotas. Um pai sem qualidade (não é rico). Um pai sem futuro (se esforça pouco, trabalha pouco, trabalha e não recebe, trabalha de graça).

Enfim, cara amiga (amiga?), um pai desajeitado. Um pai estabanado. Pior, debochado, irônico.


2.

Não considere isto como os esforços desajeitados de um amigo para reconquistar uma amiga. Até porque que amigo é este que sempre (?) está ausente?

E quando se precisa dele (do seu serviço) ninguém consegue localizá-lo.

Um amigo teria, enfim, atributos valiosos, seria uma pessoa exemplar, um ser diferente e a diferença seria o desprendimento, o estar sempre disposto a ouvir, a servir e a estar junto, capaz de entender pelas palavras, pelos gestos, pelos olhares e pela, inimaginável, paciência(**) todo oquerer do ser amigo amado.


3.

Não considere isto como explosão de um apaixonado por você, porque o sou. É também um defeito. Defeito meu. Diferente de muitos não sou um apaixonado pela sua beleza (Clara beleza). De fato, concreto e real, sou apaixonado por sua importância, valor, tudo, enfim, que você significa para mim.

(Como fui feliz todo o tempo que pudemos estar juntos, quanto fui feliz! Só eu sei e este tempo eu o recolho como a minha eternidade benfazeja.)



4.

Considere isto como uma reação verdadeira de um ser...(ia acrescentar humano, ser humano, na dúvida ontológica, valorizo o ser). O humano como adjetivo qualificativo seria agressivo, pretensioso ou debochado demais. Além da conta de que um debochado seria capaz.



5.

Ah! Minha paixão, minha amiga, minha filha, considere isto como a manifestação de um ser mineral, de uma pedra.

Uma pedra é uma imagem, um símbolo, muito importante para todos os homens. É até mesmo um símbolo de resistência como nesta atual guerra que a televisão nos mostra, entre árabes, palestinos, e judeus: de um lado, um povo armado com pedras e o próprio corpo, de outro um povo armado com todas as armas e tecnologias do mundo-moderno-insensível-e-desumano.

Considere esta manifestação, em busca de esclarecer fatos e aproximar-se da verdade como a manifestação não de um ser humano, mas de um ser íntegro na busca da verdade.

A manifestação de uma pedra, enfim.



6.

As principais questões do diálogo de ontem, 17 de abril, sábado, foram sobre valores entre o Edberto Soares e a filha Patrícia Soares:

- Você é ladrão!

(Não, não,não, não é exclamação. É afirmativa categórica, olho no olho)

- Você é ladrão.

Mais brando ou até mesmo mais cruel

- Você rouba para os outros!

(Isto é, você é um ladrão, mas o produto do furto não te pertence.Um ladrão incompetente e babaca).

Incapaz de roubar para si mesmo e mais grave ainda: burro.

- Você só quis comprar casas.......

(Casas? Casas roubadas? Por que quis comprar? Uma decisão baseada em que argumentos... só quis comprar casas, incompetente...)

Nestas afirmativas, independente de suas verdades, há embutido um juízo de valor que condena o ladrão, o roubo, o furto.

Edberto Soares reflete:

“A condenação pura, verdadeira, do furto é um posicionamento de valor em relação a uma atitude socialmente condenável: a sociedade, a reunião de pessoas, considera não apenas um crime, cujos códigos registram modalidades e penalidades correspondentes, como um ato moral condenável e que significa, em termos de personalidade a condenação de uma pessoa a carregar consigo, em si, um estigma, uma marca, uma personalidade, enfim, um caráter: o ser ladrão.”

“O ladrão, o homem que furta, rouba (***) ou que comete um latrocínio, isto é, mata para roubar, este personagem, muito presente na história do homem, carrega consigo a marca de uma violação elementar: a desonestidade?”

Edberto Soares contra reflete:

“Nem sempre, nem sempre, nem sempre, é sempre bom lembrar e aí teremos Ali Babá e suas fantásticas aventuras, Robin Hood, tirando dos ricos para distribuir aos pobres. Ou revolucionando o mundo, como o bom Lenine, que via nos banqueiros a essência verdadeira dos ladrões (perguntava o homem dos soviets: O que é um assalto a um banco diante de um banqueiro?).”  

“Antes de Lenine, Karl Marx, o jovem mouro, estudante ainda, eternamente estudante, descobrindo em suas reportagens sobre o furto de madeiras nas florestas da sua Renânia, que aqueles homens furtavam porque eles não podiam permitir que os donos das florestas roubassem deles a vida e a possibilidade de viver.”

