terça-feira, 23 de dezembro de 2014

VER & VIVER







Existir não é ser


Pablo de Coyoacan



Vá observar um pouco 


o que se passa do lado de fora


Vá ver a vida fluir


Ver sentir o sol e a boa sombra


A silhueta de um vaso de flores plásticas


(mesmo estas são belas)


A cortina que balança


e as apagadas lâmpadas que ainda brilham


reflexo das luzes e da claridade


Saia desse mergulho em sangue


e enxugue-se nas razões da cidade






Abandone a vida arrastadas, deixe-a no deserto   


Seu deserto cor de chumbo


Levante-se da cadeira que te tornou pesada


Veja ainda hoje o amor


e o olhar da mulher que a gente quer

   
a mulher indecifrável


e mesmo inexpressiva


(sem cor, semluz)


Em cima de tudo há um véu


Em cima do céu


Em cima da palavra mesa


Em cima do que nomeio mulhernua


Mariana, em cima de ti há um véu


Em cima do meu ciúme e da tua perna nua


Um véu encobre tudo o que há em ti


Cobre a noite de tuas hesitações


E o chão dos meus jantares


Em cima de nossos abraços


Há um véu e o meu receio de repetir     


de encontrar-te no retorno


(para seu Juca)


Um vago vento que insiste   


com o seu lamento musical  


feito nas cartas mal-escritas


         Um vago vento que insiste


         Aquela pedra que juntos interrogamos


         A canoa que se arrasta e nos arrasta


Um vago vento que insiste


O pomar mal cuidado


As cercas das divisões



         O galope na estrada por você aberta


         O galope da estrada na gente igual


         Um vago vento que insistes


Ouve, é a hora de ainda insistir


Repetir, repetir como quem nunca começou


Um vago vento que insiste


         A gente não percebe, nem no céu há rastro


Nem os olhos distinguem, se sou eu, se sou você


Um vago vento que insiste