terça-feira, 19 de outubro de 2021

URBANALIZAÇÃO

 






Assim, construímos 


uma Vista Alegre

 

(Uma história da sua capital ouvida sem alegria)

 

 

Rufino Fialho Filho

 

 

 

- Na noite do dia 6 para o dia 7 de setembro de 1963, 300 famílias organizadas pelo PCB, o partidão, com a participação de Raimundo Gil, Valentim e Dimas Perrin invadiram uma área de eucalipto.

 

- Iniciaram a construção do bairro Vista Alegre.  É essa a novela que eu quero contar, que eu quero escrever para a televisão e ganhar muito dinheiro.

 

- Ali, tinha de tudo. Um casal, por exemplo, isolou-se num barraco. Cagava lá dentro. Uma imundície. Perderam as esperanças, o emprego, a moral, a vontade de viver. Enfurnaram-se no barraco.

 

- Os vizinhos preocupados, buscavam uma solução. Ao mesmo tempo, tinham medo. Como encarar aquela situação? E se a loucura transformasse qualquer intervenção em uma tragédia.

 

- Um dia, partiram para o tudo ou nada. O homem era uma montanha de cabelos e de sujeira, assim como a mulher. A porta aberta contaminou a rua com um cheiro forte, azedo. Podre. Cheiro da podridão.

 

- Um grupo cuidou do casal e outro grupo da casa.

 

- Ao limpar a casa, descobriram que os dois eram enfermeiros. Depois descobriram a razão do desespero, do desemprego e das suas angústias, da fome e da humilhação.

 

- Fez-se um pacto e uma das cenas mais bonitas e emocionantes que todos nós vivemos ali foi o dia em que os dois voltaram para o barracão e, no meio da rua, abraçaram-se, em meio de todos nós, e se beijaram.

 

- Reconstruíram a vida junto com aquele povo que vivia junto com eles.

 

- Tem a história do político eleito para representar aquela gente e que havia se vendido para o Luciano, o empresário, que se dizia dono das terras do novo Vista Alegre. Era grileiro daquelas terras. Diziam todos os moradores.

 

- Com a ocupação, vinte anos depois, os moradores poderiam requerer o usucapião e apoderar-se daquele bem. Faltando seis meses, em 1983, quando a traição consumou-se na Secretaria de Estado do Trabalho e Ação Social.

 

- Foi um erro em que induziram o Estado.

 

O político eleito e Antônio Luciano (além de um padeiro) deram um golpe no povo e no Estado. Receberam na época 150 milhões (?) por um terreno que não era do Luciano e nem de ninguém. Uma bela fortuna embolsada por Luciano e seus comparsas.

 

Na sequência, outro golpe: financiariam, em 20 anos, a venda dos terrenos aos ocupantes da área.

 

- É uma longa história de 30 anos. Augustim se transformou de líder popular em “dono do pedaço”. Virou um homem rico e com um discurso de poucas palavras. Augustim dominou a área de onde saiu eleito com mais de 6 mil votos.

 

- Depois, jamais teve mais do que 500 votos em Vista Alegre.  Entretanto, Augustim conseguiu  se eleger várias vezes, explorando o processo eleitoral, transformando-se num político assistencialista, clientelista, enganador, ludibriador e comprador de votos, doando cadeiras de rodas, dentaduras, óculos, empregos temporários, internações hospitalares, latas de óleo e cestas básicas.


https://pt.wikipedia.org/wiki/Vista_Alegre_(Belo_Horizonte)