“Um outro camarada, o bom e doce poeta Stalin com suas ações armadas e assaltos (expropriações) reuniu condições financeiras para se implantar no mundo a transformação mais radical da sociedade, em milhares de anos, dando início a uma das experiências mais fantásticas dos últimos 200 anos na organização social e econômica da sociedade dos homens.”


Tempos de prisão. Memórias de Edberto Soares:

Na Penitenciária, onde só existiam homens presos, condenados quase mil homens presos, havia uma mulher que fazia uma distinção entre os homens presos.

Ela os separava em duas categorias, os ladrões e os assassinos.

Dos ladrões, ela gostava, ela os protegia e os tratava de maneira totalmente diferente. Mais respeito, mais dignidade com quem rouba do que com quem mata.

Ela tinha suas razões fundamentadas.

Ignorava os assassinos e os odiava. Com eles tinha verdadeiras e loucas discussões. Esta mulher não tinha medo da morte e nem deles, os assassinos. Ela os desafiava.

O primeiro fundamento: Ninguém, segundo ela, tinha o direito de tirar (roubar) a vida de ninguém.

Ela, esta mulher, era uma freira.

Argumentava que a vida era um bem divino, um dom de deus (ela acreditava nisto).

Ninguém tinha o direito de tirar a vida de ninguém, um bem que deus deu ao homem.

Ela era dura com os assassinos.

Éramos, ali, todos criminosos, todos ladrões, pois até mesmo os assassinos eram ladrões de vida, tiravam do outro, da sua vítima, o bem mais precioso, por irrecuperável, a vida.

Ela insistia em que todos os seres dotados de vida eram seres criados, filhos, de deus.


Esta mulher, uma freira, com mais de 60 anos. Fisicamente fraca, corpo dobrado para a frente e caminhar lento.

De repente, você se encontrava diante dos seus olhos e explodia diante de si um rosto maravilhoso, cheio de vida, de coragem e de força.

Uma mulher pronta para a briga, pronta para o sorriso e a imensa alegria de viver. Estávamos diante da irmã Maria, da minha Julieta Bártolo.


- Perdoe o ladrão, sempre perdoe o ladrão, sejam generosos com os ladrões.

Sua voz surgia contra uma regra daqueles tempos, creio que ainda regra destes nossos tempos, em que na escala de valor, estabelecida pela justiça, o furto, o roubo, é um crime mais grave do que o assassinato.

Veja, como a questão dos valores pode ser discutida sem que ainda nos aproximemos do fundamental.

Edberto Soares registra:

Por que você acusa o seu pai de ser um ladrão e não o perdoa pelo furto, pelo roubo, que ele tenha cometido?

Você não admite amar um pai ladrão?

Assim, colocamos a questão do ser ladrão como indiferente da outra: ser pai.

Podia ser pai e ser um bruxo.

Podia ser pai e ser trapezista?

Podia ser pai e ser advogado?

Ser pai e ser canalha?

Ser pai e ser médico?

Há ainda uma possibilidade, poderia ser pai, ser ladrão e ser um homem digno, amigo, bondoso?

Talvez a condenação não esteja em que o seu pai seja um ladrão; mas em que ele seja o seu pai.


Edberto Soares conclui:


A condenação está em se ter o pai que não se queria ter.

Aquela permanente constatação em que ele desafia: descobri quem ele era.

Isto acontece com uma pessoa, hoje um pai, amanhã um namorado, um irmão, um amigo, um sócio, um companheiro de trabalho, um vizinho, enfim.

Estas descobertas, hoje, depois de muitas investigações sobre a alma humana e sobre os homens, não nos acanha e nem mais nos surpreende (*****).

Não se surpreenda com as pessoas (fuja da expressão: jamais imaginava de você fosse capaz disso).

Extraia sempre o máximo de informações sobre as pessoas, sabendo que tudo será possível na convivência.

Hoje, um bom caráter, amanhã talvez não.

Hoje, um péssimo caráter, um ladrão, amanhã Santo Agostinho.

Tenha paciência e compreensão com todas as outras pessoas, menos com o seu pai, eu o conheço bem, muito bem e sei o quanto ele não é deste mundo.

Há algo que não mudo e nem jamais mudará: o amor por você.


7.


A honestidade e a desonestidade 

Diante de julgamentos de valor como se deve postar um homem? Indiferente? Sim e não.

