![]() |
Planisfério com a localização do Brasil, criado em 1502. Este é o primeiro mapa do Brasil. |
Teoria do Brasil
( ou a teoria do povo
brasileiro
ou uma proposta
para uma teoria de constituição e defesa do povo
brasileiro )
(A partir de
Darcy Ribeiro)
Tito Guimarães Filho
Introdução
1.
O Brasil não existe. Hoje, a denominada população brasileira é estrangeira em sua própria
terra, não fala a mesma língua dos dirigentes do Estado, não tem autonomia e
nem soberania. A população denominada brasileira, que vive no hemisfério Sul, é
em sua absoluta maioria uma população miserável, insignificante, inexpressiva e
paupérrima.
2.
Miserável pela
tirania do regime de controle das riquezas nas mãos de poucos. Insignificante
pois posto e mantido sob o domínio dos titulares da mídia que gestam e
sustentam os que poderão significar alguma coisa. Inexpressiva diante do poder
do Estado, que tudo pode, que imobiliza a população com os controles dos shows
e das eleições. Inexpressiva em seu sentido lato, é nada, quase nada.
Paupérrima, jamais conseguirá sair da pobreza dependente de esmolas e favores
políticos.
Os brasileiro não são os brasileiros. Não são mais do que uma ficção um
povo limitado à ficção.
3.
Miserável em sua
condição de vida; insignificante pelos controles que lhe são impostos pelos
dominadores; inexpressiva porque lhe são retirados todos os meios de expressão
e massacrados com uma língua, palavras e idéias prontas para destruir,
amordaçar e desqualificar o homem que queira resistir, pensar, dizer o que
pensa e fazer sua independência. Paupérrima porque toda a riqueza que ele
produz jamais será dele, jamais a ela este homem-nem-cidadão jamais jamais terá
acesso.
Os brasileiros não são os
brasileiros.
4. O Brasil é
uma ficção. É uma ficção para o seu
povo. O seu povo também uma ficção. Ficção contábil? Não. Não é ficção para
investimento. Não é ainda um paraíso fiscal. É um paraíso monetário. Um paraíso
que abastece e engorda os paraísos fiscais e as matrizes. Não se pode denominar
sua existência como aquilo que não é. O Brasil não existe para o seu povo, para
a população e não existe nem mesmo dentro de traçados geográficos e de limites
territoriais. A ficção, criada, inicialmente, para negociação de espaços de
navegação, se sustenta agora como espaço de trânsito financeiro e de populações
em regime de migração.
5. Localizado, oficialmente, segundo as regras de poder
da época, há 500 anos e, em regime de investimentos fixos(?), há pouco mais de
100 anos, a base territorial de grupos investidores estrangeiros,
transformou-se, com o sistema de comunicação mais ágil, em um lugar virtual, um
lugar que existe e que também não existe, um lugar de ficção.
6. Como um lugar que existe é base de transações,
desconhecendo-se população, fronteiras e limites territoriais. Como um lugar
que não existe dele se desconhece a personalidade, a personalidade jurídica, a
personalidade cultural, a não ser para efeito de manobras e a ampliação de
lucros e redução de prejuízos (os lucros sempre dali sairão e os prejuízos ali
sempre ficarão).
7. Não se pode denominar sua existência como aquilo que
não é. O Brasil não existe para o seu povo, para a população e não existe nem
mesmo dentro de traçados geográficos e de limites territoriais. A ficção,
criada, inicialmente, para negociação de espaços de navegação, se sustenta
agora como espaço de trânsito financeiro e de populações em regime de
migração.
8. País fictício, esta denominação Brasil ( que funciona
como governo virtual) tem sido utilizada contra os interesses dos habitantes do
espaço geográfico.
9.
A população, o estado e o governo.
10.
A construção
deste domínio é formulada, sistematizada e mantida em permanente
desenvolvimento já há 500 anos. Os novos contornos do domínio, nas últimas
décadas, caracterizaram-se pela transferência das riquezas e dos grandes
patrimônios para o controle direto de centros externos – com a redução das principais
intermediações e que, em décadas passadas, se impunham pela presença de um
nacionalismo recorrente e pelo constrangimento da humilhante condição definida
pelos dominadores para os dominados.
