Um bravo
Rufino Fialho Filho
Cauê,
um fila, jovem, bravo, faminto. Ele avançou duas, três vezes em Helga sempre por
causa de comida. Com ela, Cauê sempre teve uma relação em que ele avançava para
tomar algo. E era comida sempre o que ele queria. Uma vez a arrastou da sala até a cozinha. Ela
sempre se livrava com um pedaço de pão.
Nesta relação agressiva, Cauê mordia barriga, seios e braços dela, deixando marcas.
Uma vez, Helga teve que ir para o hospital, onde ficou claro que ela correra risco de vida. A mordida no braço por poucos milímetros não atingira a veia.
Com
o tempo, Cauê mudou. Já é um animal integrado com as três pessoas da casa.
Duas
pessoas sempre presentes, Helga e eu, na relação direta de alimentá-lo. Hilda,
cujo trabalho, a afastava da casa por dias e semanas inteiras.
Com
ela, Cauê reconstituía a memória rapidamente, porque o carinho e a atenção
vinham sempre acompanhadas de um pedaço de pão.
Cauê
percebia a minha chegada, identificava o cheiro, o som e algum outro indício.
Isolado
na parte de trás da casa, a mais de 50 metros de distância e a qualquer hora do
dia, mesmo com o intenso movimento da rua, ele identificava a minha chegada.
Só
parava de se manifestar depois que eu gritasse o seu nome.
Depois
chorava. Só parava após nós nos encontrarmos ou nos vermos. O seu olhar para
mim era intenso e eu admirava sua força e rapidez.
Ele
me obedecia. Nem sempre.
Ontem, sexta-feira, Helga ligou dizendo que Fernando Coelho chegara para levar Cauê.
Iria tomar conta de um sítio.
Seu
Fernando queria um cão bravo para substituir um outro que havia morrido.
Cauê
ficaria preso a um arame até se acostumar com as pessoas da casa em Santo
Antônio do Monte.
“Ele deixou que eu colocasse a focinheira.
Apenas, chorou”.