quinta-feira, 14 de novembro de 2013

QUEM SOU EU



Todos somos ausentes




Juca Prates









Correndo atrás de si mesmo

Atropele a ideia de um mundo

sem medo



Esbarrando nas paredes de metal


Não se iluda com espaços

envidraçados

um susto, um pulo,

puta que pariu

Passou da hora.


Perde-se o emprego

Abrir a porta

é a descoberta de um outra hora

Uma hora que nunca viu

Hora em que as crianças jogam bola




Correndo atrás da imagem perfeita

da biografia escolhida

do ideal sugerido nos livros

e gesto imitado





Correndo atrás de nada

O medo de ser

O medo do espelho

E quem vive o pensar obtuso

prisioneiros de fato

(estes sim, presos)


Ausentes do ser e da personalidade

Glub-glug

O mergulhar na garganta

de olhos fechados


Tibum, cair em desertos

em outras vastidões isoladas

cercado de igualdades

em cima de igualdades

debaixo de igualdades




Ridícula ansiedade,


ansiedade de viver


Isto é a vida


Segredo da noite e do dia
                                     



Amigo, por que forçar os dias?


Por que querer apressá-los?


Vamos viver


Mesmo sem bicicleta pra passear

Mesmo sem manteiga no pão




Quando conheci meu filho

dois anos depois

quis abraçá-lo e não pude

duas paredes de grades

nos separavam

Nós dois sorríamos

Queria lhe dizer qualquer coisa

Não soube falar

Não houve espaço para ficar


As mãos guardei-as no espaço

onde poderia abraçá-lo


Ele também me quis falar – sei disso


Riu e passou a mão no rosto da mãe

As pessoas falavam

Eu respondia

sem saber o que dizia


nunca soube dizer nada