A ORIGEM DO MUNDO
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A Origem do Mundo, 1866, de Gustave Coulbert, Musée D´Orsay, Paris |
1.
- Mãe!
Ouço o grito. A voz forte é de um rapaz.
Ele repete o grito três vezes.
Na madrugada, este grito destaca-se.
Eu acordei com o primeiro grito porque foi perto da minha janela.
Ouvi com nitidez os outros dois e doeu em mim, com o grito a sensação da perda.
Algo como um aleijão, não poder dar este grito.
Algo como um aleijão, não poder dar este grito.
Eu não mais posso gritar esta palavra - mãe.
Ela não mais me ouvirá. Não mais me responderá.
Não mais me acudirá para reduzir minha febre, acabar com os meus medos.
É uma dor muito profunda.
Dor que não dói como dói quebrar uma perna, dor que embrulha o estômago.
Dor que não dói como a dor da tortura infame, aquela dor que dói em todos os homens.
Dor que não dói como a dor da tortura infame, aquela dor que dói em todos os homens.
É uma dor que só a mãe e o filho conhecem – e que só a mãe atende.
Os gritos do rapaz foram nítidos e a audição perfeita na madrugada silenciosa.
- Mãe!
- Mãe!
- Mãe!
(Olegário Augusto, de Petrópolis, RJ)
2.
Lutero lutou para introduzir no conceito de data de aniversário, uma nova cerimônia e novo ritual.
A data deveria ser desindividualizada.
Tirar este negócio concentrado na pessoa que nasceu.
Tirar este negócio concentrado na pessoa que nasceu.
Ampliar o conceito e ser o primeiro ato do dia do aniversário o reconhecimento da maternidade.
Como ato final do ritual, a festa do filho, mas como ato inicial a festa da mãe.
Como ato final do ritual, a festa do filho, mas como ato inicial a festa da mãe.
O dia do aniversário deveria ser uma festa que começasse com uma grande homenagem à mãe.
Ela deveria ser presenteada, para ela deveria haver cantos e mais cantos.
Ela é a vida verdadeira daquele ser gerado.
O primeiro presente deveria ser para a mãe de quem recebemos, todos, o maior de todos os presentes: a vida.
A origem de tudo.
Ela deveria ser presenteada, para ela deveria haver cantos e mais cantos.
Ela é a vida verdadeira daquele ser gerado.
O primeiro presente deveria ser para a mãe de quem recebemos, todos, o maior de todos os presentes: a vida.
A origem de tudo.
Ali estava a origem da vida – a origem do próprio mundo segundo testemunho do pintor Gustave Coulbert, em 1866.
Radicalizando esta baboseira, um bom amigo, nos seus 60 anos, abandonado pela mulher e vivendo com uma puta sugadora, lamentava-se com as seguintes frases:
- Mãe, pra que você pariu? Mãe, por que você meteu?
E mastigava com vagar seu pastel de carne.
O lamento profundo, irônico e sentido, condenava a vida que se vivia, mas devolvia à mãe a possibilidade do não existir - que é só dela.
Afinal, toda mãe quer o filho e o quer para toda a vida, se possível para a eternidade.
E todo filho é eterno, eternamente amado... e só eternamente amado... pela mãe.
E todo filho é eterno, eternamente amado... e só eternamente amado... pela mãe.
(Há alguns casos, extraordinários de amor eterno. Há.)
(Honório Bicalho Filho, de Juiz de Fora, Minas)
3.
O BILHETE
Filha,
estes intróitos é para protestar contra o tratamento que uma filha/filho dá à mãe.
Sua mãe é a melhor mãe do mundo - todas.
Vai com calma.
Há que compreender a revolta. Mesmo não justificadas
Não faça sua mãe chorar,
a não ser de felicidade com a sua felicidade.
Reconheça a luta das mães, quase sempre sozinhas,
quase sempre uma luta solitária, apenas por vocês.
Valorize tudo o que ela faz.
Ela faz pelos filhos, por você.
Se quiser, um dia, imaginar o tamanho do amor que ela (a mãe) têm
e a beleza que ela (a mãe) guarda,
você será a filha mais feliz do mundo.
E eu, apenas, só, um pai,
te amo,
(Zé Antônio Prates, Foz do Iguaçu, Paraná)