sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

Memória de lençóis

 






 

 

Deitei em mil camas

 

Rufino Fialho Filho

 

 

 

Acordo em tantas camas diferentes

 

 e em meio a tantos cheiros

 

a tantos espaços

 

Assim criei hábitos de localização

 

imediatos

 

tão logo acordo.

 

 

Sempre tenho que responder, onde estou

 

Buscar no campo visual informações

 

 

Situo-me no planeta.

 

Estou na Terra, planeta do Sistema Solar

 

Pronto.

 

 

O macio das camas é muitas vezes diferente

 

Como o calor também.

 

Tem aquela cama imensa

 

cheia de travesseiros

 

E a noite passa ao seu lado vigiando-o

 

(admirando-o?).

 

 

Tem a cama em que os pássaros te acordam.

 

Onde um único Bem-te-vi surge

 

com um único canto e desaparece.

 

 

Tem aquela outra cama que não te cabe

 

guardiã do doce amor paterno.

 

 

Tem aquela cama imensa em que ficaram sonhos

 

e muitas crianças e um vazio de saudades.

 

 

Tem aquela outra cama distante,

 

constante,

 

persistente,

 

amada

 

mais do que amada,

 

cheia de espaços e cordas que incendeiam,

 

amarram,

 

largam

 

e espalham-se em nossos corações.

 

 

São camas tardias,

 

em sua maioria,

 

mas são camas quentes.