
História
do Odin
Só um
nome
Glauber Amoroso
Odin, um deus da mitologia escandinava, viaja pelo mundo
escondido debaixo de um manto azul escuro com capuz.
Ele é o senhor do mundo. Um senhor secreto e noturno, que
espia o curso dos acontecimentos sem ser visto.
Odin, segundo uma
antiga crônica, hábil na arte da metamorfose, possui o dom de mudar de forma e
aspecto à vontade. Sua fala enfeitiça.
A raiz de seu nome leva incessante movimento: fúria, raiva,
a violenta respiração do vento e das tormentas, a cólera das ondas do mar. Ao
mesmo tempo traz a respiração interior, da qual a música e a poesia nascem na
alma do artista.
Coberto por seu capuz cor-da-noite, Odin olha o mundo com um
só olho.
Ele se automutilou para poder ver e saber: um olho embaixo
de sua sobrancelha e outro submergido nas profundezas das águas da memória.
A armação ritual, semelhante à paixão de iniciação do bruxo,
ilumina o Odin.
Considerado como o inventor original da escritura, dos
Runes, é visto como um deus através da escuridão.
Odin, o deus da guerra, o deus da sagrada ira, que é ao
mesmo tempo destruidor e autodestrutivo, pode ser considerado como um deus que
preside a história dos nosso século. Também é o bruxo que permite às forças
escuras sair à luz, iluminando-as e convertendo-as em forças férteis.
É um deus de sabedoria, por sabedoria se entende a
habilidade para dominar e transformar os escuros elementos destruidores que se
retorcem dentro dos indivíduos e das sociedades.
Além do mais, é o deus desta sabedoria que equilibra os polos
e forças opostas, sabedoria entendida como tensão e não como a ilusória negação
do suposto “Mal”.
Barba, teatrólogo, escolhe por acidente, na rua, o nome Odin e o tira da placa, Odin Gate.
Cada processo artístico (assim como a história de Odin, seus
espetáculos, sua escolha de ação) se caracteriza pela conjunção de sorte e necessidade, que,
do ponto de vista da lógica abstrata, se opõem. Na lógica da realidade, são os
dois lados da mesma moeda.
Na peça Gome!
And the day will be ours 76, um bruxo
derrotado por pioneiros, que faziam a civilização cantar, canta:
A escuridão é um caminho
e a luz é um lugar.
No som, na música, a ambiguidade:
Dark is a way (a
escuridão é um caminho)
Dark is away ( a
escuridão passou)
Em Cinzas, de
Brecht, 82, no final a sala fica escura, luzes tênues, como estrelas ou
vagalumes, aparecem, vozes cantando os versos de Brecht
A noite mais longa
não dura sempre.
Outra voz grita “Não os deixeis seduzir”.
As luzes formam uma fileira, um procissão na escuridão, como
uma fila de velas. Uma porta se abre e uma luz que cega entra na sala.
Todos os atores, com exceção do que interpreta Brecht,
caminham em direção a esta luz. Ideia de salvação, mariposas atraídas pela luz
voam em direção à morte. Ou é esta a luz que à voz e ao riso de Brecht chamavam
sedução.
A luz é um lugar
não os deixeis seduzir
A violenta respiração do vento
https://pt.wikipedia.org/wiki/Odin