Indiferente se este julgamento não contém em si nenhuma verdade, apenas o ódio, apenas o preconceito ou uma necessidade, tipo eu preciso, eu devo falar mal daquela pessoa, afinal todos falam mal dele.

Quando estes julgamentos de valor (você é um ladrão) embora não tenha base em nenhuma verdade, mas partem de pessoas importantes para o acusado, não há como ser indiferente e/ou superior – superior aqui considerando aquela pose tradicional dos mais velhos, os senhores donos da verdade e dos anéis.

Assim, como ninguém deve mentir para si mesmo, nenhum homem é desonesto com ele mesmo, ninguém trapaceia contra si mesmo. Ninguém engana a si mesmo. Isto considerando a pessoa de que se fala como uma pessoa normal, capaz de aferir valores e analisar fatos.

Exemplo: cai uma forte chuva, João convence a si mesmo de que não está chovendo e de que ele não vai se molhar e sai sem nenhuma proteção. As primeiras gotas lhe dirão que ele enganou-se.

Eu teria que me convencer de que sou um ladrão. Até mesmo por inteligência. Isto não significa agregar a mim uma culpa. Ser culpado por ter cometido um erro: furtar. Vamos considerar que o correto seria assumir a culpa, confessar a culpa e, no caso dos cristãos, culpado de ter infringido um dos mandamentos de deus, não furtar.

O quinto mandamento.


8.

Culpa. O pecado do diabo

O segredo da culpa é o pecado do diabo.

Diabo peca?

O que leva o homem a se sentir culpado por ter cometido um erro? O violar um compromisso? Ter a consciência dessa violação? Adquirir a partir daí o estigma, o eterno estigma do homem condenado: Você é um ladrão.

(Insisto: Santo Agostinho era um ladrão e tornou-se um santo da igreja católica)

O drama do pensar é que nós temos mais dúvidas e perguntas do que afirmativas. Enfim, vamos lá: O que é culpa? O que é o sentimento de culpa?
A confissão da culpa – o assumir a culpa no âmbito religioso traz consigo a natureza do pecado e do perdão.

A concepção da culpa no âmbito civil supõe assumir uma responsabilidade, confessar um crime ou admitir que as provas apresentadas de sua culpa, por evidentes, não o exime de sua responsabilidade embora continue afirmando sua inocência supõe o julgamento e a condenação do culpado.

- Você é culpado. Está condenado.

Há quem condene a culpa em si. Ouvi muitas vezes a condenação da “culpa” como uma deformação da formação religiosa.

A igreja usa este recurso como uma forma de controle administrativo da comunidade cristã.

Ser culpado é ser dependente de um julgamento por si e/ou pelo outro.

Outra condenação da culpa deve-se ao seu resultado ou seja ao próprio controle objetivo do indivíduo e da comunidade, ao êxito deste recurso ao longo de duas dezenas de séculos.

Condena-se ainda a culpa pela sua ação dissimulada, visa-se um alvo para na verdade se atingir outro, o perdão.

Verdade significando objetivo, o que se quer, o que se procura com uma ação (ato entre homens).

- A consciência do culpado, não condenado (o caso de Althusser). Este caso é sensacional: um dos maiores filósofos do século estrangula e mata a mulher. Ele tinha total consciência do que fez e de seu crime, mas a sociedade não o condenou. Afinal, antes de ser assassino era um grande pensador. E ele não se perdoou, escreveu um longo libelo acusatório. Ele condenou a si mesmo e à sociedade.

O título do seu livro é significativo, Le futur dure long temps, o futuro dura muito tempo. Dele se extraiu tudo, menos o futuro. Seu futuro era a longa vida a viver, o desespero total, a consciência total.


9.

A igreja católica foi a instituição que melhor e mais profundamente soube trabalhar com a culpa (usando-a como domínio contra o homem crente) e com criatividade instrumental (o ritual da cerimônia religiosa, a missa, e o confessionário) até que veio Martinho Lutero, do útero da igreja, e acabou com o confessionário, eliminaram os intermediários entre o homem e deus, o mais grave, neste nascer da modernidade, é que no lugar do confessionário, surge a consciência, o tribunal da consciência e na sequencia a ditadura da consciência.

E o divã. Uma merda.

Com o confessionário, a igreja antecedeu em séculos o divã do doutor Freud. Lutero acabou com o confessionário e inviabilizou o divã. Não há nada pior e mais constrangedor para o homem do que a ressaca moral da qual só se livra se for capaz de encarar um sono profundo e/ou seus substitutos, pois a culpa te persegue a vida toda, a vida afora (e este futuro, como constatou Althusser, nunca acaba e pode durar muito tempo).


