quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

EUS PERDIDOS


Tudo pode acontecer com um poeta





Lá no futuro



Antes dos oitenta e tão próximo de nada



 Petrônio Graeff





Quando eu crescer, eu serei...


serei a flecha veloz,


o touro bravo ou sentado,


eu serei médico,


um homem das almas e dos sonhos,


intérprete da loucura


e de todas as alucinações.




Quando, voltar de Kiev,


traçarei outros caminhos,


nada, nada me amarrará.


Algo me amarra?


Me amarra a placidez de Hemengarda,


a viuvez de Estergilda,


a voz rouca de Lenora,


tudo me segura nesta cidade,


até o rio destruído


 e a sua ainda bela paisagem,


água que corre entre pedras


em seus mil quilômetros de gritos indeléveis.


O que me amarra é o sonho de Petrarca


em busca da sua também Beatriz.


Não posso me prender em séculos


que não me dizem mais nada.


O que faço nos trecentos


se nem em inferno posso sonhar?


Quando eu crescer...?