quarta-feira, 31 de agosto de 2022

AMOR, SEGUNDO MAGRACE

 





Amor

Das mulheres secundárias ao  amor romântico

Magrace Simão

Há alguns anos, quando a palavra AMOR aparecia, pensava-se que se tratava de uma relação entre homem e mulher. Acrescia-se depois o amor dos parentes. Amigos eram apenas estimados.

Hoje as coisas andam bem diferentes. Procurando na minha papelada o que eu pudesse ter anotado sobre o assunto, no decorrer do tempo, achei uma anotação em que eu indagava: quando será que os cientistas descobrirão em que área do cérebro atua o amor. Sim, porque tudo, absolutamente tudo que nos ocorre está sob o comando desse ser misterioso: o cérebro.

Bom, comecei pensando sobre a relação homem/mulher nos tempos primórdios. O homem, ainda animal, saía à caça. A mulher ficava cuidando da prole. Eu sei, seu sei. Não sou antropóloga nem arqueóloga, mas não resisto à tentação de uma reflexão pessoal. Errônea talvez, mas é minha. E de volta “ao lar” da época, levava a caça. A mulher preparava a comida. E de repente ele sentia desejo sexual por ela. Seria esse o instinto de sobrevivência do homem, gerando um filho? Ou o que o levava ao ato seria o irresistível prazer?

No que se refere ao animal, também vale a mesma indagação. E a gente sequer imagina que o dinossauro está mantendo relações sexuais com a dinossaura, por amor. Nem mesmo nosso cachorrinho doméstico faria isso por amor. Só conheci um que o fez: o Nankim, dos meus irmãos de Brasília, Selma e Murilo, trepava na minha Kissy, o dia inteiro, mesmo não estando ela no cio. Para mim era amor.

Para mim.

Caminhando mais para perto da civilização, não encontramos no Antigo Testamento da Bíblia, nenhuma história de amor. E olha que os homens, mesmos os que eram tidos como santos, tinham suas mulheres secundárias. Não eram poucas. Prá lá de vinte, trinta. As esposas geravam os filhos. Talvez as secundárias também, mas reconhecidos apenas os oficiais.

Consta inclusive, que no mundo árabe até há pouco tempo, as relações amorosas e sexuais se davam entre amigos. Os homens saíam para o bar, ou seja como for, que fossem chamados esses locais, onde aí sim com os amigos desfrutavam o prazer da conversa e depois do sexo. A mulher, só para procriar. Com orgasmo dele, é claro!

Só pela procriação, ninguém faria sexo com ninguém. Tinha que haver o prazer para que o ato ocorresse.

E de repente, estamos na Grécia. Os filósofos, os grandes, que procuraram pelo sentido de tudo, também procuraram o do amor. Em um banquete, como relata Platão, estão vários e entre eles, como não podia faltar, está Sócrates. Tecendo loas ao amor, ele conta como aprendeu, o significado desse sentimento, que é um espírito situado entre o divino e o mortal. São páginas e páginas da fala de Sócrates. Antes dele falou Aristófanes, que no banquete deixou seu humor de lado e lembrou como Zeus separou os sexos que eram em número de três: o masculino um rebento do Sol; o feminino, um da Terra e o comum-de-dois da Lua que também é comum-de-dois. Eram fortes e para enfraquecê-los Zeus cortou-os em dois. Depois acontecia que se um macho encontrasse a fêmea ocorreria a gestação “e a espécie se conservava.....se encontrassem macho com macho, da união resultaria ao menos a satisfação e, aquietados, se entregariam ao trabalho”.

É Aristófanes quem diz. E ele ainda acrescenta que cada um é uma meia-senha em demanda da meia-senha correspondente. E cita também o surgimento de andróginos e lésbicas. Literalmente. Deve ser daí que surgiu a cara-metade, procurando a outra metade, ou ainda a alma gêmea. Coisas da filosofia. Nem na Grécia dos filósofos tem uma bela história de amor entre homens e mulheres. Entre eles, no entanto....

Mais próximo ainda da civilização apareceram os românticos, os eternos apaixonados, que morreram de tanto amar. Na verdade, todo esse amor floresceu na época da tuberculose, a verdadeira causa dessas mortes. Daí a expressão “morrer de amor”. E mesmo já estando no século XIX, a formação familiar, ainda permanece com os sinais dos primórdios tempos: o homem saia para trabalhar,para prover a casa, e a mulher ficava sem qualquer contestação, em casa, preparando a comida, cuidando dos filhos e abrindo as pernas à noite, para o marido “procriar”.

Para entrar no século XX, termino aqui, citando o poeta Manoel de Barros:

“A palavra (amor) anda vazia. Não tem gente dentro dela.”

Na próxima semana, quem quiser me acompanhar, falarei um pouquinho mais, das minhas impressões pessoais sobre a quantas anda o sentimento AMOR. A dor nos pés, causadas pela polineurite periférica, por sua vez provocada pelo coquetel anti-HIV, forçam-me a parar.

Inté!

Postado por MaGrace Simão em 12/07/2012 - 17h11