quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

A IMITAÇÃO DE CRISTO

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A prisioneira condecorada



- Ela era bandida?




Adriano Augusto



- Ela foi prisioneira. Ela conhece uma prisão por dentro. Viveu a nossa vida de prisioneiros. Ela esteve presa e não foi por pouco tempo.

A revelação do Pimenta não gerou nenhuma estranheza. Nenhuma perplexidade. Apenas um silêncio cortado por Agostinho enrolando seu baseado. Ele falou pausado, tranquilaço.

- Ela é bandida. Era mulher. É bandida. Era santa. É bandida. Toda mulher é isto mesmo santa e bandida. Não escapa. Assim como estamos condenados à prisão, elas também estão condenadas à bandidagem e à santidade, algumas vezes mais bandidas, quase sempre. Se ela foi prisioneira...

Pimenta olha fixo e acompanha a fumaça que já domina aquele espaço amplo, onde o cheiro da maconha é degustado.

- Vamos ver com mais precisão. Quem de nós veio para a prisão porque fez o bem, ajudou uma pessoa, salvou uma vida. Veja, meu amigo Agostinho, onde ela passou a maior parte dos seus dias de prisão foi no fim da guerra em um campo de concentração montado pelos EUA no  Marrocos, no norte da  África. Mais, mais. Antes ela fora condecorada pelos seus carcereiros. Ela estava presa, não pelos seus atos e suas responsabilidades, ela estava presa porque era italiana e, para os que ganharam a guerra, ela era uma inimiga.

- E por que ela foi condecorada?

- Condecorada porque salvou vidas e, nos hospitais que dirigiu, recebeu muitos feridos. Ela não podia olhar, nem os seus médicos, a farda, a nacionalidade, nada disso. Ela salvava vidas. Por isso, recebeu homenagens e condecorações dos alemães, dos italianos, dos etíopes, dos ingleses e dos norte-americanos.

A guerra terminara e a Líbia, onde os italianos foram derrotados, ocupada, teve que ceder o hospital que estava sob a direção da irmã Maria. Depois de quase dois anos em um campo de concentração, voltou para Roma, onde tornou-se uma executiva do Vaticano e conheceu o padre Gemelli.

- Na Líbia, em Trípoli, debaixo de intensos combates e bombardeios, o hospital abriu suas alas para as ruas e em pouco tempo o hospital estava em muitas casas, cirurgias eram realizadas a céu aberto. Era o que podiam fazer para salvar vidas. Não ter medo. Na guerra, é proibido ter medo. Diz ela. Sei não. Ela disse isso. Como não ter medo?