11.
Ele adquiriu
novos contornos nos últimos anos, com a transferência das riquezas nacionais
(no desfazimento do Estado e da Nação, não mais úteis ao patronato “nacional”)
e a manutenção dos grandes patrimônios sob controle direto de centros externos.
A redução do processo anterior de intermediários, de prepostos e a redução da
própria da própria intermediação expôs a vassalagem a uma desqualificada
atuação onde a lei não existe (porque o Estado também não existe senão como
recurso de cenário) e onde a corrupção é a regra – fora disto não há
ganho.
12.
O próprio sistema
tributário garantia dos recursos do “Estado nacional” se sustenta num selvagem
processo de extorsão – a corrupção impõe-se como única possibilidade
inteligente de se trabalhar entre aqueles que não tem outro recursos senão
produzir e viver nos limites geográficos do território sob tutela e vassalagem.
13.
Um país sem território não é um país,
não existe
14.
O mapa do Brasil
é pura ilusão. É puro desenho, as fronteiras ali demarcadas são desenhos sem
sentido. Não se engane, talvez as fronteiras entre municípios e entre estados
façam mais sentido e sejam mais autênticas do que as denominadas fronteiras
nacionais.
15.
Um país, um
estado soberano, se define a partir de fenômenos concretos como a existência de
uma língua comum, de um território, de um povo, de um governo, leis próprias,
um exército e de uma história, entre outros. Destes, o mais importante talvez
seja o território, pois são muitos os estados cuja população fala mais de uma
língua, possui percentuais significativos de imigrantes (uma das
características dos tempos modernos é a alta taxa de migração de populações
inteiras) e que sequer possuem exércitos. O território com fronteiras
estabelecidas dá a cara física do país e do Estado.
O que acontece com o território do povo brasileiro?
16.
Segundo o
geógrafo Milton Santos, em artigo publicado na FSP, de 08.08.99, o “Brasil” não
pode considerar mais detentor de seu território ou mesmo ter no território a
descrição de sua base física.
17. “Não é
simples metáfora dizer que está havendo uma entrega acelerada do território, já
que o modelo econômico consagrado recusa ao país as ferramentas da sua
regulação, pondo-as em mãos outras (geralmente estrangeiras), cujos projetos e
objetivos podem ser inteiramente estranhos ou adversos ao interesse nacional. É
desse modo que áreas inteiras permanecem nominalmente no território, fazendo
parte do mapa do país, mas são retiradas do controle soberano da nação”.
18.
Na década de 60,
a linguagem política introduziu conceitos estratégicos para a consolidação do
poder militar dominante. Entre estes, o mais cruel e destruidor foi o de
segurança nacional, em que transformava os cidadãos em inimigos da nação,
suspeitos e sujeitos à prisão e condenação por lei própria: a lei de segurança
nacional, uma lei contra os cidadãos.
19.
Outro
conceito alterava a concepção de território e de fronteiras. Um território é
definido apor suas fronteiras. Fronteiras são marcos geográficos, estabelecem
limites territoriais. Pois bem, em junho de 1965, o ministro das Relações
Exteriores do Brasil, Vasco Leitão da Cunha, introduziu como marco do
pensamento diplomático brasileiro, um novo conceito de fronteiras.
20.
“...o chanceler
da ditadura defendeu o conceito de
fronteiras ideológicas que, no seu modo de ver, devia substituir o de
fronteiras físicas e geográficas. Vemos, assim, depois da substituição do
conceito de soberania e de independência pelo de interdependência, a
substituição do conceito de fronteiras geográficas pelo de ideológicas,
completando a abdicação absoluta da personalidade nacional”. (TTTTTT)
21.
Os controles externos do governo (executivo).
A produção da miséria, necessária, intrínseca e inerente ao processo de
controles, gera sofisticados sistemas de domínio que impedem à população
dominada sequer de pensar.
