quinta-feira, 27 de outubro de 2022

A FUGA POSSÍVEL

 






A sensação de prisão

 

Rufino Fialho Filho

 

 

Adalberto pensa:

 

Não posso nunca mais ter a sensação de prisão.

 

É percebê-la, é tê-la e, imediatamente, planejo a fuga ou simplesmente saio, procuro grandes espaços, o ar puro.

 

A fuga é uma exigência, uma essencialidade como de ar para respirar. Não me permito nunca mais ficar preso. Onde eu estiver serei sempre um homem livre. Onde eu estiver está a liberdade.

 

Onde a sensação de prisão?

 

No amor. Em casa. No trabalho. Até na família. Junto com amigos. Em todo lugar e ocasião, a qualquer momento, ela pode surpreendê-lo. É o sinal. É a hora da fuga. É a hora de escapar. É o seu último minuto: ou escapa ou permanecerá preso. É a liberdade ou a prisão. E a pior prisão é aquela em que o carcereiro é você mesmo.

 

Onde pude identificar, pela primeira vez, este sentimento, esta sensação? Pelo paradoxo. Na prisão e em um determinado momento de busca da liberdade, da fuga impossível, quando se percebe que até na prisão se pode encontrara liberdade, a ilusão da liberdade, uma liberdade dentro da imaginação. É o paradoxo que esclarece, que põe tudo em pratos limpos, a verdade nítida.

 

A liberdade é também um sentimento.

 

A prisão também.

 

Um paradoxo claro e explicável, apenas explicável, da ilusão real, da sublimação porque o real é inaceitável, onde a prisão é um fato concreto, são grades, portas, portões, corredores, pátios, muros, guaritas, vigilâncias, horários, conferências, revistas, rotina, redução de espaço vital.

 

Ela, a mulher que ama, chama de masmorra mental, a prisão que ela detecta.

 

Seria a prisão em que eu vivo ou ela já percebeu que é o sentimento de prisão que muitas vezes me afasta dela mesma, não que com ela a vida seja tão pobre quanto a vida que aponto por mim vivida.

 

Ela sacou este sentimento que trago comigo e se desvestiu dele jogando longe a sensação, uma sensação horrível, voluptuosa, que massacra ao exigir uma permanente liberdade, uma sempre audaciosa fuga.

 

Ela é perspicaz, ela sacou: a prisão está em minha mente:

 

Você construiu mentalmente sua própria prisão”

 

- O que é,  meu caro, é que você não percebeu ainda a realidade?  

 

O seu corpo saiu da prisão. Sua alma, seu emocional, não.  Você está preso dentro de uma situação. Vive um círculo vicioso. Vive uma vida pobre, sem qualidade, mas se recusa obstinadamente a sair disso. Jura a si mesmo que está ótimo.

 

Ela insiste: 

 

- Você construiu mentalmente sua própria prisão.   Se não acordar rapidamente apodrecerá nessa masmorra mental.