RISCO TOTAL
Adalberto
Figo
Você
pode ser visto escrevendo
(Cuidado!)
Para
que escrever?
(Cuidado!)
Você
pode ser visto escrevendo
(Cuidado!)
Leia
antes o que está aí
Vale
a auto-censura
antes
da auto-entrega
(Cuidado!)
Você
pode se denunciar
No
velho crime da opinião
Crime
da palavra
Crime
da ideia
Povo
precoce
ainda
não aprendeu a viver no Estado
Loucos!
Arriscam-se,
na aventura da tinta, do papel
(Esqueceram
o assassinato de Espinosa
Homem
que pensava mas que burro,
Burro,
burro, pôs no papel o que pensava
(Cuidado!)
Escrever
para que
se
nada disso se divulga?
se
ninguém saberá do voo?
Escrever
para quem
se
a palavra não vai?
se
até a palavra cai?
Num
ponto descoberto
(Cuidado!)
Censure-se
sempre censure
o
que escreveu ontem
pode
ser infração hoje... e olhe lá
Infração,
não.
Crime
Crime
de lesa majestade
Crime
contra o Estado
Pena:
morte cruel
Faça
a uma revisão
Caso
insista em escrever
Ou
contrate um revisor
Melhor,
um censor
(Estou
disponível 24h)
Mesmo
assim
(Cuidado!)
Nem
no tumulto
de
prisões, censuras e editais,
os
vocábulos supridos, proibidos,
aprisionados,
serão
mais fecundos
sempre
serão mais fecundos
que
os editais, os cortes e as proibições
e
todas as prisões
e
do que todos os assassinatos
(Espinosa
está aí)
Ah!
As palavras, os vocábulos!
Eles
saem mais adiante
no
cio profundo
na
maternidade exultante
de
criar
de
fazer
do
sem amarras