quarta-feira, 25 de abril de 2018

O QUE ENTRA E O QUE SAI




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A mulher que Jayme perdeu

 Mara Duarte


Meu golden  retrievier

Bom demais ter um au au de mentirinha que é a mais pura verdade. 
Veja o que me fez conceber hoje: 

Da porta do céu escorre o mel
de suas doçuras
Vou lavando com devoção e respeito
Vou secando com fé e prazer

Mel dos seus desejos
Mel da minha loucura
Mel do  santo amor

te love ya habib



4 jul 15:09





Guito, meu Jaymiguito      

Eu te amo como nunca amei ninguém, nem nada, antes, na minha vida. Com você, ou por você, descobri o que era afinal esse amor sublime que julgava não existir. Esse amor que altera o metabolismo, os sentidos. Um amor que me fez quase vidente, mil vezes mais sensível, e ao mesmo tempo, vulnerável.
Estudei, exercitei, e levei a sério, durante anos, e muito mais nos 15 últimos anos, até encontrar você, a coisa da energia. Tenho provas concretas, para mim, pois não tenho  intenção, nunca tive, de convencer ninguém, de doutrinar quem quer que fosse. Nem mesmo saberia teorizar sobre isso.
Os efeitos, os benefícios, os malefícios dessas minhas experiências só são importantes pra mim, e se estendem aos outros apenas a partir do momento em que me relaciono melhor com eles e com o mundo.
Eu não vivi praticamente nada do que você viveu. Você diz que sou puro tesão e, no entanto, nunca tive esse tipo de relação com ninguém. Foi tudo tão família, tão alma, tão interesse de um ser humano pelo outro...
Nem consigo me lembrar de um namorado que tenha se referido a mim, assim. Tenho certeza de que amaram primeiro a pessoa e de que o sexo foi um complemento. Muito bom, mas um complemento.
O Nei me ligou duas vezes no domingo. Nunca menciona o sexo. Fala de particularidades minhas, da saudade de coisas que são muito minhas. Da vontade de ficar perto de mim, rindo das minhas bobagens, compartilhando minhas pequenas loucuras, curtindo meu universo, minha família. Então, entendo que ele me ama verdadeiramente.
Todos, sem exceção, se interessavam por mim, e naturalmente havia sexo. Mas o sexo era uma extensão do amor. Nem era sexo, era amor.
 Dia desses, eu disse a você que vivo atormentada. Vivo. Primeiro, fiquei sofrendo calada, escondendo como se fosse um crime, o fato de estar no climatério - ainda não é menopausa. Isto porque seu interesse por mim é tão claramente sexual que tinha medo de que soubesse e perdesse o interesse.
Pode imaginar o quanto isto é sério?
Todas as pessoas que o conhecem, sem exceção, dizem de você, na sua frente, inclusive, tudo o que nós já sabemos. E sabemos que não é mentira.  
Sua relação com as mulheres é completamente sensual. Tem obsessão, fala disso o tempo todo. Seus amigos são praticamente todos desse tipo. A maneira que lida com as mulheres-colegas de trabalho, profissão, qualquer mulher, tem sempre esse componente. Naturalmente, acaba despertando mil e umas ideias por aí.
Você, pelo visto, nunca foi seletivo. Tem ereção por qualquer coisa, qualquer uma em qualquer situação. Tenho medo até de pensar. Chego a suspeitar de que isso seu é tão sério, mas tão  sério, que o leva muito mais longe. 
Sempre gostei do sexo como um ritual. Acho o sexo uma comunhão perfeita de alma e corpo. Estudei isso. Gostei disso. Acredito que ao deitar-me com alguém estou absorvendo a energia desse alguém pelo chakra umbilical, pelo kundalini.
Por isso - disso você não sabia - cheguei a ter namorado com quem nem transei. Por isso transei pouco ao longo da minha vida. Por isso, sempre preferi viver intensamente música, dança, natureza, amigos, viagens, reservando o sexo para momentos, pessoas, relações, profundas e verdadeiras.
