
Carne e osso
Senti uma mão procurar a minha. Todos tinham as mãos estendidas no chão.
Era a ordem. Éramos dez e todos encapuzados.
Estávamos sentados ao longo da parede fria, muito fria.
Parede indiferente à sorte de todos e dela.
De repente, aquela mão rastejou ao longo do chão e da parede fria - indiferentes.
O chão, também indiferente a todos e a ele.
Aquela mão menor do que a minha rastejou para o meu lado.
Alguém mais do que eu precisava de um gesto.
Era a lenta e desesperadora procura de torturados!?
Tornara-se humilhante quaisquer fuga ou medo.
Era santo um “agüente firme, companheira”.
Identidade que se expressa, com toda a força possível, em um aperto de mão.
Risco total.
Poderíamos sofrer novos vexames. Novas torturas.
Quando nossas mãos se encontraram, nossos braços estavam totalmente estendidos.
Apertei, com força, a mão trêmula, fina, fria não como a parede,
não como o chão.
De meus lábios sangrados não foi possível impedir
o som rouco da dor e da esperança.
Havia de escapulir aquele grito de protesto
e de protesto para confirmar o gesto?
Repeti o que venho insistindo comigo mesmo para ser forte,
o mais forte que pudesse, sem ceder um milímetro.
O gosto da madeira e do meu sangue entraram
com violência dos meus lábios para a garganta.
Um peso incrível despejou-se sobre nossas mãos, como se fosse uma massa de concreto.
Não houve tempo para o grito ou a dor.
Nossas mãos foram destruídas.