quintal da fazenda
Gregório Rocha Lima
Leila voltava do quintal. Suja. Joaquim
olhava-a.
Ele era o novo mecânico do velho Salim.
Oferece para ajudar Leila a carregar a
roupa lavada.
Ela não falou nada.
Ele se limitou a acompanhar de longe os
passos dela.
Leila fechou a porta sem olhar para
trás.
Joaquim lavou-se para o almoço.
Enquanto a água corria em seu
rosto,
pensava que ela lhe correspondia
(era o olhar de seus
olhos negros).
Joaquim trabalha para o velho Salim
por causa de Leila.
Ele lembrou que começou a gostar
dela
desde quando os dois se encontraram
numa manhã na padaria do João da Helga.
Agora, os dois estavam na mesma casa
e tiveram até um encontro nos fundos da casa
– um passou pelo outro e pareciam
velhos conhecidos.
Há muito tempo,
Joaquim não pensava outra coisa que não fosse Leila.
O patrão de Joaquim, seu Salim, o velho
Salim, gostou dele
Convidou para que fizesse suas
refeições
ali mesmo na casa deles.
Joaquim e Leila eram os dois únicos
jovens
a existirem naquela grande propriedade.
O velho e a sua mulher passaram a
gostar de Joaquim.
Um dia como prova da confiança que
tinham nele,
deram-lhe um quarto dentro da casa.
O trabalho de Leila aumentou.
Ela ficou alegre com aquilo.
Os dois não se falavam.
Só os olhares, ora rápidos, ora demorados.
O que falar se bastavam olhar?
Como começar a falar palavras? Um e
outro não sabiam.
Os meses passaram.
Joaquim e Leila se tornaram íntimos e amigos.
Viviam brincando.
Os velhos riam das brincadeiras.
Aquela manhã, Joaquim demorou a
levantar.
Passou pela cozinha disse bom dia para
a velha
e bebeu uma xícara de leite.
Apanhou a faca para cortar a mandioca e
saiu.
- Vai chupar manga?
Perguntou Leila correndo para acompanhá-lo.
A mangueira ficava no ponto extremo do
quintal.
Antes da mangueira havia um
declive.
Ali sentaram, apoiaram as costas contra o terreno.
Leila sujou Joaquim no rosto.
Os dois começaram a rolar no terreno.
Ela resistia, cedendo-se a Joaquim o que ela queria
ceder.
Joaquim apertou-se contra o corpo macio
e não estranhou o grito,
grito contido,
grito desesperado,
grito penetrante da mulher.
Leila pediu apenas uma vez para que
Joaquim parasse.
Ele não parou e ela não pediu mais.
- Estou morrendo!
Leila sentia a faca entrar-lhe nas
costas.
Suas forças sumiam. O amor entorpecia.
Sua última decisão foi abraçar e
apertar
com todas as forças que lhe sobravam
o corpo de Joaquim que entrava em
seu corpo.
E Leila morreu.
09.02.2018 24.03.2022