O confessionário é um instrumento de ação letal, caiu no confessionário se livra da culpa, mas cai nas garras do novo ditador de suas culpas e perdões, cai nas garras do poder mais constrangedor e violento, o poder do outro, daquele que sabe as suas e as culpas coletivas, conhece sua intimidade e, melhor, se apoderou-se de sua consciência.

O confessionário é um recurso de ação dual - um que confessa e outro que ouve a confissão.

A ação dual pressupõe compromissos, o compromisso da verdade de quem fala e o compromisso do silêncio de quem ouve (que ninguém garante que será cumprido).

A lição do segredo: só é segredo se não for contado.

O confessionário é um equipamento simbólico, de não individualização, recurso cerimonial, uma parte da nave da igreja, um lugar simbólico, lateral.

O confessionário é uma lavanderia.

Com o confessionário é mais fácil resolver os mais graves problemas de consciência. O sujo elimina-se pela confissão, pelo detergente da confissão, pela declaração da verdade. Tem roupa suja? Lave. A roupa suja você reúne, relaciona, lava, engoma e passa. Tudo novo e de novo, em pouco tempo, lá está, em um canto da casa, a roupa amontoada. Se eu sou ladrão, ao confessar-me ladrão, perdoado, estou pronto para outra. Afinal, estou zerado.

Ao eliminar o confessionário, o homem examina a si mesmo, se se encontra em culpa, recorre-se ao tribunal da consciência, julga-se a si mesmo e pode absolver-se da culpa com o compromisso, consigo mesmo, de não repetir o erro, o erro que ocasionou a culpa.

A reforma luterana radicaliza quando suprime a confissão auricular e define a relação do homem direto com deus e no lugar do confessionário introduz a consciência, a sua consciência é o seu tribunal.

Mais do que abolir o confessionário, Lutero aboliu o magistério (dos doutores) da Igreja, os donos da palavra, da língua, do latim e da linguagem, os donos do conceito e dessa fabulosa aventura do conhecimento e da verdade.

Tempos depois, no caminho de Lutero, que eliminou o intermediário e em seu lugar introduziu a consciência e a razão, surge Wittgenstein e elimina a consciência, a razão e a linguagem.

E agora, José? Perguntará, enfaticamente o poeta e filósofo.

Lutero e Wittgenstein são dois e um.

Dentro do processo de conhecimento a radicalização de Lutero jamais pressuporia a radicalização de Wittgenstein, mas era necessária e imprescindível, era um degrau essencial.

Martin Lutero radicaliza com a consciência humana assumindo a responsabilidade pelo destino do homem. A razão assume uma dimensão, cuja imponderabilidade e valorização jamais poderiam ser antecipadas e cujos desdobramentos chegaram inúmeras vezes à destruição da própria razão (a prostitua do diabo, segundo o próprio Lutero), à degradação da própria consciência como na degradação e destruição do homem, a sua autodestruição.

(Consciente de que sou um ladrão, a razão me apontando, dedo em riste, como um criminoso; a razão me condena e me imobiliza no ato do furto para todo o meu futuro).

10.

“O meu corpo é o templo (tempo) do Espírito Santo”.

Isto é de Paulo aquele que o amigo Ronan fala que é fera.

Paulo está por trás do confessionário e dessa deificação, precária e ainda provisória do homem. Templo é caixa vazia, é lugar que recebe e é lugar nobre e de cerimônias.

Ser templo é ser receptáculo, um lugar vazio para a inteligência que é, em essência, esse deus estranho, o espírito santo, ser de natureza intelectual e nobrificado, notabilizado na pureza e pela santificação.

Paulo sabia que para construir uma igreja seria necessário o domínio. Qual domínio? O territorial? O domínio dos governos? O domínio das casas?

Ou todos estes domínios através de um domínio simples e definitivo: o domínio das almas, isto é, o domínio das consciências.

Alguém deveria assumir o controle das almas, o controle das consciências. Quem poderia assumir este controle e de que forma?

Um homem diferente ainda sobrevive, embora controlado, identificado, dominado, vestido de forma definida, preparado exaustivamente para aceitar o papel de “dono das consciências, pastor das almas”, o padre, pai, patrão, ser de deus.

E agora, a inteligência artificial e a informática que cataloga bilhões de seres, principalmente os seres ainda chamados de humanos.

