O primeiro
psiquiatra
Borislav Nikolaiveski
Cara
fechada ou séria, sério ou tenso. Na sua frente, ele, o psiquiatra.
Está
distante em um canto escuro da sala, próxima de uma prancheta. Ele anota sua
identificação.
Com
certeza têm a mesma idade.
Lá
fora, uma moça chora no canto de uma das salas. Naquela clínica todas as salas estavam
na penumbra. Até a bela moça da recepção era vítima da penumbra
Antes,
casa de família. Agora, clínica psiquiátrica.
Mal
humorado, já era mais de 20h, o psiquiatra indaga por que ele está ali, o que
ele tem e, distante alguns metros, também na penumbra, a resposta chega de quem
se preocupara com as razões de uma agressividade desnecessária e que, por duas
vezes, atingira com violência uma mulher.
Qual
o tipo de droga? Nenhum.
Bebia?
Ele,
o psiquiatra, grunhe uma análise sobre o que seria considerado um alcoólatra. Definições
de alcoolismo e de dependência química. Aula, aula.
Sem
mais, na bucha, ele faz uma afirmativa sobre profissão, bebida e caráter:
“Jornalista
que não bebe é mau caráter.”
Uma
sentença na justiça da loucura? Um diagnóstico maldito? Um juízo ligeiro?
Aquilo
ali soa como uma agressão. Também desnecessária. O psiquiatra está tenso.
Quer
saber sobre a família, continua a falar sobre os efeitos do álcool e procura
encerrar a consulta.
Está
fatigado. Marca a próxima consulta. Dia. Hora. O dia dele. A hora dele.
Está
marcada a próxima consulta. Não acontecerá.
O
risco maior é ele descobrir quem é a mulher e quem, de fato, agride: se aquele sujeito na sua frente ou se a mulher,
a mulher dele, a mulher do psiquiatra. .