Existir
não é ser
Pablo de Coyoacan
Vá
observar um pouco
o que se passa do lado de fora
o que se passa do lado de fora
Vá
ver a vida fluir
Ver
sentir o sol e a boa sombra
A
silhueta de um vaso de flores plásticas
(mesmo
estas são belas)
A
cortina que balança
e
as apagadas lâmpadas que ainda brilham
reflexo
das luzes e da claridade
Saia
desse mergulho em sangue
e
enxugue-se nas razões da cidade
Abandone
a vida arrastadas, deixe-a no deserto
Seu
deserto cor de chumbo
Levante-se
da cadeira que te tornou pesada
Veja
ainda hoje o amor
e
o olhar da mulher que a gente quer
a
mulher indecifrável
e
mesmo inexpressiva
(sem
cor, semluz)
Em
cima de tudo há um véu
Em
cima do céu
Em
cima da palavra mesa
Em
cima do que nomeio mulhernua
Mariana,
em cima de ti há um véu
Em
cima do meu ciúme e da tua perna nua
Um
véu encobre tudo o que há em ti
Cobre
a noite de tuas hesitações
E
o chão dos meus jantares
Em
cima de nossos abraços
Há
um véu e o meu receio de repetir
de
encontrar-te no retorno
(para
seu Juca)
Um
vago vento que insiste
com
o seu lamento musical
feito
nas cartas mal-escritas
Um vago vento que insiste
Aquela pedra que juntos interrogamos
A canoa que se arrasta e nos arrasta
Um
vago vento que insiste
O
pomar mal cuidado
As
cercas das divisões
O galope na estrada por você aberta
O galope da estrada na gente igual
Um vago vento que insistes
Ouve,
é a hora de ainda insistir
Repetir,
repetir como quem nunca começou
Um
vago vento que insiste
A gente não percebe, nem no céu há
rastro
Nem
os olhos distinguem, se sou eu, se sou você
Um vago vento que insiste