quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

RISCO CALCULADO



 
Com o psiquiatra sempre se terá um papo inteligível

 

 

O primeiro psiquiatra




Borislav Nikolaiveski





Cara fechada ou séria, sério ou tenso. Na sua frente, ele, o psiquiatra.

Está distante em um canto escuro da sala, próxima de uma prancheta. Ele anota sua identificação.

Com certeza têm a mesma idade.

Lá fora, uma moça chora no canto de uma das salas. Naquela clínica todas as salas estavam na penumbra. Até a bela moça da recepção era vítima da penumbra

Antes, casa de família. Agora, clínica psiquiátrica.

Mal humorado, já era mais de 20h, o psiquiatra indaga por que ele está ali, o que ele tem e, distante alguns metros, também na penumbra, a resposta chega de quem se preocupara com as razões de uma agressividade desnecessária e que, por duas vezes, atingira com violência uma mulher.

Qual o tipo de droga? Nenhum.

Bebia?

Ele, o psiquiatra, grunhe uma análise sobre o que seria considerado um alcoólatra. Definições de alcoolismo e de dependência química. Aula, aula.

Sem mais, na bucha, ele faz uma afirmativa sobre profissão, bebida e caráter:

“Jornalista que não bebe é mau caráter.”

Uma sentença na justiça da loucura? Um diagnóstico maldito? Um juízo ligeiro?

Aquilo ali soa como uma agressão. Também desnecessária. O psiquiatra está tenso.

Quer saber sobre a família, continua a falar sobre os efeitos do álcool e procura encerrar a consulta.

Está fatigado. Marca a próxima consulta. Dia. Hora. O dia dele. A hora dele.

Está marcada a próxima consulta. Não acontecerá.  

O risco maior é ele descobrir quem é a mulher e quem, de fato, agride:  se aquele sujeito na sua frente ou se a mulher, a mulher dele, a mulher do psiquiatra. .