quarta-feira, 20 de setembro de 2017

PAIXÃO É SÍNTESE



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Amar sem ilusão





Gilberto Mendhelson




Toda a obra de Darcy, toda a sua vida, tem uma palavra síntese. Esta palavra é paixão.

Grande sempre foi sua alegria e sua imensa paixão.

Se na paixão houve uma que se sobressaiu esta foi, sem dúvida, a sua paixão pelo Brasil, isto é, pelo povo brasileiro.

Uma paixão cultivada, uma paixão racional, uma paixão extremamente consciente.

Ele sabia em que terreno pisava.

Nenhuma ilusão.

Para um homem com a sua inteligência e erudição, ele sabia que, entre as muitas razões, que davam sustentação à sua “estranha loucura” estava o Brasil que ele conhecia e que ele odiava, o Brasil falso, o Brasil desigual, o Brasil da elite corrupta e sanguinária, mas estava também um outro Brasil, o verdadeiro Brasil – só que ele sabia que este Brasil era um país sonhado, um país imaginado, uma imagem.

Daquele Brasil falso, daquele Brasil desigual, daquele Brasil que era uma farsa, Darcy extraia o povo e apontava para o seu povo alguns caminhos, como o mais aberto de todos: a educação.

E o seu exemplo, a fé inesgotável nas pessoas, o carinho e a alegria, o continuar, o resistir, a luta permanente e contínua, o nunca desistir.

Um homem imbatível, ele quer o seu povo assim.

Darcy continuaria a criar este país(a imaginar este país) mesmo quando distante dele, vivendo os dias de exílio, proibido de voltar.

De volta, seria exuberante em sua produção e da sua vida brotariam muitas palavras, muitos livros, escolas e inúmeros exemplos para aqueles que queiram algum dia ser homens públicos e que acreditam que é possível forjar as bases de um verdadeiro país e de uma sociedade que elimine, de uma vez por todas, não apenas a desigualdade, mas a mais sórdida das explorações e que se sustenta pela imposição de uma linguagem sofisticada e suja, uma linguagem econômica e embrutecedora, uma linguagem de servos e de marionetes.


Ninguém amou mais o Brasil e ninguém revelou mais o Brasil aos brasileiros do que Darcy Ribeiro.

O Brasil que ele amou não existia, existia apenas em sua imaginação – ele amava e muito o seu povo, o povo brasileiro e odiava a sua elite e todos aqueles que traem, permanentemente, este povo.

O Brasil que ele revelava era o Brasil da injustiça, da desigualdade e da violência, o país real com todos os seus males, o país que não dá certo, que não dará certo e que terá que desaparecer do mapa.

Há um país a ser derrotado e há um país a ser construído.

O que “existe” não vale nada, não vale um tostão furado.