domingo, 10 de dezembro de 2017

BAGATELAS

    


Resultado de imagem para Praia de Pocitos



TRÊS 

TRISTES 

LEÕEZINHOS


Alejandro Paco Hernandez









 

Sheila conversa com Valente. Queria conhecer aquele outro homem,  Arthur. Cada vez mais, no entanto, viu-se enlaçada nas malhas, nas armadilhas e ciladas de um suposto valente.

 

Pressentiu o labirinto. Decidiu avançar. A curiosidade abre ou fecha caminhos. Arriscaria no labirinto.

 

Se ela tivesse sua maquina, fotografaria aquelas mãos firmes de um homem de mãos firmes. Aquelas mãos segurariam os seios desta mulher volumosa e eliminaria a timidez dos modelos.

 

Ele não passara daquele copo de uísque e o copo continua cheio.

 

Sheila fotografaria aqueles olhos estranhos, aquela presença sensual. Ela foi ao banheiro ver se chegara a menstruação.

 

Sheila entendia que deveria levar Valente para adorná-lo com as suas pernas na pose número V e I. É a vontade de ter e apertar o rouxinol em sua mão. Pássaro capturado em suas leituras do Decamerão, de Boccaccio. Ela ofereceria seu corpo nu aos trabalhos dele.

 

Sheila nunca antes estivera tão perto de um homem com tamanha lucidez manual.

 

 

Aparentemente lúcido.

 

Ela enrubescia com olhares rápidos. Ora aqui no ombro ora na bunda.  Enrubesce-se por vergonha e por prazer e era com a sensação de estar sendo possuída que Sheila ruborizava-se.

 

Ele compreendia os seus desejos... Pensou.

 

Se ele lesse seus pensamentos, se ele interpretasse estes sinais, era porque o próprio corpo dela a denunciava.

 

Ela também quer que ele saiba tudo o que ela pensa e que se concretize tudo. Viu novamente as imagens das mãos firmes fotografadas.

 

O flash.

 

Ela se sentiu como se fosse o modelo. Sentiu pegada por aquelas mãos...  ali, na frente de todos...  e esporrava-se.

 

Inquieta levou a mão aos seios. Os mamilos estavam duros. Ela tremeu. Dele veio o sorriso. Cafajeste! Um dos seus rápidos olhares percorre-a para dizer que se reservasse para uma meia hora mais tarde.

 

- Meia hora? Trinta minutos? Ejaculação precoce?

 

Sheila perguntou-se o que naquele homem tanto a interessava. Ele era velho? Era velho. Não, não era. Parecia. Não era.

 

Se ela colocasse-o ao lado do primeiro marido, batata, preferiria o marido, por mais estulto que o este Arthur fosse. Ela esgotou-o. Ele fugiu apavorado. Ela gostava de homens que durante o dia continuassem a noite. O primeiro estourou. Plum. Atônita. Pulverizou-se.

 

Valente era um dia que carregava a noite dentro de si. Não é que ali naquele restaurante ela se sentia possuída?

 

Agora, ela mistura Arthur com Valente.

 

Ele é noite e dia.

 

E ela agora? Assustou-se. Ela perderia a fome. Sentir-se-ia saciada. Mas ela cultivava a insaciedade.

 

Diante de algo desejado, uma noite inteira  assustava. Tremia. O medo não tem forma.

 

Sheila passou as mãos nos lábios, acariciava-os levemente.

 

De repente, assustada, atirou as mãos para longe dos lábios. Suas mãos eram as mãos de Valente.

 

Olhou. Eram finas e longas. Sheila havia bebido muito. Ela queria que um homem a abraçasse (Valente).

 

Dormira duas noites com John, dormiu apenas e ele já se considerava dono. Foi bom Valente aparecer. Afastou John. Afastou John sem queixas. Seus vinte anos eram belos, sua pegada era firme, consistente.

 

Sheila sentia-se bela com a sua mocidade, a sua pele jovem. Os EUA estavam longe. Estava longe a sua casa, llinois,  Adan, o primeiro, Hugh, o segundo, seus pais, a igreja, as quadras de tênis.

 

Ela não reclamava, nada disso; seus esportes, sua religião, sua família, seus maridos, seus amantes, seu estado. Sua pátria era a cama.

