quarta-feira, 31 de julho de 2019

SOB O DOMÍNIO DO BEM





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A paixão da diaba




W. W.  Bley Batista




Introdução


Aqui se fala da descoberta
de Adalberto, descoberta
 que ele não
dera muita importância.
Ponto de partida
 para a reconstituição
de um crime hediondo.


I



          Ninguém entendia, muito menos elas, como uma pessoa aos 70 anos, ainda um homem muito forte, uma pessoa preparada, sofisticada, ambiciosa, como Adalberto Cardoso de Mello e Sotomayor vivesse uma situação tão complexa e difícil. 

           Como teria sido possível, aquele homem, quase um sábio, fosse entrar em tão grande enrascada?

          - Você, minha cara Ceres Evangelista, a mais doce mulher de Arnold, sentada, pernas cruzadas, saia curta, observou que só podia ser “praga”, “coisa ruim”, “trabalhos” de uma das ex-mulheres de Adalberto, “e... como são tantas” porque não poderia ter existido, entre elas, uma ou várias que acionaram poderes especiais ou poderes especiais alugados para senão destruí-lo pelo menos para contê-lo ou miná-lo? 

          Enfim, repetindo,como são tantas as mulheres de Adalberto, uma ou mais de uma estaria ou estariam fazendo algo contra ele, prejudicando-o, puxando-o para trás, fazendo com que ele permanecesse numa situação em que nada dá certo, em que nenhuma iniciativa tenha êxito, como se estivesse amarrado.

          Isto já há pelo menos duas boas e longas décadas.

          Cabelos vermelhos, fartos e com uma parte amarrada no alto da cabeça. Esta é a outra, Elisabete Spíndola de Castro, um tanto incrédula, um tanto insegura. Ela observa que só podia se tratar de uma “feiticeira” ou de “um diabo em forma de mulher”.

           - Quando na história o diabo teve a forma de mulher? O inferno é dos diabos. O inferno é dos homens. Não há a diaba. Diaba? Não é uma palavra. Não tem sonoridade e não há como fazer uma mulher diaba. Teria que ser feiticeira ou bruxa, diaba não.

           - Feiticeira? Bruxa? Diaba?

           - Diabo não pode ser feminino.

           - Pode ser bicha?

           - Diabo-queen!

           - Segundo Lutero, a razão é o diabo feminino, o feminino do diabo..
.
           - Lutero?

           - Sim, Lutero, ele dizia que a razão é a prostituta do diabo.

           - E Lutero era o senhor racionalista em luta contra dogmas da igreja católica, contra a venda das indulgências e contra os intermediários entre deus e os homens. Na verdade impondo novos dogmas. Lutero era um racional até determinado ponto. O seu limite era os limites da fé. Entre a fé e a razão, ele ficava com a fé. A razão se questionadora transformava-se em um demônio ou, em suas palavras, nem chegava a ser um demônio, era pior. Era a puta do diabo.

           - Nossa diaba é a puta do diabo.

          Adalberto ouviu as duas amigas. Elas conversavam na sala ao lado da seu escritório e ele as ouviu, sem que fosse visto.

          Esta hipótese levantada por elas martelou sua cabeça o dia inteiro, porque entre  “as tantas” mulheres com quem viveu, ele havia vivido com uma feiticeira ou com o próprio diabo travestido de mulher ou com o diabo-queen.    

          “Não é possível. Ela era uma mulher genial, com quem nunca deixei de ter relações profundas, amigas, respeitosas e de intensa compreensão”.

         “Ela sempre foi uma mulher muito bonita e boa, sempre equilibrada, até mesmo muito mais equilibrada do que eu - o que não é vantagem. Entre as muitas qualidades que sempre me atraíram nela, havia uma que se destacava: sua capacidade de ser surpreendentemente bela e o que também me atraía muito era um resgate, permanente, de um amor maior, mais forte e que me marcara muito na juventude. O que eu quis dizer com surpreendentemente bela? Vou explicar. Uma mulher que é bela, é bela naturalmente. Uma mulher que te surpreende com a beleza é uma mulher que cria a beleza nela, que traz a beleza para ela. É a beleza que vem com um momento, um gesto, uma roupa, um cheiro, uma surpresa”.

