Assim, construímos
uma Vista Alegre
(Uma história da sua capital ouvida sem alegria)
Rufino Fialho Filho
- Na noite do dia 6 para o
dia 7 de setembro de 1963, 300 famílias organizadas pelo PCB, o partidão, com a
participação de Raimundo Gil, Valentim e Dimas Perrin invadiram uma área de
eucalipto.
- Iniciaram a construção do
bairro Vista Alegre. É essa a novela que
eu quero contar, que eu quero escrever para a televisão e ganhar muito
dinheiro.
- Ali, tinha de tudo. Um
casal, por exemplo, isolou-se num barraco. Cagava lá dentro. Uma imundície.
Perderam as esperanças, o emprego, a moral, a vontade de viver. Enfurnaram-se
no barraco.
- Os vizinhos preocupados,
buscavam uma solução. Ao mesmo tempo, tinham medo. Como encarar aquela situação?
E se a loucura transformasse qualquer intervenção em uma tragédia.
- Um dia, partiram para o tudo
ou nada. O homem era uma montanha de cabelos e de sujeira, assim como a mulher.
A porta aberta contaminou a rua com um cheiro forte, azedo. Podre. Cheiro da podridão.
- Um grupo cuidou do casal e
outro grupo da casa.
- Ao limpar a casa,
descobriram que os dois eram enfermeiros. Depois descobriram a razão do
desespero, do desemprego e das suas angústias, da fome e da humilhação.
- Fez-se um pacto e uma das
cenas mais bonitas e emocionantes que todos nós vivemos ali foi o dia em que os
dois voltaram para o barracão e, no meio da rua, abraçaram-se, em meio de todos
nós, e se beijaram.
- Reconstruíram a vida junto
com aquele povo que vivia junto com eles.
- Tem a história do político eleito
para representar aquela gente e que havia se vendido para o Luciano, o
empresário, que se dizia dono das terras do novo Vista Alegre. Era grileiro
daquelas terras. Diziam todos os moradores.
- Com a ocupação, vinte anos
depois, os moradores poderiam requerer o usucapião e apoderar-se daquele bem.
Faltando seis meses, em 1983, quando a traição consumou-se na Secretaria de
Estado do Trabalho e Ação Social.
- Foi um erro em que
induziram o Estado.
O político eleito e Antônio Luciano
(além de um padeiro) deram um golpe no povo e no Estado. Receberam na época 150
milhões (?) por um terreno que não era do Luciano e nem de ninguém. Uma bela
fortuna embolsada por Luciano e seus comparsas.
Na sequência, outro golpe: financiariam,
em 20 anos, a venda dos terrenos aos ocupantes da área.
- É uma longa história de 30
anos. Augustim se transformou de líder popular em “dono do pedaço”. Virou um
homem rico e com um discurso de poucas palavras. Augustim dominou a área de
onde saiu eleito com mais de 6 mil votos.
- Depois, jamais teve mais do
que 500 votos em Vista Alegre.
Entretanto, Augustim conseguiu se
eleger várias vezes, explorando o processo eleitoral, transformando-se num
político assistencialista, clientelista, enganador, ludibriador e comprador de
votos, doando cadeiras de rodas, dentaduras, óculos, empregos temporários,
internações hospitalares, latas de óleo e cestas básicas.