 

Arthur manjou a jogada de Valente em cima da loura, loiríssima, louquíssima Sheila; agora, aguentasse o saco, aguentar e conversar com seus diplomatas de restaurante, rir das piadas desse cavalo-do-mar, Paco, saco, Paco, e se ele bobeasse, acabaria de mãos no bolso. Fique com o que lhe resta.

 

O negócio é ficar com essas coxas estruturais que atende por Mary, made in, make in, como são amáveis os diplomatas, as diplomatas! Cedem-nos suas bucetas como nos passam cigarros. Campo aberto.

 

Valente avançou, eles retiraram-se ordenadamente. Ideia de jerico essa de passar na praia. O homem-cavalo-do-mar anda com trapaça, ah! Meu saco, Paco. Valente segurou mesmo aquela buceta. A putinha é toda dele.

 

Irmãozinho, amanhã chuta essas coxas para mim, chuta?! Um chute de categoria, Sheila! Olhem só aquela cabeça de conhaque! Filha da puta de dengosa vem chupar meu cacete, lourinha, loirinha, louquinha. Em que estou pensando? Na lourinha chupando. Não me incomoda, Mary.

 

Meu pensamento não vale nada. Numa hora dessas, penso nas eleições. Quando é que o homem pensa na vida política, antes, durante ou depois da vida da cama? Escutava as historias dos gringos. Gringa quer dizer que você conhece o Brasil (um país lindo, lindo, acabou. Tem belas praias também, não?). Ela conhece o oriente e o Vietnã, que buceta viajada, nunca pegou uma gonorreia no dedo do pé, Mary is coxas, ah!

 

Já? Gonorreia nos olhos e no cu, putinha linda, vou fazer umas fotos – nus artísticos, eu sou artista, e distribuir para os centros de FTI (Fodas Telepáticas Internacionais.)

 

Fodam uma americana e ganhem: três bicicletas, dois rádios de pilha zero quilometro, uma caixa de bombons, uma lata de quitute e uma consulta ao psiquiatra.

 

Mary is coxa. Mary, eu não estou bêbado. Não gosto de desodorante. Prefiro uísque. Molhe uísque no algodão. Coisa linda. Mary, pena você não saber português, Brasil.

 

Quod Salamanca nom dat, natura non praesta.

 

Gide diz que a lucidez... Porra esqueci, é algo de lucidez, embriagues, deixa pra lá, façamos nossa própria ideia, quando estou bêbado estou tão lúcido, ou mais, nunca menos, do que quando não estou bêbado.

 

Estou mentindo? A lucidez não seria um estado de embriagues? Quando o homem se sente lúcido, ele não se sente num estado diferente do estado normal?

 

Entonces... queridinha, made in lit, lit é, sabe porque o homem chama as mulheres carinhosamente de galinhas?

 

No Egito antigo... Olha filhinha, eu sou aquela revista, você sabe por que...? patati patatá. Você sabe por que o homem fode e a mulher é fodida?

 

No seu país também tem disso? Ah é verdade. Os romanos dos séculos vinte. Sabe, filhinha, sou um pai frustrado.

 

Sabe, filhinha, eu gostaria de viver num período de decadência, ser um homem libre, ser um homem puro, ser um homem bom, período de decadência, por quê?

 

Poxa, devem ser os momentos de mais criatividade da historia, momentos saborosos, momentos em que os homens são verdadeiramente livres e em que as mulheres se tornam as partes pudendas, partes santas.

 

 

*

 

 

Os brasileiros são as melhores pessoas que existem. Cavalheiros de uma década de muitos séculos.

 

Eu, Paco Hernandez, posso dizer isto. Sou argentino e em minhas veias correm sangues judeu, alemão, negro, espanhol, americano e brasileiro. Tudo registrado em anos de aventuras marinhas, a la Jack London, sem chamados selvagens nem latidos perdidos.

 

Eu, Paco Hernandez, posso dizer isto porque conheço um povo que vive do paralelo x ao paralelo y, amando o sol, um povo que sabe rir, um povo que tem humor e dignidade. Um povo com a força da alegria.

 

Eu, Paco Hernandez, conheço este povo que trabalha nas salinas, nos portos, que anda apressado, eu conheço este povo, eu posso falar que amo os brasileiros, eu conheço tudo o que é bom, e bastante do que é ruim.

