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pode ser visto
escrevendo
Manoel Infante
Para minha dama
A crise não é saber o futuro
A crise é não saber o futuro
não ter razão de viver
Não poder prever
É
em qualquer pensamento
a cegueira do destino
-
Não acredito em destino
aí a causa da
revolta no íntimo
Insisto em criar, em fazer
Partindo
do ponto comum
-
Eis a diferença, minha dama
-
Sou um revoltado
o
destino é crise,
enfim, uma prisão
Sempre,
algo camuflado
tumultuado
torpedeado
destruído
Triste que resiste
na
tristeza
dela,
a beleza
na
melancolia
dela, só nostalgia
Porque meu peito
arfa,
respira
Amo
todo amor
Eis a cantora que beija a lira
Que canta a velha melodia
Feita para dormir o amor, senhor
leia
antes o que está aí
auto-censure
antes da auto-entrega
antes da auto-entrega
cuidado
você
pode se denunciar
na
opinião
da palavra
da
ideia
parece
que o povo precoce
ainda
não aprendeu a viver nesse Estado
se
arrisca, na aventura, na tinta, no papel
cuidado
escrever
para que?
se
nada disso se divulga
se
ninguém saberá
do voo
do voo
escrever
para quem?
se
a palavra não vai
se
até a palavra cai
num
ponto descoberto
cuidado
censure
sempre censure
o
que você escreveu ontem
pode
ser crime hoje... e olhe lá
faça
a uma revisão
mesmo
assim
cuidado
nem
no tumulto
de
prisões, censuras e editais
os
vocábulos suprimidos,
proibidos
proibidos
mais
fecundos
que
os editais
saem
mais adiante
no
cio profundo
na
maternidade exultante
de
criar
de
fazer
sem amarras