quinta-feira, 11 de abril de 2019

QUASE LOUCO DE AMOR





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Aos 83 anos, ainda 

se mata por amor (*)




Onório está aborrecido. A mulher não quer dormir na mesma cama. O único filho do casal morreu. Osório só tem a mulher, no dia-a-dia. A mulher é birrenta e quer pelo menos uma liberdade: buscar casca de arroz para as galinhas. Onório acha que lugar  de mulher é em casa e perto dele, que não tem ninguém para conversar. A mulher insiste e os dois brigam. Ela põe uma cama de solteiro no quarto. Passa a dormir separada de Onório. Depois, sai para buscar casca de arroz para as galinhas. Volta com o saco nas costas. Morre com um tiro, disparado por Onório.

Onório está desatinado com a mulher morta: 83 anos de idade e sozinho. Está na cadeia, mas em breve irá para casa. A punição não é a cadeia. Para ele é a falta do amor. Sua Augusta tinha 63 anos. Onório bate o pé e afirma que está "bom de amor". Queria amar Augusta a toda hora, a todo minuto. Queria até mesmo ir com ela buscar a casca de arroz para as galinhas. Augusta teimou e foi sozinha. Caminhou um quilômetro para os lados dos Garcias. Voltou com a comida para as galinhas e morreu com um tiro no peito.

Caso de amor

Onório está quase louco de dor.No cartório da Delegacia de Polícia de Itaúna, o delegado Hudson Madonado se pergunta o que fazer com Onório. Nem Onório sabe. Ele treme o corpo. Treme mais as mãos. Pede clemência. Quer ir ao enterro de Augusta que será hoje, às 10 h, no cemitério de Santanense, onde morava o casal. Onório quer uma missa por Augusta. Quer tudo para Augusta. Não acredita que está sem o amor, que começou a 30 anos. Ninguém convence Onório que Augusta morreu. Itaúna está com pena de Onório. Ele não sabe porque o ciúme subiu à cabeça. Não sabe que matou por amor.

Augusta Rufina Caetano, de 63 anos de idade, era a segunda mulher de Onório Jerônimo Caetano, de 83 anos. O casal morava na rua Sebastião Soares, 117, no bairro Santanense. Tiveram um filho. O moço morreu num desastre de caminhão. A partir da morte do filho, Onório só conversava com sua Augusta. Os dois passaram a brigar, pois Onório queria amar muito e se tornou obcecado (1) de amor. 

Depois que Augusta tomou a extrema atitude de separa a cama do casal, as brigas aumentaram.
Sentindo-se mais velho e até com medo de ser morto, Onório foi ao comércio do centro da cidade, na loja do Teco, e comprou uma garruchinha. Não fez ameaças à mulher. Só fez carinhos, segundo declarou ao escrivão Geraldo Magela. 

"Mas a mulher ficou muito birrenta. Queria andar no mato. Queria buscar uma tal de casca de arroz para as galinhas. Não gostei mesmo daquilo. Ontem de manhã, eu falei com ela para não ir ao mato. Ela teimou e foi. Fiquei com raiva. Agora estou sem ela. Augusta foi embora para sempre".

Onório trabalhou até aposentar-se como carpinteiro. Conseguiu aposentadoria pelo Funrural. Não pegava mais nas ferramentas.  Queria mesmo era amar a mulher. Não sabe o que vai fazer. Se voltar para casa ou também "ir embora". A garruchinha está com o delegado Olímpio Nolasco. O advogado Manoel Augusto Bernardes pegou a causa. Sua preocupação é não deixar Onório na cadeia. Lá é muito frio e o homem pode morrer. O delegado também acha assim, mas não sabe para onde levar Onório, que matou a mulher, ontem, ao meio dia.



 (1) O adjetivo obcecado se refere a alguém que tem uma obsessão, estando deslumbrado e desvairado, fora de sua razão. Indica também alguém que é firme e teimoso, insistindo muitas vezes no erro. Obcecado é sinônimo de cego, apaixonado, encantado, deslumbrado, desvairado, louco, pertinaz, firme, obstinado e inflexível, entre outros.

(*) Título do Editor de Polícia do jornal EM, Wander Piroli