segunda-feira, 4 de outubro de 2021

O SEMPRE INDISCIPLINADO

 







É crônica?

 

Rufino Fialho Filho

 

 

 

Pode ser poesia? Pode

 

Pode ser um conto? Pode

 

Pode ser um romance ou embrião de um? Pode

 

As escolas para os textos (veja que me acautelo em não afirmar definições literárias) guardam a característica de um recurso para iniciados (isto é, limitações).

 

Escola carrega em regras, número de sílabas, tônicas, rimas e uma variedade de tantas regras (limitações, pode ser?)

 

Escola vira seita – e tortura os novos.

 

Escolas sobre escolas e, na poesia, até o verso livre. Até Rimbaud.

 

Maiakovsky chuta o balde, o poeta é livre para criar suas regras, seu estilo, seu verso.

 

Isto sem contar os poetas que desde Lucrécio são cientistas e não há maior poeta moderno do que Einstein.

 

Isto sem esquecer que muitos chegaram à poesia por vias transversas, considerando a filosofia e a matemática (os parnasianos) como perigosas passagens com posturas de seriedade e profundidade que jogam para o espaço o que é leve e que flutua, que tem leveza e profundidade.

 

Os melhores filósofos se tornam poetas sempre como Sócrates, como Marx, como Heidegger, tem tantos mas fico nestes por mais proximidade e amizade.

 

Papeamos quase todos os dias, quase todas as horas e rimos muito da algazarra humana, suas loucuras, selvagerias e suas belezas permanentes, insistentes e folgazãs.

 

Pergunte se este texto pode ser uma crônica. Pode.

 

Meu drama é que depois de Drummond, de Bandeira, de Paulo Mendes Campos, de Leminski ficando nos brasileiros (lá fora tem Miller, Bukowski, Fante, London), jamais me sujeitaria a ser humilhado, jamais entraria na seara destes gigantes.

 

Seria tragado pelo vendaval de imagens, imaginação e criatividade que nos capturam em cada linha, em cada palavras. São insuperáveis e insubstituíveis.

 

Assim, quando quero uma crônica, leio Paulo, leio Fante e me divirto com Stanislau Ponte Preta, com Millor e seu jeito cínico de vadiar e xingar nossas tantas mazelas. 

 

Não tentaria jamais escrever uma crônica.

 

Não seria competente.

 

Além do mais, sou um apaixonado pelo texto perfeito. E o meu texto ainda é um rascunho que submeto a correções e a revisões incansáveis, intermináveis em que acrescento pouco e corto muitas palavras inúteis, invasoras.

 

Com estes fabulosos recursos da tecnologia, a nós, jovens aventureiros da palavra, cabe a correção permanente (podemos ousá-la) e a eterna revisão – trocar palavras, revisar conceitos e apagar a tempo a besteira escrita.

 

Aquilo lá que você leu não é uma crônica.

 

Sei lá o que é.

 

Com a alma de menino atrevido e peralta, digo que é um Quase Poema. 


Uma Outra Prosa.