 

Conheço, definitivamente?

 

Não conheço.

 

Eu, Paco Hernandez, homem e navio, eu conheço o povo brasileiro, eu sei que ele vive em morros, eu sei que ele morre nas picadas, eu sei que ele é um povo tolerante. Conjunção importantíssima.

 

E agora? Paco! Ô, Paco! Oi! Você criou um caso internacional. Estas gringas vão sair com o Valente, Valiente, teniente, serpiente, sacana.

 

Vai levá-las para aquela casa do diabo, vai derrubá-las, sacaneá-las, fodê-las e depois passar cola nelas. Elas vão tornar-se rondantes, sentinelas da madrugada. Viverão em torno daquela casa como mosquitos em volta das luzes. As mulheres de Valente desesperadas, consolam-se facilmente. Vou deixar os dois pegarem estas. Daqui a dois dias eu pego uma na rebarba e a outra na esquina.

 

Bom é apalpar o terreno. Que bunda, Mary! Que bunda! Como é que você conseguiu tanta carne, gatinha? Mary você não é bobinha.

 

Essa,  Arthur, vai se foder. Mary você é ronca-couro. Dar, dê uma chave de rins e não deixe o sacana pular fora.

 

Foda-o. Depois caia mansa neste colo de mãos no mastro para não afogar. Mary você é um animal doméstico. Não adianta mostrar tantas garras. Há uma cadeira dentro da sua boca.

 

Valente escuta as conversas. Ligou todos os microfones do seu gravador. Estava no carro de Paco.

 

As cores corriam junto com o vento. A tarde esquentava. Os edifícios brancos, as praças limpas, Montevidéu é uma cidade tratada com carinho. É linda e carinhosa.

 

Deixaram os americanos no bar discutindo a educação. Quan-tas-horas? Quatro para acabar a praia. Entonces, vamos a passear. Passeavam de carro pelas praias e agora se dirigiam a Pocitos.

 

Queria ver o sol e as pessoas nas praias, as cores e o vento nas ondas, a pele queimada e os jogos na areia. Queria ver o sol e as pessoas embaralhadas. Mary faz pose. Sheila fotografa.

 

Paco distraía as americanas com as suas fabulosas-mentirosas aventuras nos mares e terras ao sul. Ao sul de tudo, ao sul do paralelo 20, ao sul do amor, ao sul dos seios, ao sul das lutas, ao sul do frio.

 

Elas riam e abandonavam o carro pela imaginação exótica/erótica de Paco, alto, equilibrando, cai não cai, no alto duma vigia, no leito de um mar furioso.

 

Ele viu a natureza brava. A raiva em ondas. O ódio molhado. Ele viu o quanto era fraco.

 

Valente sentiu as mãos de Sheila, mãos leves, apertando-o. Pocitos logo ali. O carro corria.

 

 O Oldsmobile roxo da GM freia.

 

Descem no começo da praia, próximos de uma pedra que entrava ao lado de muitos fragmentos em frente ao mar. Sobre as pontas muitas cadeiras de pescadores. Aquela extremidade da praia é deserta.

 

Nem os pescadores aparecem.

 

Um grupo de meninos escondia-se na areia, arrastavam-se no chão, eram caranguejos e corriam para a trincheira de areia, em seus pés chegava a água em ondas, eles não se incomodavam com a água que de momentos em momentos ganhava um pouco de espaço na areia.

 

Trincheira, areia, água, meninos.

 

Os meninos abrigavam-se na trincheira para não serem percebidos por um casal de namorados. A namorada deitada. Ela vestia um vestido vermelho. O namorado beijava-a e alisava o corpo mal coberto de menina.

 

O casal escolheu aquele local perto do muro onde  estariam ao abrigo dos curiosos, para eles além do muro, nada mais existia do que o mar e o muro.

 

Entre o muro e o mar estava o bando de meninos.

 

Oito, nove meninos silenciosos, cautelosos, de pau duro, tudo na mão. Paco caminhou em direção ao muro, antes que ele saltasse para a areia, Arthur segurou-o e disse baixinho, "não, velho do mar, não atrapalhe o amor de areia, nem a imaginação das crianças".

