segunda-feira, 9 de julho de 2018

TODOS OS SONHOS




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Àquela mulher


Otto de Albuquerque





Como uma única folha caindo em plena primavera

Como na brusca tarde em que o sol dourado


                                   embranqueceu, empalideceu

                                   completamentando o início da noite



Como o corpo amante se afastando do corpo amado

Como a agulha e o burro do camelo imaginando passageiro

Como um barco submerso pousando lento no fundo  

Como o grito da carne rasgada e do filho surgido  

Como o espelho que reflete mil espelhos eu vou   



                                   colocar a imagem daquela mulher na história   

                                    mulher que me pertenceu pedindo outonos na primavera  

                                    e o impossível de juras eternas de um nunca abandonar  



Dito com palavras o que elas não significam   

Submergindo lentamente nos meus carinhos   




Sofrendo em cada ato a descoberta   

imagens sucessivas de crianças nossas iguais



Mulher que me pertenceu como alma em outro corpo


Mulher que viveu tanto em mim e do que extraia de mim


Hoje, distantes tantos quilômetros, vejo como é verdadeira a alegria




Ontem, sozinho vi-me em apuros

E se daqui a mil anos  

um encontro  

eu não saberei nada nada nada



Tenho comigo guardada a esperança da vida

como o mar   

como o inferno,

como a luta






Se chegar até você e você

não se assemelhar àquela mulher    

sequer igual às feições guardadas  





Ao desviar-me de ti

Ao perder-me de ti



Acontecerá, então, tudo de novo?


Desconhecidos, somos desconhecidos.


Continuaremos desconhecidos