Lolita,
Dolores
Depois
do filme, dificilmente se lerá o livro.
(Aí
está o erro: deve-se lê-lo)
Gustavo de Almeida e Silva
A
literatura e o cinema são pontos de partida, de um e de outro e daí se parte para
novas produções, reflexões etc.; assim como o cinema se alimenta da literatura,
a literatura tem no cinema uma poderosa fonte de inspiração e de novas
propostas literárias, onde formas e conteúdos ganham impulsos e novos
conceitos.
No
Caso Lolita, literatura e cinema são evidências de alguns equívocos.
Primeiro,
a obra literária é um grande exercício de criatividade e de audácia narrativa -
maior até do que a abordagem audaciosa da pedofilia. Para a transposição se exigiria algo mais, a
maior e mais completa liberdade criativa para talvez um novo formato, algo no
estilo de A Tempestade, de Shakespeare e A Tempestade, de Kenneth Branagh
Segundo,
a obra literária introduz discussões sobre um novo formato de caracterização de
personagens e de relato.
Terceiro,
há uma seqüência narrativa que faz da história em si um apêndice.
Quarto,
o que é a pedofilia? O que é o sexo e a atração sexual?
O
filme e o tema - a pedofilia - seriam as razões para se afastar da obra escrita
de Nabokov. O filme estaria mais para a discussão da qualidade e da capacidade
de criação/adaptação dos novos criadores, aqueles que trabalham a partir de uma
criação ou de uma proposta estética (o livro).
Com
o livro na mão, o que o cineasta (arte coletiva) tem é um ponto de partida.
O
que acontece com Lolita, livro e cinema, é que se trata de duas obras
distintas.
A
partir de uma história, uma diz de uma maneira e outra diz de outra. Há
limitações em uma e em outra. Há recursos excepcionais em uma e em outra.
No
caso, a linguagem cinematográfica utilizada não captou a linguagem literária.
Nem
conseguiria, nem se proporia.
Sequer
se aproximou das inúmeras fórmulas interativas da linguagem literária que se
reportava tanto à erudição e à crítica erudita quanto à crítica de costumes e à
narração de costumes e comportamento.
O
filme poderia ter ido além e recriado a partir do tema e do próprio enredo. Aí
o erro da transliteração e o erro do fôlego.
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