Uma palavra vazia
Magrace
Simão
Terminei a crônica passada citando Manoel de Barros. Repito-a: “A
palavra (amor) anda vazia. Não tem gente dentro dela.” E parei de falar sobre o
assunto, quando se inicia o século XX. E no decorrer dele sinto que o poeta tem
razão. E o esvaziamento veio devagarinho. Quando chegamos à década de 60, Eva
oferece de novo a maçã do amor para Adão. A pílula anticoncepcional abre todas
as portas para o prazer e enganosamente para o amor.
Enganosamente? Será?
Citei no início da crônica passada, a busca científica do amor no
cérebro humano. Indaguei também se o sexo é feito para preservar o ser humanos,
com a prole garantida, ou se para a prática do amor. Os mesmos questionamento
feitos pelos neuro-cientistas. E a busca se o desejo sexual realizado levaria
ao amor ou vice-versa.
Lembro-me de um grande amor aos 13 anos, quando líamos Gustavo Corção,
maravilhados com sua frase:
“Amar não é olhar um para o
outro, mas olharem juntos para a mesma direção”.
Só que, um dia no clube vi o seu pé. Acabou ali todo o amor. E o cérebro
funcionou como nessa hora? Com o fim do desejo sexual, o amor também se foi?
Por outro lado, como funcionaria meu cérebro na minha relação com meu
irmão Arlen, que foi a pessoa a quem mais amei na vida? E nunca, em nenhuma
momento, houve qualquer tipo de atração sexual? Afinal não sou cientista. E
estou aqui de frente para o laptop, para falar do amor, como uma reles mortal,
que foi fortemente atingida por ele algumas vezes, antes de estar amadurecida
para efetivamente AMAR.
Bem, aí o Adão comeu a maçã enfeitiçada por Eva. Lembro-me de que, uma
certa senhora de Uberlândia não podia entrar no Clube porque não era
legitimamente casada. Que é isso gente? O divórcio hoje ficou banalizado. Basta
ir ao cartório e pedi-lo. Ninguém estranha se fulano é casado com uma sicrana
divorciada ou vice-vera. E outra mudança aparece no contexto: os filhos de um e
outro passam a conviver como irmãos, e pais e mães sendo pais e mães dos filhos
de um e de outro. Pressupõe-se haver amor? É claro que sim, como uma família
“normal”. Ou até a odiarem-se, também como uma família “normal”.
Eu não tenho a mínima idEia de como são feitos os casamentos atualmente.
Lembro-me do padre ou Juiz dizendo alguma coisa como “até que a morte os
separe”. Como a TV reflete a realidade, numa novela outro dia, não havia tal
declaração. Por quê? Mais simples impossível. Muitos casais separam-se antes
mesmo de completarem 10 anos de união. E parece-me que o tempo vem até
diminuindo.
Pelo meu olhar de hoje, vejo que na maioria das vezes, o que motiva os
jovens a ficarem juntos é a paixão. Eles se casam. Aí começa o cotidiano. E aí
começa a atuar o quebra nozes, mostrando o que tem de podre em sua ameixa
interna, tão bem escondida, nos 2 meses de namoro antes do casamento.
Eu grito aos 4 ventos: não quero ser amada pelas minhas qualidades;
quero ser amada APESAR dos meus defeitos. Defeitos declarados.
Outra questão dos filósofos é quem entra onde: se o homem é que ocupa o
amor ou se o amor é que ocupa o homem.
Deixo a questão para os antigos sábios gregos. Da minha parte, o que
posso dizer é que fui aprendendo o que é o amor, maduro, forte, sem arrogância,
depois que adquiri o HIV.
Os meus AMADOS irmãos de Brasília, Selma e Murilo, foram me cuidando dia
após dia, com paciência e carinho diante da confusão que eu aprontava,
misturando remédios com bebida, indo ao coma, quase colocando fogo na casa etc.
Foi com eles que aprendi o que é amar efetivamente.
Não são irmãos de sangue. Até porque o sangue seca. Eu tenho com eles
uma relação de irmandade num plano talvez espiritual, transcendental. Não sei.
Mas garanto, que é uma amor baseado na VERDADE, que é o verdadeiro sustentáculo
de todo AMOR. Para mim. Já perdi amizade justamente por ter exercido minha
Verdade, ironicamente com AMOR
É, o mundo está mudando rápido demais. O ser humano também acompanha
essa mudança. Nossos sentimentos também se alteram. E o amor não está a salvo
de transformações. De como ele se manifesta, em qual tempo, por quanto tempo. E
vai sendo coisificado. Um anúncio de TV mostra o homem tirando o braço do
entorno da namorada e literalmente abraçando as cervejas.
Será que o amor evaporará? Pode até ser, né? Vai se manifestar nos
computadores? Nem os cientistas podem dar essa resposta hoje. O amor vai ficar
confinado a uma célula do cérebro? Na mesma do desejo sexual? Quanto
palavrório! Não sei e nem pretendo buscar alguma resposta. Bastam-me os amores
que tenho atualmente. São poucos, isso são. Mas estou plena, cheia de AMOR. E
com Verdade. E de VERDADE!
Não sei o motivo, mas estou contrariada com o que escrevi. Não me
satisfez nenhum pouco. Mas quem manda ser arrogante e pretensiosa com um tema
tão vasto e que bem cuidado é o maior benefício que temos, enquanto estamos
vivos. Depois de mortos não adianta nada tentar recuperar alguém através das
lágrimas e das frases aparentemente amorosas. Aí, já era. Acho até que já
disse: quando eu morrer, lembrem-se de mim de forma íntegra, com minhas
qualidades e com meus defeitos.
Postado por
MaGrace Simão em 26/07/2012 - 17h27