De que forma? Através de um ritual aprovado pela maioria, integrando (imprescindível) o momento mais importante da dignidade religiosa, a comunhão – o celular.

O significado da comunhão para o cristão, tanto para o católico como para o protestante, é o mesmo. A comunhão significa a participação da ceia do senhor, na comunhão o vinho e o pão, o sangue e o corpo de Cristo, servem para a materialização da ceia do senhor, servem para a materialização da comunhão (não a comunhão protestante).

Para se habilitar a participar da ceia do senhor, o homem deve estar livre de culpa e do que se convencionou chamar de pecado. Com o pecado não se pode participar da mesa da comunhão.

Para o cristão católico, entretanto, há uma diferença. Nesta cerimônia há a transubstanciação, o vinho é o sangue de Cristo, o pão é o corpo de Cristo.

O protestante não aceita a tese da transubstanciação, introduz a tese da memória do fato, para eles a cerimônia da comunhão é uma lembrança, uma memória de um momento, é a celebração de um compromisso, da renovação do compromisso.

Há o vinho e o pão, vinho e pão simplesmente, porém mais do que vinho e pão ou sangue e corpo, é um compromisso consciente de um momento histórico vivido pela comunidade dos cristãos católicos e pelos seus integrantes.



Paulo e o pecado, Paulo e a culpa
 


... o nosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus.                     

 Coríntios 6, 19  Paulo



7...eu não conheci o pecado senão pela lei; porque eu não conheceria a concupiscência, se a lei não dissesse: Não cobiçarás.

8 Mas o pecado tomando ocasião pelo mandamento, obrou em mim toda a concupiscência: porquanto sem a lei estava morto o pecado.

9 E eu, nalgum tempo, vivia sem lei, mas vindo o mandamento, reviveu o pecado, e eu morri;

10 E o mandamento que era para vida, achei eu que me era para morte.

11 Porque o pecado, tomando ocasião pelo mandamento, me enganou, e por ele me matou.

12 E assim a lei é santa, e o mandamento justo e bom.

....Romanos, 7  Paulo



11.

Poucos são os homens que se questionam e que assumem a sua construção como seres humanos ao longo de uma vida, comprometidos com um futuro que é sempre curto demais e apressado demais.

Poucos são os homens que carregam uma alma limpa, uma vida alegre e feliz.

A minha felicidade é o filho, o ser que nasce.

Hoje, tenho a verdadeira percepção de que, assim como Prometeu, que roubou o fogo dos deuses, eu também roubei para muitos (para os meus filhos) a vida, de alguma forma extrai, roubei, tirei de algo que não existia (a vida) e ela está aí, pujante bela, atrevida, altiva, capaz de encarar estes desajeitados mais velhos, estas pessoas rabugentas, ranzinzas, implicantes, estes chatos, sempre os mais velhos, estes bobos que se consideram senhores dos tempos e que estão sentados apenas sobre as suas merdas, acham que são verdades. Se forem verdade, a verdade é que elas fedem.


Um beijo de quem te quer feliz e capaz de dizer, com força, tudo o que você foi capaz de me dizer.


Eu sei o que eu sou(******).


(Esta é a minha carta para você, Letícia, minha alegria, minha paixão.

Este sempre foi o meu silêncio.

Esta é a resposta que você sempre quis à pergunta:

 “Pai, por que você é tão calado? Por que você não fala?”)



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Notas

(*) ...dito por um pai...

Veja, uma afirmação sem sentido. Dito por um pai ou palavra de um pai.

O que vale isto? Palavra de um. Palavra, apenas. Palavra só tem sentido se for verdadeira. Se a palavra em si for verdadeira, se ela tiver sentido. A palavra de um pai poderá vir carregada de emoção. A emoção do amor, se partir de um pai apaixonado, de um pai só amor, essência de amor, um amor tão grandioso que torna-se tão careta de ser só compreensão.

Poderia vir também carregada de mágoas, um sentimento tardio, maltratado, um sentimento complexo, dos complexados, próprio daqueles perdidos e que mais precisam ser compreendidos e mais ainda amados, carentes de tudo, até mesmo dos filhos e de suas presenças, de seus carinhos, de seus olhares, da felicidade de ter a mão filial pousada sobre sua face e sobre os seus sonhos e dores.

A palavra que tem o compromisso da compreensão é a palavra do pai.

