Mulher feliz Paul Gauguin |
Romance de Junho
Sérgio Madeira
"O astronauta ao menos
Viu que a Terra é toda azul, amor
Isso é bom saber
Porque é bom morar no azul, amor"
Poética I/ O astronauta, Vinicius de Moraes e Baden Powell
Capítulo 1
(Seria a história de um escritor frustrado)
(Seria a história de muitos livros mal escritos e
inacabados)
(Uma crítica de livros e filmes ou uma história em torno de
livros e filmes)
Capítulo II
- Eu sou seu personagem?
Henrique, Erique, não para de escrever; são poucas as
oportunidades que ele tem para fazer suas anotações e deve juntar o máximo de
detalhes. Tem percebido que algumas daquelas anotações perdem-se porque , mais
na frente, nem ele mesmo consegue entender nem traduzir os garranchos e
descobrir a palavra; principalmente, quando anota apenas, por razões de
segurança, apenas uma palavra chave, que ele depois põe na conta de
uma-palavra-secreta, uma palavra que nem ele mesmo consegue entender, descobrir
seu segredo ou o que ela quis guardar; deixa-a de lado, deixa aquele caso, aquela
história de lado com a certeza (e a dúvida também) de que mais tarde conseguirá
traduzi-la, interpretá-la e resgatar toda uma história.
A pergunta do Gustavo tinha sentido. Sim, ele era um
personagem sim. Não, ele não era um personagem, ele apenas contribuía com
algumas de suas características para o Personagem, enfim, que ele um dia
resgataria numa história ou num caso.
Aquelas anotações eram feitas em pedaços de papel, cadernos,
blocos, papéis soltos, guardanapos, o papel que tinha, que aparecia.
Durante algum tempo, organizado, fazia anotações em
cadernos; depois, eram papéis que sempre trazia no bolso, quando trazia, dobrava-os
em quatro partes e ali nas colunas fazia suas anotações ligeiras
Era um repórter sempre; não gostava de pensar que estava
desempregado, sabia que seria sempre um repórter; algumas vezes produzia suas
reportagens e nas pautas livres, não se prendia a nada que não fosse o seu
interesse e o seu gosto; não iria simplesmente escrever sobre os outros ou
sobre o que o outro pensa; escreveria sobre sua vida e o que via e o que
pensava.
Capítulo III
Ele era um personagem sim. Gostava de dizer que se algum dia
eu fosse escrever sobre a sua vida eu deveria descrevê-lo como um homem bonito,
um artista de cinema, um Brad Pitt e ele se chamava de Brad Pica, por ser e ter
segundo ele a melhor pica para todas.
Era um personagem ao lado de um anotador – nem sabia o que
faria com todas aquelas anotações.
Um personagem que se impunha por suas ideias malucas,
insensatas e prodigiosas, às vezes. Dizia ele que assim como Portugal era uma
ficção inventada pelos ingleses, que brincaram durante séculos com a história
do mundo, o Brasil não existia.
- O Brasil não existe. Isto que chamam de Brasil não é dos
brasileiros. Os brasileiros existem, sim. ele assegura. Não digo que me orgulho
de sedr brasileiro. Eu me orgulho de ser homem e um homem da Terra. Sinto-me
como um homem de todos os rincões.
Outra análise destramelada era de que Tiradentes, o herói
mineiro, não morrera na forca e sequer teve o seu corpo decapitado.
“Tiradentes morreu na França. Não na forca.”
- A transferência de Tiradentes para o Hospício fazia parte
dos planos de grupos da Maçonaria, no Rio e em Minas, de trocá-lo por um outro
homem, que morreria em seu lugar.
Estes eram seus dois propósitos. Provar com dados atuais a
nova ficção – o Brasil - e com documentos que os libertadores de Tiradentes
tiveram êxito na empreitada. E que cometeram um único erro: deixaram uma pista.
Capítulo IV
Teoria da Ilha
Se existe é ilha da fantasia. Ideia de navegador. Homens que
se perdem na imensidão. Marinheiros medrosos e sonhadores. Invenção humana.
Sonho de terras distantes. São estes os homens que descobrem novos mundos. Novos
homens. Quando descobrem, quando desembarcam, inventam um outro diante da
realidade dos mosquitos e dos canibais.
Nestas ilhas colocam seus sonhos, suas ideias dos homens e
das coisas dos homens. Desta forma multiplicam as cartas de viagens, onde
misturam descrições e sonhos.
Sempre cita Drummond para confirmar sua teoria: o Brasil não
existe.
Hino nacional
(in Alguma poesia)
Carlos Drummond de Andrade
Nosso Brasil é no outro mundo. Este não é o
Brasil.
Nenhum Brasil existe. E acaso existirão os brasileiros?
Nenhum Brasil existe. E acaso existirão os brasileiros?