Principalmente, de pensar. Pensar torna-se algo de alta periculosidade para os
dominadores e de maior preciosidade para a inimaginável organização dos
dominados. A destruição do pensar
envolve uma rede de equipamentos públicos relacionados com a educação, saúde,
habitação, transporte e lazer. A destruição do pensar é fundamental para a
produção e manutenção da miséria As malhas desta rede jogam com a certeza de
que o miserável não come, não dorme, não pensa, não mora, não anda, não sonha –
enfim, vive apenas o suficiente para não produzir despesas que não se
incorporem a valores (produtos). Jamais se preocuparão com qualquer tentativa
de reação ou de postura afirmativa dos miseráveis, isto é, dos
brasileiros.
22.
Não há esta
possibilidade. A sofisticação chega ao ponto de determinar como frustração de
vida a derrota de um time de futebol num campeonato. As relação afetivas mal alcançam
o estágio da própria reprodução, tornam-se acidentais e irrelevantes. Vive-se
para não viver, é a síntese e a verdade da vida miserável a que está condenada
esta população do hemisfério sul até agora denominada de brasileira.
23.
A produção da miséria e o controle do pensar.
24.
Riqueza, luxo e
ostentação tornaram-se a face mais sensível da pobreza, da miséria e da
degradação do homem no Brasil. É o seu contraponto. É a sua contradição. É a
sua razão. A pobreza só existe porque existe a miséria. A degradação só existe
porque existe o luxo e a ostentação. Não é a sua outra face e nem mesmo o outro
lado da mesma moeda. É rosto de uma só face e é moeda de um só lado.
A
riqueza que se perpetua no mundo é a riqueza extraída da pobreza, que explora a
pobreza e que se sustenta na pobreza. O luxo é a miséria em sua curta
sobrevivência e fausto; a ostentação é o nível superior e mais encantador,
mistificador, da degradação humana.
25. Luxo e
miséria.
26. O governo brasileiro não existe. Não se governa para o
povo, para a população existente. Governo que governa para o capital e para os
donos do capital é governo do capital, como capital tem dono, quem gerencia não
governa, não preside, não comanda. É gerente. É subalterno. Não passa de
delegado das ações comandadas. Não existem eleições no Brasil. O brasileiro foi
privado da escolha democrática (?)
de seus dirigentes e todo o processo eleitoral é uma farsa em que todos os seus
personagens, também denominados erradamente de agentes políticos, desempenham
um papel, cujas falas devem saber de cor ou do contrário jamais serão
políticos, jamais terão convivência com o poder (?).
27.
A fraude eleitoral.
28.
A destruição do
governo no Brasil esteve ligada e se tornou constante em ciclos de cuja
periodicidade se liga às atividades econômicas predominantes, como a extração
de madeira, que deixará de predominar, logo nos primeiros anos, para ser uma
constante até hoje, mas que será substituída por outras atividades, como o
açúcar, a mineração, o café etc. que se agregarão ao processo econômico
violento de destruição das riquezas naturais sem nenhum pudor ou preocupação
com a continuidade destes nichos.
29.
Controle e destruição do governo.
A
destruição do governo ocorre permanentemente. O jogo de aparência que faz a
população acreditar numa ocorrência
(existência, registro) de governo é extremamente profissional e se esmera pelo
zelo de fazer acreditar na existência de uma pátria brasileira, de uma nação
brasileira e de que são nobres os sentimentos de brasilidade. Ao mesmo tempo
que, no outro lado da balança, constroem também de forma permanente a crença na
imaturidade e no arcaísmo destes sentimentos e destas noções sempre apontadas
como ultrapassadas e não dentro dos atuais conceitos de modernidade.
30.
Sentimentos nacionais e ilusões nacionais.
O
processo eleitoral no Brasil é digno de uma comédia se não fosse tão trágico
seu desenrolar para toda a população, que, em muitos momentos, se ilude com a
possibilidade de construir sua própria saída para as crises, para suas
angústias e para o seu destino de povo, permanentemente, transferidor de
recursos, de trabalho, de vida e de saúde para outros povos mais ricos, os
dominadores do Brasil.
31.
A farsa eleitoral (2?).
A
comédia, a farsa e o ilusionismo atinge a quase perfeição, com os homens aqui
também denominados como homens públicos (cognominados, designados, acolimados,
apelidados, conhecidos, citados) transformados em atores, bufões, incapazes de
quaisquer manifestação de personalidade ou independência.
