sem intenções
1.
Sonho sonhos da cor dos sonhos
Sonho sonhos com ela
Busco nela a cor do mar
Busco nela um sabiá
2.
Só de pensar nela
Vem a idéia da parelha
Cuido de ter duas
por medo de perder a tua
3.
Caminho como quem voa
Cruzo oceanos, planetas
voo em percurso fechado
de canaletas em canaletas
4.
Posso dizer aos meus filhos
Vivi vidas mil vidas vivi
viverei outras 300 mil
em seus sonhos realizados
5.
Tive uma mulher presente
em todas elas, uma mulher
parente igual sangue forte
ali, permanente, face a face
6.
Meu pai não é um homem velho
Das histórias de Poté e do Mucuri
Descubro-me mais velho
- Como é jovem este bom bacuri!
7.
Ouço tuas histórias mulher
Teu percurso sempre inverso
Um desfazer o feito perverso
Recontando feridas em versos
8.
Ele corre velozes caminhos
carregando gentes e vazios
corta curvas, corta rios
Insensato menino vizinho
9.
Conheci o super-homem
E ele se chama André
Todos os dias grita Sazam!
E transforma todos nós!
(Para André Carvalho)
10.
Sei que não é assim feita de saber
A verdade nua e crua de Ilinóia
Finjo que é assim só para poder
Amá-la todos os dias e não afogar.
(Salvo pela bóia).
11.
Menino, corria descalço
pelo chão de fogo e fumaça
Quetava apenas quente
nos braços negros de Durvalina
12.
Aprendi a amar pelo cheiro
Falar palavras respirando
Apalpar corpos pelo nariz
Ouvindo seu cheiro derramar.
13.
Quem me quis, quis mudar-me
- Será assim diferente e assado!
Vi tudo se transformar
Nunca imaginara-me um monstro!
14.
- Serei melhor do que Milton.
Melhor do que Petrarca, Dante.
- Estás certo. Ninguém mais tem
tempo para ler páginas de antes!
15.
Faço poesias e respiro.
Existo e agasalho-me
com histórias e poemas.
E capturo-me um palhaço!
16.
Quadra dupla
“Não sei se é fita ou se é fato
só sei que ela me fita,
me fita mesmo de fato”.
Seus olhares foram olhares
perdidos em um tempo de falares
Não consegui prender nos meus
os olhares e falares que nela
morreram de fato.
17.
A água jorra da mina na serra
Minhas lágrimas caem na terra
O rio vira mar, eu viro teu chão
Do mar vida, do chão frutos!
18.
Galicho e Teófilo
Para Thiago e Teófilo
Era um cavalinho veloz,
o mais veloz da fazenda.
Era meu aquele cavalinho,
Galicho, indomável e feroz!
Corria certeiro rumo ao futuro
Era meu o futuro e dele o rumo
Corria veloz extraindo de mim
rumo diverso que nos distanciaria.
Galicho sobrevivi veloz
letra por letra, ainda corre
mas seus rumos estão em mim
Dentro de um futuro que sou eu.
Meninos, muitos meninos
sonham com seus cavalinhos ágeis
Seus Galichos ficarão para trás!
Galicho em mim, mais que sonho, sou eu.
O homem e um animal
são capazes de mais amor!
Um fazer, refazer-se
Ser, mais que ser, essência.
Galicho correu em meu peito
tão veloz que meu coração
atropelado, perdeu-se sem freio
No vôo da trilha descobri ser feliz!
Arrancaram-no de mim
E quase de mim eu mesmo!
Perdido descobri Galicho
Correndo em meu peito.