A
metáfora infernal
Giuseppe de Salina
É ela quem transa com o diabo.
Ela é a mulher que dá prazer ao diabo, com quem o diabo goza e
paga pelo prazer.
Para o diabo ter prazer tem que ir até ela.
Ela encara o diabo e o domina em seus braços.
Primeiro, a mulher.
É uma mulher que estabelece uma relação profissional. Uma relação
de igual com quem a procura e que tem o que oferecer a quem a procura.
Ali, o diabo procura e ela vende. Ela oferece, ela é quem aceita o
negócio e o realiza, em trocado puro pagamento, do negócio.
Não há espaço para trapaças e nem o diabo vai deixar de pagar, não
teria de onde mais tirar prazer em uma mulher, nenhuma mulher transaria com
ele, senão ela que é a prostituta do diabo.
Ela é uma mulher e uma mulher diferente.
A diferença está em que nenhuma mulher transaria com o diabo como
ele é descrito pelos seus inimigos:
feio,
com chifres,
rabo,
cara de bode,
vermelho,
pequeno,
com um tridente na mão,
mau
e capaz de todas as maldades,
caçador de almas e de destinos.
Ela transa com o diabo.
Ela está segura de que ele não levará sua alma e muito menos seu
destino.
Sua alma ele não quer, ela é mais do que ele e ele carece
dela.
Depois, o prazer.
Ela é a mulher que dá prazer ao diabo e que goza com o diabo.
E ele paga.
Ela é mais.
Não há igualdade.
Há diferença.
Ela o espera.
Ele a procura e ele gosta do que encontra com ela, do que tem com
ela, o prazer de gozar, de esporrar, de comer uma boceta sem nenhuma outra
relação que não a relação comercial, comprar e pagar.
Nada mais.
O pagamento é a etapa mais difícil.
A natureza do diabo o levaria ao golpe, ao não pagamento.
Até ao assassinato da sua prostituta, pois depois do prazer, ela
não lhe teria mais serventia.
O dado é que não há outra e é só ela, de quem ele não pode se
dispor e com quem o comércio funciona.
Ele tem que pagar, tem que morrer na nota, tem que abrir a mão,
meter a mão no bolso e se humilhar (é de sua natureza não pagar nada do que foi
combinado, acertado, contratado).
Para o diabo, a humilhação maior está no pagamento.
É o ato final deste encontro entre dois seres poderosos: o diabo e
a prostituta.
A relação prostituta e diabo, no polo em que a prostituta é o polo
positivo, o polo de atração.
Ele se dirige a ela, ele a procura, ele tem necessidade dela, ele
precisa dela, pois é da natureza do diabo satisfazer suas necessidades infernais
e uma necessidade é o prazer.
Diabo também quer trepar, diabo também quer gozar, fazer diabinhos.
Neste polo, a prostituta é a referência, a expectativa de prazer
para o diabo.
O outro polo tem o diabo como polo positivo, que sustenta a
prostituta, que é o freguês da puta e que compra a mercadoria.
Agente do negócio, ele a potencializa, ele a torna realizada no
que ela é neste mundo dos negócios, onde tudo se compra, em que o amor e o
prazer também são mercadorias que tem seu preços, mercado e cotações.
Quem mais usou a razão em sua luta foi Lutero |
Esta prostituta é a razão.
Usa-se a metáfora.
Quem identificou a razão como prostituta do diabo foi Lutero.
Quem identificou a razão como prostituta do diabo foi Lutero.
Para Lutero, ela foi sua principal aliada na sua luta contra os dogmas
religiosos.
Disse Lutero que “a razão é a prostituta do diabo”.
E o disse categoricamente.
E o disse categoricamente.
E ninguém usou mais a razão para detonar o que quis do que Lutero.
Um sábio?