segunda-feira, 6 de junho de 2016

DOLORES, LOLITA







Lolita, Dolores


Depois do filme, dificilmente se lerá o livro.
(Aí está o erro: deve-se lê-lo)

 Gustavo de Almeida e Silva








A literatura e o cinema são pontos de partida, de um e de outro e daí se parte para novas produções, reflexões etc.; assim como o cinema se alimenta da literatura, a literatura tem no cinema uma poderosa fonte de inspiração e de novas propostas literárias, onde formas e conteúdos ganham impulsos e novos conceitos.

No Caso Lolita, literatura e cinema são evidências de alguns equívocos.

Primeiro, a obra literária é um grande exercício de criatividade e de audácia narrativa - maior até do que a abordagem audaciosa da pedofilia.    Para a transposição se exigiria algo mais, a maior e mais completa liberdade criativa para talvez um novo formato, algo no estilo de A Tempestade, de Shakespeare e A Tempestade, de Kenneth Branagh

Segundo, a obra literária introduz discussões sobre um novo formato de caracterização de personagens e de relato.

Terceiro, há uma seqüência narrativa que faz da história em si um apêndice.

Quarto, o que é a pedofilia? O que é o sexo e a atração sexual? 

O filme e o tema - a pedofilia - seriam as razões para se afastar da obra escrita de Nabokov. O filme estaria mais para a discussão da qualidade e da capacidade de criação/adaptação dos novos criadores, aqueles que trabalham a partir de uma criação ou de uma proposta estética (o livro).

Com o livro na mão, o que o cineasta (arte coletiva) tem é um ponto de partida.

O que acontece com Lolita, livro e cinema, é que se trata de duas obras distintas.

A partir de uma história, uma diz de uma maneira e outra diz de outra. Há limitações em uma e em outra. Há recursos excepcionais em uma e em outra.

No caso, a linguagem cinematográfica utilizada não captou a linguagem literária.

Nem conseguiria, nem se proporia.

Sequer se aproximou das inúmeras fórmulas interativas da linguagem literária que se reportava tanto à erudição e à crítica erudita quanto à crítica de costumes e à narração de costumes e comportamento.

O filme poderia ter ido além e recriado a partir do tema e do próprio enredo. Aí o erro da transliteração e o erro do fôlego.
                                                                               

                                       

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