sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

A COLHEITA





Resultado de imagem para quintal com pé de manga



Dia de sol no

quintal da fazenda


Gregório Rocha Lima




 

Leila voltava do quintal. Suja. Joaquim olhava-a. 

 

Ele era o novo mecânico do velho Salim.

 

Oferece para ajudar Leila a carregar a roupa lavada. 

Ela não falou nada. 

 

Ele se limitou a acompanhar de longe os passos dela.

 

Leila fechou a porta sem olhar para trás.

 

Joaquim lavou-se para o almoço. 

 

Enquanto a água corria em seu rosto, 

pensava que ela lhe correspondia 

 

(era o olhar de seus olhos negros).

 

Joaquim trabalha para o velho Salim 

por causa de Leila.

 

Ele lembrou que começou a gostar dela 

desde quando os dois se encontraram 

 

numa manhã na padaria do João da Helga.

 

Agora, os dois estavam na mesma casa

 e tiveram até um encontro nos fundos da casa 

 

– um passou pelo outro e pareciam velhos conhecidos.

 


Há muito tempo, 


Joaquim não pensava outra coisa que não fosse Leila.

 

O patrão de Joaquim, seu Salim, o velho Salim, gostou dele

 

Convidou para que fizesse suas refeições 

ali mesmo na casa deles.

 

Joaquim e Leila eram os dois únicos jovens 

a existirem naquela grande propriedade. 

 

O velho e a sua mulher passaram a gostar de Joaquim.

 

Um dia como prova da confiança que tinham nele, 

deram-lhe um quarto dentro da casa. 

 

O trabalho de Leila aumentou. 

Ela ficou alegre com aquilo.

 

Os dois não se falavam. 

Só os olhares, ora rápidos, ora demorados. 

 

O que falar se bastavam olhar?

 

Como começar a falar palavras? Um e outro não sabiam.

 

Os meses passaram. 

Joaquim e Leila se tornaram íntimos e amigos. 

 

Viviam brincando.

Os velhos riam das brincadeiras.


 

Aquela manhã, Joaquim demorou a levantar. 

 

Passou pela cozinha disse bom dia para a velha

 e bebeu uma xícara de leite. 

 

Apanhou a faca para cortar a mandioca e saiu.

 

- Vai chupar manga? 

Perguntou Leila correndo para acompanhá-lo.

 

A mangueira ficava no ponto extremo do quintal.

 

Antes da mangueira havia um declive. 

Ali sentaram, apoiaram as costas contra o terreno.

 

Leila sujou Joaquim no rosto.

Os dois começaram a rolar no terreno. 

 

Ela resistia, cedendo-se a Joaquim o que ela queria ceder.

 

Joaquim apertou-se contra o corpo macio

 e não estranhou o grito, 

 

grito contido, 

grito desesperado, 


grito penetrante da mulher.

 

Leila pediu apenas uma vez para que Joaquim parasse. 

 

Ele não parou e ela não pediu mais.

 

- Estou morrendo!

 

Leila sentia a faca entrar-lhe nas costas.

 

Suas forças sumiam. O amor entorpecia.

 

Sua última decisão foi abraçar e apertar

 com todas as forças que lhe sobravam

 

 o corpo de Joaquim que entrava em seu corpo.

 

E Leila morreu.

 

 

 

09.02.2018      24.03.2022