É, entretanto, uma palavra multiforme, pois na compreensão pode deter um objetivo, até mesmo maltratar por não zangar, por não ser autoritária, por fugir à condenação, o apontar o dedo dizendo que você está errada, você está sendo dura, você não pode julgar sem que o processo tenha sido feito e garantido o direito de defesa o direito do contraditório.

Ah! Bela palavra, uma palavra que todos os pais deveriam reverenciar no convívio com quem tem e terá mais tempo, mais vida e mais felicidade, a bela palavra “contraditório”.

É um princípio que nasce com os pensadores gregos e se incrusta no direito e na democracia. Tenha sempre em consideração o contraditório. Isto é, quando se fizer uma afirmativa, pense na negativa e em sua possibilidade.

É o que fazia, todas as manhas, o bom Sartre que se exercitava pensando contra si mesmo, contra as suas verdades, contestando tudo, todos e a si mesmo; sem ser impiedoso.

- Minha amiga não presta.

Contém esta outra afirmativa

- Minha amiga presta.

É um jogo gostoso. Todas as vezes que ouvir aquela afirmativa categórica, muito presente naqueles que são donos da verdade (os adultos, principalmente, aqueles com mais de 15 anos, melhor, segundo a música com mais de 30, isto na época da sua mãe, em que não se podia acreditar em quem tinha mais de 30 anos).

Jogue este jogo e sempre se acautelará e sempre se aproximará da verdade, mesmo que seja um pouco mais lenta a aproximação, com certeza será mais segura e a possibilidade do erro, da não verdade, mais remota.



(**) Paciência é um dos meus defeitos de que mais me orgulho, em mim a paciência jamais teve ou terá limites, e é um exercício físico em que me aplico diuturnamente, todas as horas do dia, acredito que até em todos os segundos do dia.


(***) Ladrão adj. Que furta, que rouba.// sm Salteador,; indivíduo  que furta, que rouba; vaso onde nas adegas se deita o vinho ou azeite que as pipas escorrem; vergôntea que rebenta, ordinariamente no sentido vertical de um ramo de árvore ou do corpo das raízes, tirando a seiva que deveria ser assimilada pelas partes produtivas; pavio entortado que, tornando maior a luz, consome entretanto mais depressa a vela;. // (fig.)  Maroto, biltre, tratante.// (bras.) Cano  por onde, nas caixas d’água, se dá escoamento ao excesso de líquido. (Do latim: latro, onis = soldado mercenário, habituado aos saques).
Do Dicionário da Língua Portuguesa da Academia Portuguesa da Academia Portuguesa de Letras


Em outro dicionário, no Aurélio

Ladrão. Adj. 1. Que furta; ladro. – Sm 2. Aquele que furta ou rouba; gatuno, ladrão, larápio, rato, amigo do alheio

Agora vejamos a sutil diferença entre roubar e furtar, ainda segundo o Aurélio:

Roubar vtd 1. Jur. Subtrair (coisa alheia móvel) para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência à pessoa, ou depois havê-la, por qualquer meio, reduzido à  impossibilidade de resistir. 2.  Furtar, subtrair (coisa alheia).

Furtar vdt 1. Apoderar-se de  (coisa alheia); subtrair fraudulentamente (coisa alheia) ; roubar.  7. Trapacear no jogo. P. 8. Desviar-se, esquivar-se. 9. Esconder-se, ocultar-se.

(Uma curiosidade, larápio vem de um conhecido romano o senhor L.A.R. Ápio, tão conhecido naquelas plagas que seu nome passou de substantivo próprio a substantivo comum, o romano que rouba passou a ser um larápio).

Outra diferença, esta uma diferença fundamental e necessária, histórica.

Quando homens revolucionários assaltam um banco, tomam um veículo para uma ação revolucionária, uma ação política se pratica não o roubo (com violência) ou o furto (com trapaça e sutileza linguística). O que se pratica é a expropriação, isto é, segundo ainda o nosso bondoso Aurélio, que desconsiderou a ação revolucionária, mas que sempre se praticou na história humana da organização social:

Expropiação sf Ato ou efeito de expropriar; privação da propriedade.

Expropriar  v.t.rel Privar da propriedade por meios judiciais; fazer perder a propriedade legalmente, por necessidade pública ou interesse social: A prefeitura me expropriou daquele prédio. (De ex + próprio + ar) 



(*****) Marx em resposta a um questionário de sua filha Jenny sobre o aforisma de que ele mais gostava, escreveu: Nada do que é humano me é estranho. Citava ele, um filósofo romano.


(******) Um grande mentiroso? Sei lá!





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Onde está o centro da terra?