Avôhai
“Um velho cruza a soleira
De botas longas, de barbas longas
De ouro o brilho do seu colar
Na laje fria onde quarava
Sua camisa e seu alforje de caçador
Oh meu velho e invisível
Avôhai!
Oh meu velho e indivisível
Avôhai!”
Zé Ramalho
Avô Rai
Rai é Rai de
Raimundo
O nome dele é
Raimundo e Rai é o apelido.
Rai virou Raí
Chegou para
ocupar um espaço, que um dia já foi dele.
Agora, eu sai,
ele entrou.
Meses antes, ele
tentara chegar.
Agora, Rai se
mandou de Brasília,
avisou que chegaria,
como agora, um domingo.
avisou que chegaria,
como agora, um domingo.
Não teve pega, não teve como armar nada.
Ela escapuliu
dele
Para Ambrósio
disse que não recebeu seu amigo Raí,
do tempo de
Ronaldo,
“muito entrão”
“espaçoso”.
É meu amigo, diz
ela
O mesmo que diz
de todos os seus amantes,
casos,
namorados,
ela os
identifica, no genérico, são todos amigos.
Um amigo. Raí
era um amigo.
Hoje, segunda, 9
de abril
Ele está
hospedado na casa dela.
Chegou domingo
de manhã.
Ela descarta
qualquer possibilidade de encontrarmos.
Seca e direta.
Não quer.
No domingo,
depois que o Raí chegou,
ela já anunciou,
segura, um “adeus”, um já não tenho mais nada.
Depois ligou
Disse: “Já que
você não quer mais namorar comigo”,
Abre a porteira para
um novo ou um velho gado.
Grande
menininha,
minha doce
santinha,
“sua sem-vergonha”
diz o Spíndola, pincel na mão.