Não
há espaço para a vocação pública, não há espaço para o verdadeiro ator público,
para a representação política autêntica – examinado o espaço público básico, em
seu nível de pequena célula, o município de dimensões reduzidas, talvez aí se
encontrasse a possibilidade de regeneração de células que reabilitasse este
espaço e a regeneração da matéria prima da política, a próprio cidadão e o
conceito de cidadão e de ação política aristotélico (2), isto para uma
reestruturação perdida a vinte e seis mil anos, no solo grego. Considerando
também democracia como instrumento e como meio de se construir a discussão
pública e não mais do que isso. "Democracia importada é como o milho
importado, apodrece rápido."
32.
A traição dos políticos.
Eleito
pelos pobres e governando para os ricos(3). Estas situações tornaram-se comuns
no Brasil, desde o fim do período militar, encerrado no final da década de 80,
do Século XX. O contrário – nomeado pelos ricos e governando para os pobres – é
fato raro em todo o mundo. O rico não elege, nomeia e, para isso, em processos
eleitorais, usa de ardis, de artimanhas, de recursos não raros, extremamente
utilizados no dia a dia da administração pública que vai da corrupção
generalizada à fraude.
33.
Políticos
ideológicos, políticos como classe, políticos como casta, o sindicato dos
políticos, os políticos como organização (criminosa ou não), em paralelo com a
concepção da ciência política e do político que surge da Ética a Nicômaco, de
Aristóteles. A mais importante ação humana que é a ação política, a busca da
felicidade e do bem coletivo desvirtua-se com a concepção de parlamento que transforma
o político em instituição, primeiro torna-se uma classe, a classe política, com
interesses e diferenciações sociais que os tornam um grupo a ser sindicalizado.
Depois, a classe política busca a transferência do patrimônio – votos,
representação, base eleitoral – para o núcleo familiar, os herdeiros. Os
vínculos degradados obrigam a constituição em seguida da atividade política
como uma atividade empresarial. Empresa, instituição, em que a simbiose (?), em
que a mistura, entre o público e o privado, perdem suas individualidades e em
que sua manutenção, espaço e poder só se dará através do crime organizado, em
que a corrupção é fato menor, comum, padrão de sobrevivência política – a
política compreendida como ação criminosa.
34.
A farsa
fardada: o Exército nacional.
35.
A suposição da
existência de um País se assentaria na soberania da Nação e, basicamente, na
existência de um exército nacional. Este exército cumpriria garantias
constitucionais específicas (**) e, para isso, teria que existir, esta é a sua
primeira condição. Segunda condição, teria que ter uma estrutura orgânica,
enfim, ter uma estrutura militar, organização, equipamentos, condições de
garantir a integridade física da Nação, do Estado, senão de ataque para a
expansão, pelo menos de defesa. Isto não existe. Em paralelo com qualquer
estrutura militar, o que hoje se chama exército brasileiro é uma ficção. Não
existe, assim como não existe uma força armada nacional, complementada por
estruturas localizadas na Marinha e na Aeronáutica. Quem em sã consciência
acredita na existência da Marinha Nacional e que fosse capaz, por estrutura,
equipamentos e armamentos de defender a ampla e violável costas nacionais.
Estamos de quatro para o mundo que queira atacar e aqui se atracar. Não temos
uma força militar naval capaz de defender sequer uma faixa limitada da costa
nacional. Por exemplo, se chegasse um exército invasor para ocupar a baia da
Guanabara, ocuparia em menos de duas horas de conflito. A Força Aérea, a
garantia do espaço aéreo nacional, a defesa aérea? Se o Exército não tem como
dar comida aos seus soldados, os aviões de combate não tem como levantar voo e,
caso consigam permanecer no ar, serão objetos de admiração por obsoletos.
Entretanto, a não existência efetiva, como realidade militar, das Forças
Armadas (existe apenas como ficção e como elemento decorativo das solenidades
virtuais) não significa que isto que se chama de exército, marinha e
aeronáutica não sejam instrumentos de ação de grupos estrangeiros mais
poderosos e que, em outros momentos, acionaram tais instrumentos na consecução
de seus objetivos estratégicos dentro do que compreendem como ação geopolítica.
