terça-feira, 7 de junho de 2016

BAÚ DE VIDAS



Pedro Nava

 

 

 

A idade do escritor



Ponce de Albuquerque



Há escritores que começam a sua produção literária aos 50, outros aos 60. E existem outros aos 70 anos. Pedro Nava é um desses escritores excepcionais, um ser de exceção. Suas produções são, na aparência, inexplicáveis. Elas são caudalosas. Ao longo de um tempo suas poesias eram as poesias de um poeta bissexto – um poeta de poucos poemas. Só que eram poemas de um grande poeta de poucas palavras. Mas seus versos eram versos de qualidade e sensibilidade inquestionáveis.





Causam admiração e os editores têm talento para explorar a imagem literária. Quando se tratam de bons escritores, elas nadam de braçada, é sopa no mel, é ir para a rua e faturar. O foco concentrar-se-á naquele velho autor, agora apontado como um fenômeno. E a primeira abordagem do caso não é sobre seus reais valores estéticos, às vezes, marketeiramente, mantidos em segundo plano.


A primeira abordagem é em cima da idade. Sempre se produzirá belas fotos e alguns sobreviventes deste percurso poderão ser resgatados em suas tocas, camas, hospitais, asilos e serão memoráveis em suas recordações. Outros, mais atilados, já deixaram suas publicações ao longo do longo tempo e poderão ser resgatados. Alguns justificando, até mesmo, belas e vantajosas reedições.


Estes fenômenos literários têm claras explicações. Uma delas é o grande laborar. Não são obras tardias ou autores tardios. São obras que demorariam (e demoraram de fato) décadas sendo pensadas, pesquisadas, escritas e reescritas. Pedro Nava.


São autores sem outros interlocutores. Não há, naquele momento, quem os ouça ou que tenham interesse em perder tempo ouvindo um velho cheio de histórias e repetindo, esmerilando, lapidando suas histórias. Muitos dos seus amigos e contemporâneos já não estão mais presentes, os que restam são limitados em seus espaços e o que lhes restam de tempo ficam presos a grupos vestidos de branco ou que não podem acompanhá-los numa caminhada maior do que a do quarto ao banheiro, à sala de televisão ou à mesa do almoço e do jantar.


Estes autores, com suas publicações, são capazes de forjar novos interlocutores e reatam, por suas capacidades, a interlocução com a vida, com o presente, mas miraram, com toda certeza, um interlocutor futuro.


Outra explicação é a visão da atividade literária contida nesta atitude. Eles sabem e sabiam que a relação com a produção literária numa idade muito jovem implica numa transação mais intensa, onde a interatividade implicaria uma hiperatividade, não apenas, na submissão ao tempo e às pessoas, em um julgamento das pessoas e da hora. Mais grave, implicaria em divórcio com o escritor que se constrói, com um ser inacabado, sempre um ser inconcluso.


Há aquele momento em que tudo o que era possível fazer está feito e não há mais nada a esperar e o mais perfeccionista, quase todos o são, sabe também que o homem não, a obra, sim, esta ainda poderá permanecer inacabada. Deixam o desafio  – agora, outros que a completem.