quarta-feira, 24 de agosto de 2016

A PROSTITUTA DO DIABO









A metáfora infernal


Giuseppe de Salina



É ela quem transa com o diabo.

Ela é a mulher que dá prazer ao diabo, com quem o diabo goza e paga pelo prazer.

Para o diabo ter prazer tem que ir até ela.

Ela encara o diabo e o domina em seus braços.

Primeiro, a mulher.

É uma mulher que estabelece uma relação profissional. Uma relação de igual com quem a procura e que tem o que oferecer a quem a procura.

Ali, o diabo procura e ela vende. Ela oferece, ela é quem aceita o negócio e o realiza, em trocado puro pagamento, do negócio.

Não há espaço para trapaças e nem o diabo vai deixar de pagar, não teria de onde mais tirar prazer em uma mulher, nenhuma mulher transaria com ele, senão ela que é a prostituta do diabo.

Ela é uma mulher e uma mulher diferente.

A diferença está em que nenhuma mulher transaria com o diabo como ele é descrito pelos seus inimigos:

feio,

com chifres,

rabo,

cara de bode,

vermelho,

pequeno,

com um tridente na mão,

mau

e capaz de todas as maldades,

caçador de almas e de destinos.

Ela transa com o diabo.

Ela está segura de que ele não levará sua alma e muito menos seu destino.

Sua alma ele não quer, ela é mais do que ele e ele carece dela. 

Depois, o prazer.

Ela é a mulher que dá prazer ao diabo e que goza com o diabo.

E ele paga.

Ela é mais.

Não há igualdade.

Há diferença.

Ela o espera.

Ele a procura e ele gosta do que encontra com ela, do que tem com ela, o prazer de gozar, de esporrar, de comer uma boceta sem nenhuma outra relação que não a relação comercial, comprar e pagar.

Nada mais.

O pagamento é a etapa mais difícil.

A natureza do diabo o levaria ao golpe, ao não pagamento.

Até ao assassinato da sua prostituta, pois depois do prazer, ela não lhe teria mais serventia.

O dado é que não há outra e é só ela, de quem ele não pode se dispor e com quem o comércio funciona.

Ele tem que pagar, tem que morrer na nota, tem que abrir a mão, meter a mão no bolso e se humilhar (é de sua natureza não pagar nada do que foi combinado, acertado, contratado).

Para o diabo, a humilhação maior está no pagamento.

É o ato final deste encontro entre dois seres poderosos: o diabo e a prostituta.

A relação prostituta e diabo, no polo em que a prostituta é o polo positivo, o polo de atração.

Ele se dirige a ela, ele a procura, ele tem necessidade dela, ele precisa dela, pois é da natureza do diabo satisfazer suas necessidades infernais e uma necessidade é o prazer.

Diabo também quer trepar, diabo também quer gozar, fazer diabinhos.

Neste polo, a prostituta é a referência, a expectativa de prazer para o diabo.

O outro polo tem o diabo como polo positivo, que sustenta a prostituta, que é o freguês da puta e que compra a mercadoria.

Agente do negócio, ele a potencializa, ele a torna realizada no que ela é neste mundo dos negócios, onde tudo se compra, em que o amor e o prazer também são mercadorias que tem seu preços, mercado e cotações.




Quem mais usou a razão em sua luta foi Lutero 





Esta prostituta é a razão.

Usa-se a metáfora. 

Quem identificou a razão como  prostituta do diabo foi Lutero.

Para Lutero, ela foi sua principal aliada na sua luta contra os dogmas religiosos.

Disse Lutero que “a razão é a prostituta do diabo”. 

E o disse categoricamente.

E ninguém usou mais a razão para detonar o que quis do que Lutero.

Um sábio?