Por
sua vez, existem outras atividades que, extra-constitucional, se pode dar às
denominadas forças armadas. São muitas as hipóteses e/ou atividades que se
poderiam atribuir às “Forças Armadas”, um grupo de homens organizados
militarmente e que, para além das solenidades, poderiam ser acionados em
períodos emblemáticos, campanha de vacinação, proteção de eleitores em épocas de
eleição, proteção de cidades em eventos internacionais etc. A última hipótese,
seria existir como força policial ou auxiliar da força policia para casos
extraordinários ou como referência à força policial, algo como apoio moral à
força policial em ocasiões limites, enfim, para meter medo, pela aparência de
força e de vestimentas, àquelas forças que, internamente, viessem a ameaçar o
próprio Estado (organizações internas do crime também supostamente denominado
de crime organizado e que, por ser organizado, exercesse de alguma forma
funções de Estado).
36.
A farsa econômica
Alguns
episódios emblemáticos que revelam como funciona a permanente, impiedosa e
grosseira farsa denominada economia brasileira. Ela não existe. Os principais
episódios: A guerra do Paraguai; o encilhamento; Rotschild, imperador do
Brasil; a Cana de Açúcar; a Mineração; O assalto e a tragédia da Vale do Rio
Doce.
Estes
os fatos, mas o que revela a realidade da economia “brasileira” ou portuguesa
ou inglesa ou norte-americana são os números. Vamos aos números, vamos aos
dados que faz a riqueza e a felicidade dos estrangeiros, dos grupos
estrangeiros que sempre dominaram isto que estrategicamente e estilisticamente
se denomina Brasil, um quase-país, que tem um quase-governo: Com o açúcar, o país
mais rico do mundo; com ...............
37. A ciência econômica
A economia como ciência, dentro do limite de
procedimentos mensuráveis e como hipótese de mudanças na condição de vida das
pessoas nasce a partir de um professor de ética (Adam Smith). A construção da
riqueza é a construção nata do talento do homem. Bens produzidos pelos homens
são bens de ligação, são agregados valores pelo trabalho e o trabalho é, tanto
em sua individualidade como na produção industrial, uma conquista da expansão e
da construção do homem moderno.
As riquezas terão a natureza que os valores lhes derem
e quem estabelece os valores é o homem. A riqueza é propriedade coletiva. A
maior lição de Ética dada por Adam Smith está em sua obra A Riqueza das Nações,
em que ele busca a origem da riqueza de todos. Em que ele abre caminho para se
interrogar sobre a construção da vida digna e de nações poderosas.
Preocupação que está na Ética a Nicômaco, de Aristóteles. Uma obra de maturidade e uma obra
em que se reporta o pensador diretamente no compromisso imediato com o filho e
com os compromissos do filho na sociedade grega, a ética é a ação política, a
ética é a ciência política. A primeira manifestação, em Aristóteles, conduz a
ética para a política.
No século XVI, a economia nasce das aulas de ética
numa universidade inglesa (oriente?), a economia nasce da realidade. Naquele
momento, a economia nasce diante da embrionária organização do Estado, já
exaustivamente pensado pelos homens. O que vamos construir com todo o poder
econômico que surgirá do trabalho humano?
38. A farsa do nacional, da formação nacional e
da guerra nacional
A batalha dos
Guararapes – quando ocorreu a batalha - a expulsão dos holandeses. Como este
território era administrado pelos dois invasores? Como era a administração
holandesa? Como era a administração portuguesa? Não teríamos expulso o invasor
errado? Não deveríamos ter expulsado os portugueses, além da administração
espanhola com a Restauração? Ou os dois invasores?
Em Mauritsstadt (Recife), “um observatório aí foi
levantado, criados jardins e pátios de animais (zoológicos) só o tempo faltou
para se ver ali funcionar uma tipografia já encomendada, e organizar uma
universidade já concebida”.
Diplomata e historiador Manoel de Oliveira Lima, ao acreditar na importância política de se
fundamentar uma obra sobre a Formação
Histórica da Nacionalidade Brasileira, pesquisa em arquivos europeus, e nos
revela uma estranha, trágica e inconfortável realidade: esta ficção chamada
Brasil só existe para os estrangeiros e na maioria das vezes só existe para os
estrangeiros errados, os mais incultos, os mais incapazes e os mais violentos.
