A arte de preparar
o chuchu e o amor
Horácio de Matos Costa
Primeiro,
acho que o chuchu escreve-se melhor, correta e graficamente como xuxu. Cedendo
às normas da boa ortografia pátria, (Pátria? Pátria escreve? Pátria fala?
Patria vive?) fiquemos com o chuchu correto. Inautêntico, plasticamente.
Ao
chuchu e à vida.
Observe
as pessoas com as comidas. Como elas fazem as comidas. Como elas preparam o
alimento. Como cortam, aí há segredos como o corte correto da carne.
Conheça
os temperos e, quando for possível, grave, o mais profundamente em sua mente,
as conversas e a sabedoria, a cultura e as histórias fabulosas – jamais as
esqueça, são profundas e válidas lições de vida.
A
preparação de uma feijoada em minha terra vem com a fazenda, com o leitão, com
o abate, chega da mais distante relação produtiva, diferente, não menos
importante, quando numa cidade grande, as partes da feijoada, embaladas em
sacos, tabeladas, já pesadas, medidas certas para o número certo de pessoas,
algumas vezes com muito mais facilidades e uma oferta maior de alternativas e
de variados produtos – tudo muito sortido.
Aí
seja criativo e resgate a fazenda, desembale, recrie sonhos e fazeres, rituais
e princípios.
É
o novo espaço e a nova maneira com que a vida se permite recriá-la, embalá-la e
desembalá-la.
Assim,
há alguns dias tenho conversado com Tezinha sobre o chuchu e o preparo do
chuchu. Isto depois que na mesa chegou algumas vezes o chuchu em grandes
pedaços e, algumas vezes, frio.
Não
sabiam preparar o chuchu, valorizar o chuchu, o seu sabor especial, em que se
tem que ter a quantidade certa de gordura e a quantidade certa de fogo.
Havia
amargor, dor e ressentimento, quase vingança em quem trazia, fazia e trazia, o
chuchu para a mesa.
Assim,
como saber o tamanho do corte – é no tamanho que está um dos segredos da
preparação do chuchu. Alimento delicado e saboroso que está a magia da pessoa
ou o feitiço.
Hoje,
foi a segunda vez que nós dois nos debruçamos sobre a preparação do chuchu para
o almoço.
Hoje,
foi mais uma vez que nós nos amamos mais.
Comer
chuchu com... o acompanhamento é outro segredo importantíssimo.
Ela
dá como chuchu na cerca – diz-se da mulher ninfomaníaca, as belas senhoras
dadivosas na sabedoria da roça.
Veja, quanta sabedoria e quanta beleza neste
alimento tradicional das famílias em todas as épocas e em todos os cantos do
mundo.
Com certeza, onde não tem chuchu tem amor de sobra, também.
E tem belas
mulheres.