 

Paco admirou-se com a cena dos namorados e dos meninos. Sheila e Mary, antes da curiosidade, pensaram na máquina. Tiraram fotos dos meninos nas trincheiras. Enquanto Sheila procurava ângulos, Valente conta piadas. Fala baixo. Não incomodará ninguém.

 

Todos entraram descalços na areia. Os três, Paco, Valente e Arthur viram-se de costas para o mar, as mulheres tiraram as meias e Sheila fotografou os três de costas. Ao sul não existia só o mar. O ritmo do mar e o movimento das ondas traziam suavidade. Era a suavidade das músicas dos meninos. Ritmo que nos faz pensar, um pensar triste, apenas um pensar ou quase um pensar em nada.

 

Paco tirou a camisa. O sol cobriu-lhe a pele. A praia de Pocitos é uma praia pequena, com o sol e gente. Pocitos tão pequena que parecia praia sem areia tantos os panos e tantos os corpos. Valente viu Quitcha e Selva. Manequins desfilando a estação. Duas modelos a qualquer momento. Mulheres que são panos e cosméticos.

 

Quando noventa e nove por cento de você é roupa. sua personalidade está no pano.

 

Sua personalidade também pode sair da moda.

 

- Ele parece que não faz mais barba – observou Quitcha de longe.

 

- Inútil obrigá-lo a barbear-se.

 

Selva de olhos verdes, grandona, vive como um moleque,  brinca de todos os jeitos e em todas as posições, brinca com todo mundo, sempre inventa brincadeiras novas.

 

De vez em quando faz coisas serias para distrair-se. Agora jogava pedrinhas nas pernas das pessoas.

 

 

*

 

 

Sheila com dor de barriga, queria encontrar um restaurante, um banheiro por perto. Sheila olhou a avenida. Sheila peidou e aliviou-se um pouco, um pouquinho só, Paco apertou o nariz. Todos apressaram o passo, na avenida. Os carros ainda refletiam o sol.

 

Vamos a um restaurante gente, Sheila sentia o corpo dolorido, a barriga estava inchada e doía, conteve outro peido. Controlou-se. Para que segurar? Soltou-o devagar, silencioso. Suava frio. Direto para o banheiro do restaurante.

 

A merda caiu na água, ploc e salpicou na bunda. Tamanho foi o alívio que nem se preocupou com as gotas de água. O papel estava longe, ela levantou-se segurando o vestido e de pernas abertas caminhou até o papel, tirou uma porção de folhas, dobrou-as e esfregou. Olhava cada papel para ver o primeiro que saia limpo, aí esfregou o ultimo com força, saiu sujo, um pouco.

 

 

*

 

Mary pediu chá para todos.

 

- Mais açúcar, senhorita?

 

Mary respondeu e acompanhou o braço do garçom, as mangas brancas, amarrotadas na junta, limpas, sombras, as tonalidades do branco, o reflexo da luz.

 

- Quer dizer que você chegou hoje, camarada? – perguntou Paco.

 

- Desci com sol quente em Carrasco.

 

- Viajar de avião é muito perigoso.

 

- Morrer no ar, no mar ou na terra é a mesma coisa.

 

- As probabilidades de cair são maiores que a de afundar.

 

Arthur não queria continuar aquela conversa, não simpatizava com o homem do mar.

 

- Eu acredito em destino. Quando chegar sua hora de morrer, você morre até debaixo da cama de um corno, por isso eu arrisco.

 

Arthur olhou-o nos olhos.

 

- Tenho que elogiar a sua irracionalidade – cortou Valente.

 

- Eu também creio no destino, só que eu ajudo um pouco o negócio. Não arrisco. Estamos no mundo das probabilidades. Porque arriscaria?

 

- Destino.

 

Mary disse a palavra e a pronunciou mentalmente sílaba por silaba dês-ti-no.

 

- Eu acredito que a gente tenha um destino. O destino que escolhemos. Ou plantamos. Quanto à morte... se se pudesse evitar, eu a evitaria. Gosto de viver. A vida é bela.  La vita é bella. Viver é a minha paixão. Agora que vamos morrer, eu sei disso. Por que? Sei apenas as razões físicas. Não acredito em mais nada além da vida. Além disso meu pensamento é o pensamento de um ateu. Nesse negócio de destino entre o nascer e o morrer, quem manda somos nós mesmos. Temos que saber é se existe mesmo vida antes da morte.