De 1654, data da expulsão dos holandeses, até o século
XIX, foram mais de dois séculos até que no “Brasil” se pudesse, legalmente,
instalar uma gráfica e uma universidade. Qual era a regra do jogos dos
invasores portugueses? Explorar e guardar as riquezas naturais. A multidão nas
cidades? Zero à esquerda. Jamais entrará na história destas riquezas – este o
verdadeiro negócio mantido pela ilusão da existência de um paraíso e de um
eldorado – mantido pela ilusão da existência do Brasil.
Um bom negócio, com certeza. Para quem? Para aqueles
que hoje, extraem, todos os anos, deste lugar, também chamado de Brasil (isto
é, uma bela mina de ouro) mais de 55,92% do PIB. Isto é 55,92% do PIB, Produto
Interno Bruto.
Isto é 55,92% de toda a riqueza que aqui neste lugar
se produz todos os anos, isto é, mais da metade do que você faz não fica aqui
para os seus filhos, vai para os verdadeiros donos do negócio chamado “Brasil”.
39. A farsa das
revoluções
Como a revolução de 30, em que um de seus dirigentes,
conclama os oligarcas, a fazer a revolução antes que o povo a fizesse (*),
assim como os processos eleitorais e outras disputas, expressam lutas,
constantes na história desse lugar denominado de “Brasil” em que sua população,
sempre enganada e iludida, serve de manobra para “os serviçais do poder”, para
respaldar os “novos” capatazes, aqueles que irão servir aos verdadeiros donos do
poder, “a economia nacional” – que nunca foi sequer nacional.
É o que registra o historiador José Honório
Rodrigues:
“As lutas
que rompem a tradicional balança do poder têm sido travadas entre o governo
formal, representativo de forças econômicas dominantes, e os grupos informais
que desejam participar do poder e representar essas forças. O personalismo é
expressão desta relação social, no fundo, uma herança colonial”. (**)
Aí está a resposta à inquietação do senador Darcy
Ribeiro quando, em entrevista à revista Veja, se surpreende com o destino do
governo do presidente Fernando Collor de Mello, eleito pelos descamisados.
Diz Darcy,
“Nós temos um presidente eleito pelos mais pobres, e
que optou pelos mais ricos. Eu não apoiei o Collor, mas imaginei que aquele
discurso dos descamisados fosse verdadeiro. Fiquei espantado quando ele se
deixou rodear e dominar por um grupo de economistas xiitas, cuja característica
principal é a insensibilidade social. E que não são brasileiros nem têm
necessidades brasileiras. Estão com a cabeça feita lá fora e são de uma ousadia
e de uma temeridade incríveis. É gente que não se preocupa com o milhão de
desempregados”. (***)
40. A Nação
Traidora.
No “Brasil” existiriam duas nações. O entendimento da
realidade por Justiniano José da Rocha (*) que identifica no “Brasil” a existência
de duas nações é o registro mais contundente da tragédia coletiva que se impõe
e que se perpetua, pois desta realidade se extraem resultados concretos: lucros
para o sistema financeiro. Hoje o grande controlador das riquezas.
E estas duas nações diversas são opostas e são
inimigas, pois não há como ignorar o conflito que se mantém, justamente, no
controle do poder. Justiniano fala em “classe destinada ao governo” que
integraria a Nação A, o que na verdade não chega a constituir-se em classe,
talvez um grupo, passível de substituição, onde prevalece a mentalidade
burocrática do homem público servil. São pequenos homenzinhos públicos,
versáteis e capazes de usufruir de “pequenas corrupções”, da ilusão do poder –
são histrionicamente dotados da fantasia do ator medíocre, pois muitas vezes
acreditam que são mesmo O Ministro, O General e O Presidente.
Não o são; representam uma peça de duração efêmera.
Jamais poderão acrescentar uma fala a mais nesse script, talvez apenas reclamar
de público de um mal estar ou do tempero da salada.
