É crônica?
Rufino Fialho Filho
Pode
ser poesia? Pode
Pode
ser um conto? Pode
Pode
ser um romance ou embrião de um? Pode
As
escolas para os textos (veja que me acautelo em não afirmar definições literárias)
guardam a característica de um recurso para iniciados (isto é, limitações).
Escola
carrega em regras, número de sílabas, tônicas, rimas e uma variedade de tantas
regras (limitações, pode ser?)
Escola
vira seita – e tortura os novos.
Escolas
sobre escolas e, na poesia, até o verso livre. Até Rimbaud.
Maiakovsky
chuta o balde, o poeta é livre para criar suas regras, seu estilo, seu verso.
Isto
sem contar os poetas que desde Lucrécio são cientistas e não há maior poeta
moderno do que Einstein.
Isto
sem esquecer que muitos chegaram à poesia por vias transversas, considerando a
filosofia e a matemática (os parnasianos) como perigosas passagens com posturas
de seriedade e profundidade que jogam para o espaço o que é leve e que flutua,
que tem leveza e profundidade.
Os
melhores filósofos se tornam poetas sempre como Sócrates, como Marx, como
Heidegger, tem tantos mas fico nestes por mais proximidade e amizade.
Papeamos
quase todos os dias, quase todas as horas e rimos muito da algazarra humana,
suas loucuras, selvagerias e suas belezas permanentes, insistentes e folgazãs.
Pergunte
se este texto pode ser uma crônica. Pode.
Meu
drama é que depois de Drummond, de Bandeira, de Paulo Mendes Campos, de
Leminski ficando nos brasileiros (lá fora tem Miller, Bukowski, Fante, London),
jamais me sujeitaria a ser humilhado, jamais entraria na seara destes gigantes.
Seria
tragado pelo vendaval de imagens, imaginação e criatividade que nos capturam em
cada linha, em cada palavras. São insuperáveis e insubstituíveis.
Assim,
quando quero uma crônica, leio Paulo, leio Fante e me divirto com Stanislau
Ponte Preta, com Millor e seu jeito cínico de vadiar e xingar nossas tantas
mazelas.
Não
tentaria jamais escrever uma crônica.
Não seria
competente.
Além do mais,
sou um apaixonado pelo texto perfeito. E o meu texto ainda é um rascunho que submeto
a correções e a revisões incansáveis, intermináveis em que acrescento pouco e corto
muitas palavras inúteis, invasoras.
Com estes
fabulosos recursos da tecnologia, a nós, jovens aventureiros da palavra, cabe a
correção permanente (podemos ousá-la) e a eterna revisão – trocar palavras,
revisar conceitos e apagar a tempo a besteira escrita.
Aquilo lá que
você leu não é uma crônica.
Sei lá o que
é.
Com a alma de menino atrevido e peralta, digo que é um Quase Poema.
Uma Outra Prosa.
