De olho
nos olhos dela
Rufino Fialho Filho
Já na 040, saindo de Sete Lagoas para BH, o pequeno E percebe que não
seguiam para a casa deles.
- Por que não vamos para casa?
A mãe responde
- Nós não passamos lá porque nós estamos mudando de Sete Lagoas para
Belo Horizonte. Você não viu, meu filho, que tiramos todos os móveis, que
tiramos de lá todas as nossas coisas? Levamos tudo para a casa de seu avô Tataft.
O pequeno E insistiu
- Eu quero ir para a minha casa porque papai está lá.
- Filhinho, mamãe já te falou que papai morreu. Papai acabou. Ele não
existe mais. Ele nunca mais vai voltar para nós. Agora, a gente só pode sentir
saudades dele.
Silêncio
- Eu quero papai, mamãe.
O pequeno E chorou. Seu Tataft, o avô e o motorista apontaram para um
cavalo que corria no campo.
- Parece com o Mulambo, o cavalo Mangalarga do seu avô.
Depois, o motorista chamou a atenção do pequeno E para o caminhão da
Cerâmica São Sebastião que eles ultrapassariam.
- Quem dirige é o Zeca da Priscila.
As lágrimas pararam e o pequeno E dormiu.
À noite, depois de uma crise nervosa e de chorar muito, o choro
contagiou a mãe e os avós.
Ele parou de chorar e disse que se eles parassem, ele não mais
choraria.
Fizeram a combinação.
- É um acordo de gente grande.
Seu Tataft, o avô, saiu do quarto. Não aguentava conter o choro.
- Mãe, quando a gente sentir uma saudade doendo, nós dois podemos
chorar juntos, tá?
A mãe aceitou este novo acordo e avisou que, na manhã seguinte,
haveria uma missa para o papai e que os dois rezariam para ele.
“Todos nós vamos rezar”.
- Se a gente rezar muito, papai volta?
- Não, meu filho. Seu pai nunca mais voltará. Tudo acabou. Mas o que
nós sentimos de saudade e de dor nós poderemos dizer nas orações.
Na missa, o pequeno E vigiou a mãe para não deixá-la chorar.
Em vários momentos da missa, o pequeno E pedia para que a mãe rezasse.
Ela não conseguia parar de chorar.
- Reza, mãe!
- Reza, mãe!
De olho nos olhos dela.
- Reza, mãe!