Dentro destas duas nações diversas, a diversidade, a diferença estaria basicamente em
quem governa e em quem é governado.
A Nação B seria aquela integrada, segundo Justiniano
pela classe destinada “a ser governada”. Mais uma vez, ao introduzir o conceito
de classe, para aqueles afastados do poder, para aqueles destinados a ser
governados, reduz-se a dimensão e a magnitude destes controles: os destinados a
ser governados são todos os outros que não estão no primeiro grupo. É, na
realidade, toda a população, é o povo que, segundo Capistrano de Abreu:
“foi capado,
isto é, sem voz, sem audiência, subjugado
e sangrado, isto é, explorado, extorquido, esvaziado e atormentado”.
41. Em sua primeira
fala ao Senado, Darcy Ribeiro, ao analisar as raízes do atraso e
identificar “como único fator causal inegável de nosso atraso é o caráter das
classes dominantes”, afirma, categórico:
"O
Brasil jamais existiu para si mesmo, no sentido de produzir o que atenda aos
requisitos de sobrevivência e prosperidade de seu povo. Existimos é para servir
a reclamos alheios. Por isso mesmo, o Brasil sempre foi, ainda é, moinho de
gastar gentes. Nos construímos queimando milhões de índios. Depois queimamos
milhões de negros. Atualmente, estamos queimando, desgastando milhões de
mestiços brasileiros na produção não do que eles consomem, mas do que dá lucro
às classes empresariais”. (!!!!)
42. A ilusão
secular.
Um país que sobrevive como um sonho, uma ilusão de já
dura 500 anos (GGGG). Nada há que o capte como realidade. Colocados na balança,
o Brasil real e o Brasil ficção, podemos abstrair duas imagens.
Numa, o Brasil real detona, são muito tristes e
dolorosas as nossas realidades e o registro histórico humilha, um “governo” que
chega ao século XXI exercitando um genocídio (HHHH) silencioso e permanente
contra sua população. Desequilíbrio total na balança. Consideraríamos o intangível
como peso de balança, assim os sonhos e as utopias realizadas pelos brasileiros
restam como certezas de que é possível construir uma outra realidade e até
mesmo dar espaço, território e verdade a um país diferente: verdadeiro país,
justo e humano, equilibrado e feliz.
43. Paixão e
povo.
Toda a obra de Darcy, toda a sua vida, se tem uma
palavra síntese, esta palavra é paixão. Grande sempre foi sua alegria e sua
imensa paixão. Se na paixão houve uma que se sobressaiu esta foi, sem dúvida, a
sua paixão pelo povo brasileiro. Uma paixão cultivada, uma paixão racional, uma
paixão extremamente consciente. Ele sabia em que terreno pisava. Nenhuma
ilusão. Para um homem com a sua inteligência e erudição, ele sabia que, entre
as muitas razões, que davam sustentação à sua “estranha loucura” estava o
Brasil que ele conhecia e que ele odiava, o Brasil falso, o Brasil desigual, o
Brasil da elite corrupta e sanguinária, mas estava também um outro Brasil, o
verdadeiro Brasil – só que ele sabia que este Brasil era um país sonhado, um
país imaginado, uma imagem.
Daquele Brasil falso, daquele Brasil desigual, daquele
Brasil que era uma farsa, Darcy extraia o povo e apontava para o seu povo
alguns caminhos, como o mais aberto de todos, a educação, e o seu exemplo, a fé
inesgotável nas pessoas, o carinho e a alegria, o continuar, o resistir, a luta
permanente e contínua, o nunca desistir.
Um homem imbatível, ele quer o seu povo assim. Ele
continuaria a criar este país mesmo quando distante dele, vivendo os dias de
exílio, proibido de voltar. De volta, seria exuberante em sua produção e da sua
vida brotariam muitas palavras, muitos livros, escolas e inúmeros exemplos para
aqueles que queiram algum dia ser homens públicos e que acreditam que é
possível forjar as bases de um verdadeiro país e de uma sociedade que elimine,
de uma vez por todas, não apenas a desigualdade, mas a mais sórdida das
explorações e que se sustenta pela imposição de uma linguagem sofisticada e
suja, uma linguagem econômica e embrutecedora, uma linguagem de servos e de
marionetes.