          “Para que se tenha uma ideia disto: havia em seu quarto um retrato, a foto do rosto dela. Só que era o rosto de Maria, foto produzida com a técnica da sépia, com versos que exaltavam o papel da mulher. Só que esta era a foto dela e era também Maria. A Maria que eu trazia na minha memória, em meus sonhos, que eu perseguia. A Maria que me fez poeta, romântico e que me fez homem”.

          “O jogo dela comigo, se existia jogo, sempre foi um jogo extremamente limpo e no jogo, em que a sedução é também um jogo, as regras jamais são reveladas antes. Ela jamais forçou a barra e nunca escondeu de mim suas atividades e nunca se recusava a responder às minhas perguntas de neófito e curioso. Conversava sobre o seu mundo - o outro mundo - como se eu fosse um seu, um ser que lhe pertencia, parte dela - às vezes isto me arrepiava.

         Assustado mudava de assunto, sem que ela desse mostras de estar incomodada. Mudava o assunto, sem qualquer dificuldade e rapidamente.  

        "Ela era uma feiticeira”.




II



        “Ela poderia ter feito algo contra mim? É incrível, mas eu não acredito. Eu duvido. Sei que se ela viesse a fazer algo, seria sempre ações que me fariam sempre uma pessoa feliz. (???) Ela gosta muito de mim, eu sei disso, e eu gosto muito dela, eu tenho certeza total disto. Eu a respeito muito e ela é uma pessoa, sempre foi, extremamente boa e ainda é uma mulher que me atrai - em assim sendo não posso me aproximar muito dela. É chegar junto e atracar”.

          “Ela sempre pensou em mim positivamente, preocupada comigo e com o que ela considera o meu ser. Ela fala de inúmeros passados e de tempos complexos para a minha compreensão, como inveterado bom ouvinte, ouço-a e fantasio muito mais ainda as suas fantasias, voo por todas aquelas terras e cidades, no tempo e no espaço”.

         “Um dia, voltando de Praga, na Tchecolosváquia, em que eu ansioso gostaria de ouvi-la falar da terra de Kafka - enquanto ela esteve lá reli O Castelo, O processo e os contos - ela passou rápida nas descrições que me importavam e foi direto: segundo ela, em Praga, confirmara algumas de suas suspeitas sobre nós dois e lá ela recuperara parte importante de sua memória, que era a memória dela e minha. Com a certeza fundamentada de que nós dois sempre estivemos juntos há bilhões de anos. Ela é paciente”.

         “Ela não está e nem nunca esteve preocupada com este momento em que vivemos e muito menos com as outras pessoas que povoam a minha vida. Ao contrário, ela fica profundamente triste e preocupada quando eu faço ou deixo alguém sofrer. É verdadeira a sua preocupação. Ela toma medidas práticas, concretas, para me ajudar a sanar qualquer dano psíquico ou outro que eu provoque por minha ações inconsequentes - que no relacionamento amoroso sempre podem ocorrer ou sempre ocorrem”. 

         “Como uma mulher destas, mesmo sendo uma feiticeira, poderia fazer algo que me prejudicasse ou contra mim ou que me viesse a possibilitar uma felicidade que não fosse uma felicidade imaginada, sonhada, pedida e vivida por mim? Ela jamais faria qualquer coisa que me prejudicasse. Tenho certeza disto. Nem faria nada que viesse a definir a minha volta ou permanência junto dela”.

         “Não sei e nunca soube dela fazendo mal a alguém. Também nunca fui fundo nas coisas dela, em seu ambiente e em suas atividades de feiticeira. Muito ela me conta ou diz o que posso compreender. Jamais escondeu qualquer coisa. Como eu não acredito, ouço, comento e não especulo além daquilo que não vá deixá-la desrespeitada. Ouço”.

          “Ela sabe da minha descrença, da minha ignorância e das minhas inquietações. Ela tem o seu deus, seu demônio ou seja lá o que for. Eu não tenho nada, não acredito em nada. O que houve? Houve apenas um tempo, um tempo em que nos amamos e ainda conservamos uma grande amizade, um grande carinho”.








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