sábado, 23 de outubro de 2021

FOME & CARINHO

 

 




 



Um bravo 


Rufino Fialho Filho



Cauê, um fila, jovem, bravo, faminto. Ele avançou duas, três vezes em Helga sempre por causa de comida. Com ela, Cauê sempre teve uma relação em que ele avançava para tomar algo. E era comida sempre o que ele queria. Uma vez a arrastou da sala até a cozinha. Ela sempre se livrava com um pedaço de pão.

 

 

Nesta relação agressiva, Cauê mordia barriga, seios e braços dela, deixando marcas. 


Uma vez, Helga teve que ir para o hospital, onde ficou claro que ela correra risco de vida. A mordida no braço por poucos milímetros não atingira a veia.

 

 

Com o tempo, Cauê mudou. Já é um animal integrado com as três pessoas da casa.

 

 

Duas pessoas sempre presentes, Helga e eu, na relação direta de alimentá-lo. Hilda, cujo trabalho, a afastava da casa por dias e semanas inteiras.

 

 

Com ela, Cauê reconstituía a memória rapidamente, porque o carinho e a atenção vinham sempre acompanhadas de um pedaço de pão.

 

 

Cauê percebia a minha chegada, identificava o cheiro, o som e algum outro indício.

 

 

Isolado na parte de trás da casa, a mais de 50 metros de distância e a qualquer hora do dia, mesmo com o intenso movimento da rua, ele identificava a minha chegada.

 

 

Só parava de se manifestar depois que eu gritasse o seu nome.

 

 

Depois chorava. Só parava após nós nos encontrarmos ou nos vermos. O seu olhar para mim era intenso e eu admirava sua força e rapidez.

 

 

Ele me obedecia. Nem sempre.

 

 

Ontem, sexta-feira, Helga ligou dizendo que Fernando Coelho chegara para levar Cauê. 


Iria tomar conta de um sítio.

 

 

Seu Fernando queria um cão bravo para substituir um outro que havia morrido.

 

 

Cauê ficaria preso a um arame até se acostumar com as pessoas da casa em Santo Antônio do Monte.

 

 

“Ele deixou que eu colocasse a focinheira. 

Apenas, chorou”.