Amor
Das mulheres secundárias ao amor
romântico
Magrace
Simão
Há alguns anos, quando a palavra AMOR aparecia, pensava-se que se
tratava de uma relação entre homem e mulher. Acrescia-se depois o amor dos
parentes. Amigos eram apenas estimados.
Hoje as coisas andam bem diferentes. Procurando na minha papelada o que
eu pudesse ter anotado sobre o assunto, no decorrer do tempo, achei uma
anotação em que eu indagava: quando será que os cientistas descobrirão em que
área do cérebro atua o amor. Sim, porque tudo, absolutamente tudo que nos
ocorre está sob o comando desse ser misterioso: o cérebro.
Bom, comecei pensando sobre a relação homem/mulher nos tempos
primórdios. O homem, ainda animal, saía à caça. A mulher ficava cuidando da
prole. Eu sei, seu sei. Não sou antropóloga nem arqueóloga, mas não resisto à
tentação de uma reflexão pessoal. Errônea talvez, mas é minha. E de volta “ao
lar” da época, levava a caça. A mulher preparava a comida. E de repente ele
sentia desejo sexual por ela. Seria esse o instinto de sobrevivência do homem,
gerando um filho? Ou o que o levava ao ato seria o irresistível prazer?
No que se refere ao animal, também vale a mesma indagação. E a gente
sequer imagina que o dinossauro está mantendo relações sexuais com a
dinossaura, por amor. Nem mesmo nosso cachorrinho doméstico faria isso por
amor. Só conheci um que o fez: o Nankim, dos meus irmãos de Brasília, Selma e
Murilo, trepava na minha Kissy, o dia inteiro, mesmo não estando ela no cio.
Para mim era amor.
Para mim.
Caminhando mais para perto da civilização, não encontramos no Antigo
Testamento da Bíblia, nenhuma história de amor. E olha que os homens, mesmos os
que eram tidos como santos, tinham suas mulheres secundárias. Não eram poucas.
Prá lá de vinte, trinta. As esposas geravam os filhos. Talvez as secundárias
também, mas reconhecidos apenas os oficiais.
Consta inclusive, que no mundo árabe até há pouco tempo, as relações
amorosas e sexuais se davam entre amigos. Os homens saíam para o bar, ou seja
como for, que fossem chamados esses locais, onde aí sim com os amigos
desfrutavam o prazer da conversa e depois do sexo. A mulher, só para procriar.
Com orgasmo dele, é claro!
Só pela procriação, ninguém faria sexo com ninguém. Tinha que haver o
prazer para que o ato ocorresse.
E de repente, estamos na Grécia. Os filósofos, os grandes, que
procuraram pelo sentido de tudo, também procuraram o do amor. Em um banquete,
como relata Platão, estão vários e entre eles, como não podia faltar, está
Sócrates. Tecendo loas ao amor, ele conta como aprendeu, o significado desse
sentimento, que é um espírito situado entre o divino e o mortal. São páginas e
páginas da fala de Sócrates. Antes dele falou Aristófanes, que no banquete
deixou seu humor de lado e lembrou como Zeus separou os sexos que eram em
número de três: o masculino um rebento do Sol; o feminino, um da Terra e o
comum-de-dois da Lua que também é comum-de-dois. Eram fortes e para
enfraquecê-los Zeus cortou-os em dois. Depois acontecia que se um macho
encontrasse a fêmea ocorreria a gestação “e a espécie se conservava.....se
encontrassem macho com macho, da união resultaria ao menos a satisfação e,
aquietados, se entregariam ao trabalho”.
É Aristófanes quem diz. E ele ainda acrescenta que cada um é uma
meia-senha em demanda da meia-senha correspondente. E cita também o surgimento
de andróginos e lésbicas. Literalmente. Deve ser daí que surgiu a cara-metade,
procurando a outra metade, ou ainda a alma gêmea. Coisas da filosofia. Nem na
Grécia dos filósofos tem uma bela história de amor entre homens e mulheres.
Entre eles, no entanto....
Mais próximo ainda da civilização apareceram os românticos, os eternos
apaixonados, que morreram de tanto amar. Na verdade, todo esse amor floresceu
na época da tuberculose, a verdadeira causa dessas mortes. Daí a expressão
“morrer de amor”. E mesmo já estando no século XIX, a formação familiar, ainda
permanece com os sinais dos primórdios tempos: o homem saia para trabalhar,para
prover a casa, e a mulher ficava sem qualquer contestação, em casa, preparando
a comida, cuidando dos filhos e abrindo as pernas à noite, para o marido
“procriar”.
Para entrar no século XX, termino aqui, citando o poeta Manoel de
Barros:
“A palavra (amor) anda vazia. Não
tem gente dentro dela.”
Na próxima semana, quem quiser me acompanhar, falarei um pouquinho mais,
das minhas impressões pessoais sobre a quantas anda o sentimento AMOR. A dor
nos pés, causadas pela polineurite periférica, por sua vez provocada pelo
coquetel anti-HIV, forçam-me a parar.
Inté!
Postado por
MaGrace Simão em 12/07/2012 - 17h11