Ela não quer dividir
nada
Jacques-Louis Davidson
Talvez o compositor não saiba, mas hoje ele está dividido. É
dois, Richard Wagner foi um no século XIX. Agora neste início de século XXI, Ricardo e
Wagner são dois homens diferentes e que tem agora sua unidade, sua
possibilidade de unidade, em uma mulher, em uma única mulher que os dois amam.
Ela está dividida em seu amor. Ama os dois, um é paixão e é
a transa total. O outro é a disponibilidade, a escolha, o amor programado e as
noites de sonos separados. Companheiros de cama.
Um é amante, tem outra mulher e vive uma vida de mentira,
ora com uma ora com a outra. Outro é aquele que quer casar, construir uma vida
a dois, fazer sua própria casa, ter seu lugar.
A amante não tem os filhos, não tem que cuidar, lavar
cuecas, mas não pode ir a todos os lugares, não pode sair e fica mais sozinha.
O outro quer mais tempo, dispõe de mais tempo. Está disposto
ao amor do dia a dia.
O outro desaparece, some e reaparece de repente. Enlouquece.
- Agora, depois de três meses, Wagner aparece e bagunça a
cabeça dela. Ele enganou, mentiu, traiu durante todo este tempo. Há mais de
dois anos, ele mente para ela, engana, diz que vai separar da mulher e não
separa. É bom ser amante, ganha presentes, passeia, viaja. Do outro lado, ela
não pode sair com ele, não pode frequentar alguns lugares, não pode ir a um
cinema. A outra é quem lava as cuecas dele, cuida da roupa dele, faz tudo para
que ele possa ir encontrar com a amante, com a outra.
Ela não pode aceitar
isso.
Por isso tudo e muito mais Ricardo permanece. É o de sempre.