Não sei o que sou. Não tenho religião hoje. Acredito piamente nessa coisa da busca de crescimento interior, espiritual. Na lei da causa e efeito, do retorno. Tentei dar aos meus filhos uma educação integral, que inclui essa tal busca de crescimento espiritual, pessoal, moral, como queira. Adotei porque procurei viver assim e me fez muito bem.
 Será que ao  menos percebeu que esse sexo louco explodiu em mim por conta de um amor que me fez ir ao céu e ao inferno?
Como pode não se dar conta de que há alguma coisa muito maior, muito mais forte, importante?  
Por que estou fugindo:
Você ama esse sexo. Você ama o que acontece na cama. No momento em que isto deixar de ser intenso, acabou-se a relação.
Todo esse fogo, todo esse amor que diz sentir, não te fez mudar.
Continua olhando para todos os lados; atento a outras e todas as mulheres; aberto para outras possibilidades; uma aventura. E ainda jogando charme a torto e a direito (tive notícias disso, não queria acreditar, mas depois, tive que parar de fugir disso).
 Por conta de tudo isso, e mais, vivo insegura. Você mente nas pequenas coisas. Descobri que me deito com um estranho.
Você usa de seus filhos para mentir.
 Não te vejo interessado em construir, pensar um futuro comigo. Não assumir compromisso, não ter projetos nem planos de futuro que inclua uma outra pessoa é uma escolha, uma decisão. Mas há de ser verdadeira, assumida.
Ao me dar conta de que prefiro viver sozinha, até a minha morte, não vou me envolver com ninguém com esse discurso de que amo, me encontrando regularmente.
Vou viver descompromissadamente, saindo com um e outro. Mais honesto, mais decente, não acha?
 Meu amor por você nunca esteve centrado nesse sexo fantástico que fazíamos.  Amei por inteiro, aceitando inclusive o fato de que é a personificação de tudo o que mantive distante de mim a vida inteira.
Te amo ainda. 
Não vou dizer que é o homem da minha vida, aquele que esperei desde que nasci. Quero ser completamente verdadeira.
Não vou dizer algo de que não estou 100% certa.  Mas te amo tanto que ficar sem você é como cortar um pedaço do meu próprio coração. 
Te amo tanto que serei metade da metade daqui prá frente. 
Cada vez que tive certeza de que não viria, você me ligava dizendo que tinha  um compromisso com a Quert e, no dia seguinte,  contava uma outra história, me dando elemento para acreditar no que as pessoas me dizem.  
Eu quero e sempre quis acreditar em  você. Tanto que estive até hoje do seu lado. Não entendo porque, não conseguiu ser honesto.
Você sequer me deu um lugar na sua vida! Pra mim, só as noites de sexo. Ou os dias inteiros de sexo.
 Você comentou da amiga que esteve doente e da qual teve pena porque vivia sozinha. Em momento algum o vi preocupado comigo que vivo completamente sozinha, tive sérios problemas de saúde, sofro a ausência dos meus filhos e já passei até dois dia na cama aqui sem ter ninguém para nada. Tenho uma rede de amigos.  Quando precisei ir ao médico, paguei a um "amigo" para ir comigo. Não, não estou cobrando sua presença nessas circunstâncias. Estou é avaliando esse tal de amor que você diz ter por mim.   
Entende agora porque disse que não iria mais conversar? Já te aborreci demais com as minhas queixas, com as idas e vindas. Não posso ficar te crucificando. Você é assim. Minhas queixas, o ir e vir, só nos desgastam.
Morro de tristeza por me afastar de você.
Acho que o fato de ter me enfiado na cama às seis da tarde no dia da festa do Luluciano pode ter te dado uma ideia de que alguma coisa muito séria estava acontecendo, não?
Não deveria estar dizendo isso, mas sinceramente, nem dá mais para continuar vivendo aqui. Pelo menos neste momento, não.
Vou viajar,  voltar e viajar, e viajar. Brasília, Congonhas, Congonhas, Brasília, até me sentir em condição de entrar aqui na boa, terminar o contrato e decidir a vida.
Preciso lavar você, tirar da alma, do coração.  
Por favor, venha pegar suas coisas hoje. Depois não estarei mais aqui.

Mara Duarte  



13 jul 14:21