segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

A VERDADE



Como um jogo



Esta estranha sensação em que não se consegue ficar mais em lugar nenhum.

É imediata a vontade de sair.

Ele sai por toda a cidade, sonhando em chegar na caverna, no seu esconderijo, onde, ultimamente, se sente melhor, sozinho.

E mesmo ali não consegue ficar mais do que alguns minutos.

Sai para a casa paterna. Aí é difícil, quase impossível ficar. Já pensa em ir para a casa dos filhos.

Na casa dos filhos pensa em ir para a casa da Pula, na casa da Pula é pular e sair.

Sair para a rua, onde o que mais faz é caminhar, caminha, caminha e já quer ir para outro lugar.

Deste outro lugar já pensa em ir para o tribunal, do tribunal sai para a editora. Da editora para a caverna, para o seu esconderijo.

Em lugar nenhum sente bem, não se sente bem com o ar, com a terra, com o mundo, com este mundo.

Então por que não fazer um outro mundo? O que o impede? O que o impossibilita?

Fazer um outro mundo exige apenas criatividade - só.

Às vezes ser criativo é cansativo. Se os instrumentos da criatividade se limitarem às palavras, ah!, então, é, como assegura Balzac, “escrever é mais difícil do que conduzir exércitos na mais grandiosa das batalhas de Napoleão”.

Ele observa as pessoas que escrevem, os escritores de histórias infantis, os poetas, os romancistas que passam pela editora.

Chega um senhor, já velho, quase morto, cansado, trazendo um livro pronto, é o seu livro - cito este porque ele não é um escritor profissional.

Hoje, escritores com 27 anos tem 31 livros publicados, alguns de grande vendagem em todo o País.

Este senhor que carrega sua história tem do livro outra dimensão.

É a sua vida.

Um dia, ele saiu de casa, com aquele calhamaço debaixo do braço. Agora, chega certo de que tem o livro, o seu livro, concluído.

O que é um livro para ele? Um bem precioso. Suas palavras, com toda a certeza, foram garimpadas, não estão entrando de qualquer jeito nas frases e as frases foram escritas mil vezes, desde que ele muito jovem, anotava, num pedaço de papel, em qualquer pedaço de papel, suas histórias, suas reflexões.

O que está anotado no livro tem vida e é verdade. A sua verdade.

É uma verdade, mesmo aqueles casos estranhos, contados a ele por pessoas de credibilidade, às vezes, duvidosa, mas são histórias cheias de vida. Histórias que passaram a integrar a verdade da sua vida.

- Tudo é verdade, mesmo as minhas mentiras – diz ele.