Ninguém amou mais o o povo brasileirol e ninguém
revelou mais o Brasil aos brasileiros do que Darcy Ribeiro. Amor deslavado, de
declarações repetidas e de humor sensível, de quem dizia querer ser o imperador
do Brasil. Revelações contundentes, sem medo e frente a frente com os poderosos
– este é o conteúdo de sua Primeira Fala ao Senado (&).
O Brasil que ele amou não existia, existia apenas em
sua imaginação – ele amava e muito o seu povo, o povo brasileiro e odiava a sua
elite e todos aqueles que traem, permanentemente, este povo. O Brasil que ele
revelava era o Brasil da injustiça, da desigualdade e da violência, o país real
com todos os seus males, o país que não dá certo, que não dará certo e que terá
que desaparecer do mapa. Há um país a ser derrotado e há um país a ser
construído.
O que “existe” não vale nada, não vale um tostão
furado.
44. A farsa da
Justiça
45. Os legisladores
que não legislam e os donos do legislativo. Os falseadores e os falsificadores
– as grandes fraudes nacionais e a lei.
46. O que acontece com quem acredita que o
Brasil existe? Se torna um
bobo, um idiota completo. Se for “brasileiro”, isto é, se tiver nascido em uma
das cidades ou vilas deste território, e ainda assim acreditar que o Brasil
existe, estará submetido, desde o seu nascimento, a inúmeras torturas diárias e
acumulativas: pois não há nenhuma garantia à vida, à sobrevivência da
população; caso sobreviva, não há como se alimentar com dignidade.....; caso
sobreviva à alimentação quase-nenhuma ou à precariedade dos hábitos
alimentares, não há escolas para todos; há que se batalhar, muitas das escolas
que “existem” também não existem como escolas, são arapucas, não ensinam,
enganam e iludem – segundo um educador, neste país do faz de conta, as escolas
fingem que ensinam e os estudantes fingem que aprendem.
47. O que
acontece com quem acredita que o Brasil existe?
Se for “brasileiro” assume, automaticamente, uma
dívida de R$ 395 mil de juros por minuto (valores de janeiro de 2003 –
dolarizar). Isto é, teria que pagar ao final de 60 minutos, de 1 hora, R$ 23,69
milhões. A cada dia R$ R$ 568,77 milhões.
No final do primeiro mês, juntamente com outros 150 milhões de pessoas,
teria que ajuntar R$ 17 bilhões e 63 milhões. Exatamente, este foi o valor dos
juros pagos ao capital internacional pelo governo “brasileiro” em janeiro de
2003. (?)
O que
acontece com quem acredita que o Brasil existe?
Se responsabiliza com outros 150 milhões de idiotas e
de débeis mentais pelo pagamento destes valores cuja origem se jamais foi
contestada, jamais será explicada e, cuja multiplicação, rende mais riquezas a
particulares-hóspedes-do-governo do que qualquer imaginação de um marginal de
rua possa sequer compreender ou sequer sonhar algum dia.
O que
acontece com quem acredita que o Brasil existe?
Se se você acredita que abre mão de imensas riquezas
naturais (reais e que existem mesmo) ao negar a existência do Brasil, grande e
majestoso engano. Estas riquezas (que existem) jamais serão suas. De seus
filhos, nem pensar, como jamais serão de seus netos ou de qualquer de seus
descendentes nos próximos 500 anos.
Elas já tem donos – só por curiosidade procure
conhecer não a história antiga mas a história atual do denominado Quadrilátero
Ferrífero que fica no miolo do Estado de Minas Gerais e que também é um grande
quadrilátero (por que a figura, na verdade é mais do que uma figura geométrica)
aurífero e o ouro está ali guardado, muito bem guardado e, no momento, que eles
quiserem serão retirados mesmo que para isto tenham que colocar por terra uma
série de cidades com mais de cinco milhões de habitantes.
Não se engane, não ame um país que não ama você, que
não o conhece, que ignora seus direitos e que, todos os dias, o condena a uma
vida indigna. Mais grave, um país (que não será jamais o seu país) cuja lei
constituinte mente para todos e compromete-se com direitos que não
garante.