quarta-feira, 21 de setembro de 2011

TERRA.COM






Cabra da peste


         Para Cláudia e Maristela, de Cascavel, no Paraná





Atravesso uma senhora maré


derrotado na justiça


(porca justiça)






sem ter onde dormir


(e a cama que me oferece,


humilha)






sem ter onde comer


(e a comida que me chega,


humilha)












sem ter os meus filhos


(alguns contra mim)






sem ter sono


(sobrevivo com poucos sonhos)






sem ter o que comer


(e o que como é olhado,


como se fosse furto)






sem ter uma cama


(bem perto dos que


vivem na rua)






estou sem saber nem mesmo


o porquê vivo


(sem razão de viver)






Percorro, todos os dias,


o mesmo caminho


(nem mesmo consigo


cansar)






Sigo, sigo, sigo

Vou seguindo


(nem sei se vou,


se volto)






Procuro meus papéis


(agora espalhados,

um tanto aqui,


outro tanto lá)






Por que cheguei a este ponto


(e somos milhares


de milhões)






Homens, mulheres e crianças


sem a comida

só sem o que comer

sem o que comer mesmo


(bem perto de perder a vida)




Na identificação desta foto, a quase certeza:
são sobreviventes de uma enchente