 

- Concordo. Destino seria a vida programada. Você sabe que com tais e tais atos chega-se aqui e ali, não é mesmo?

 

Sheila podia ter continuado e sua pergunta ser respondida, o estouro de uma garrafa deixou em cacos seu pensamento, ela queria deitar-se.

 

Paco chamou o garçom varias vezes, quebrou o bule de chá, o garçom apareceu. Na rua,  Arthur pediu para deixá-lo dirigir.

 

Quando saíam de Ramirez, depois de terem deixado Pocitos, Mary, a pedido de Arthur, foi até o Cassino em companhia de Paco. Mary voltou só.

 

- Entre no carro, Mary – disse sério Arthur.

 

- E o Paco?

 

- Entre no carro.

 

Mary entrou, Arthur acelerou.

 

Paco continuou a conversar no Cassino, ao chegar na rua estranhou a ausência do carro.

 

Embriagado, ficou por ali uns cinco minutos. Ia e vinha de uma calçada para outra.

 

O sol de quatro e meia estava quente.

 

- Paco, homem, como ë? – gritou-lhe o croupier.

 

- Nada irmão. Levaram-me o carro.

 

- Roubaram?

 

Uma gargalhada encheu a quase noite dos ouvidos de Paco.

 

- É isso, roubaram – carro, mulher, amizade, bagagem, noite, pois é!

 

Outra gargalhada ganhou o início de noite do croupier.

 

Daí a pouco encostou um carro da polícia metropolitana. Paco sequer cogitou de que estavam ali por perto por causa dele El Paco. Os policiais entraram e saíram do Cassino.

 

- Senhor Paco, roubaram-lhe o seu carro?

 

Paco enfureceu-se, olhou para o croupier, examinou o carro dos policiais (não é o meu, não), examinou os policiais (e agora, Antenor?).

 

- Senhor Paco, fomos chamados porque roubaram o seu carro..

.

- Roubaram, afirmou o policial-chefe, e o senhor podia colaborar com a polícia, precisamos de dados, marca do veículo e placa.

 

- Posso. Meu carro é um Volks-Ford, amarelo, azul e preto.

 

O croupier deixou cair o queixo, barba, cabelos, perucas, nariz, tudo, embasbacou-se.

 

- Volks-Ford?! – estranhou o policial resumindo, o que está à direita.

 

- Volks-Ford é um carro brasileiro, esporte, último modelo, lançado no Brasil o ano passado. Vocês não acompanham os lançamentos?

 

- Acompanhamos... responderam todos como um coral. Vinte e sete minutos discutiram sobre os lançamentos de veículos, esquecendo os policiais a sua missão, esquecendo o croupier as suas cartas e esquecendo Paco a sua embriaguez. Paco erguia os braços, o policial da direita coçava o bigode, o mais alto alisava as pernas e o croupier gesticulava para se expressar. Agora tentam identificar o carro de Paco.

 

- Eu já vi esse carro na rua.

 

- Me lembro.      

 

-   Produção brasileira, Volks-Ford  Mercedes, não?  

   

- Volks-Ford, só.  

    

-Que aliança! Aliança de muçuarama. Muçurana, mussurana, cobra preta, Clelia, minha doce Clélia lá da Pompéia

     

- Volks-Ford? Ano?       

 

- 1096, aliás 1968, troco as bolas.

      

- Chapa?    

 

- Chapa PQP 10-20-6

       

- Chapa Pê quê pê 10-10?

             

- 10-20-6       

 

- 10-20-6, obrigado, senhor   

  

- Tome, são trocados.      

 

- Ah! tinha uma mulher com o senhor?

         

- Tinha.        

 

- Suspeita dela?

        

- Não. Mas que ela desapareceu, desapareceu.

         

-O Sr. viu os ladrões? 

     

- Não, não os conheço.

 

O croupier recolheu os cabelos, as barbas,o bigode, a peruca, o nariz, o queixo, as lentes e levou os policiais até o bar.

 

- Esqueçam este roubo, aconselhou o croupier. Eu acho que precipitei. Os ladrões são amigos dele. Na verdade roubaram-lhe foi a mulher.

 

- Não entendi?

 

 

 

 

https://todagentetodomundo.blogspot.com/2017/12/bagatelas.html

 

10.07.2020                   20.03.2022